Importância da inspeção de pulverizadores

Para verificar correto funcionamento e utilização da máquinas nos processos de aplicação tem-se desenvolvido métodos de avaliação da qualidade dos equipamentos

15.06.2020 | 20:59 (UTC -3)

Programa de Inspeção Técnica de Pulverizadores, iniciado em 2008, constata oito anos depois da primeira inspeção que pouco ou nada melhorou no estado das máquinas avaliadas.

Ainda que a eficácia dos defensivos oferecidos atualmente seja grande, a deposição destes produtos pelos meios e formas de aplicação utilizadas é ineficiente, pois muitas vezes não se utiliza a melhor técnica ou o melhor equipamento de aplicação.

O uso de pulverizadores agrícolas mal regulados, com pontas de pulverização inadequadas ou desgastadas, e o uso de doses excessivas de defensivos são alguns dos fatores que contribuem para a ineficiência das aplicações e impacto sobre o meio ambiente. Os pulverizadores agrícolas são equipamentos que devem estar sempre em boas condições de uso para que se evitem problemas de contaminação ambiental e intoxicação dos trabalhadores envolvidos na operação. Uma das saídas para evitar estes problemas consiste em se fazer uma adequada revisão, manutenção e calibração destes equipamentos durante o período da sua utilização.

Para verificar o correto funcionamento e utilização dos pulverizadores nos processos de aplicação dos defensivos tem-se desenvolvido métodos de avaliação da qualidade destes equipamentos. Uma saída encontrada tem sido a inspeção periódica destas máquinas. Vários agentes envolvidos em pesquisa e extensão têm desenvolvido métodos de inspeção periódica, alguns com metodologia particular e outros tendendo a uma uniformização de procedimentos.

A implantação da metodologia descrita no conjunto de procedimentos contidos na Norma ISO 16122 para inspeção de pulverizadores agrícolas é uma alternativa promissora no que diz respeito à redução das perdas de defensivos e consequente contaminação ambiental e intoxicação dos agentes envolvidos. O resultado da melhoria e adequação das condições das máquinas é o aumento da eficiência no controle do alvo biológico.

Posicionamento inadequado das mangueiras na barra de pulverização e obstrução do fluxo de calda no sistema hidráulico.
Posicionamento inadequado das mangueiras na barra de pulverização e obstrução do fluxo de calda no sistema hidráulico.
Determinação da vazão das pontas e pressão do sistema utilizando caudalímetro e manômetro digitais.
Determinação da vazão das pontas e pressão do sistema utilizando caudalímetro e manômetro digitais.

Dependendo do país ou da região, as inspeções de pulverizadores agrícolas podem ser realizadas de forma obrigatória ou voluntária, porém, até então havia diferenças nas metodologias utilizadas para avaliação destes pulverizadores. Alguns países desenvolvidos como os que compõem a União Europeia adotaram a normativa EN 13790, que definia o procedimento a ser utilizado nas inspeções, determinando de forma independente o desempenho das partes dos pulverizadores, diagnosticando os itens e separando em categorias os defeitos de cada ponto avaliado.

Sendo assim, após a publicação da Normativa Europeia de Uso Sustentável de Pesticidas criou-se a nova série de normas internacionais ISO 16122, tendo por objetivo uniformizar a metodologia utilizada para inspeção de pulverizadores em âmbito mundial. Com isso, os diferentes organismos responsáveis pelos Estados membros da União Europeia credenciaram órgãos para a certificação de equipamentos de pulverização, pois nestes países todos os pulverizadores agrícolas devem ser submetidos a uma criteriosa avaliação. Nesse sentido, dependendo da desconformidade apresentada, o mesmo pode ser reprovado e não mais executar a atividade de pulverização caso apresente falta de segurança ao operador ou risco de contaminação aos seres humanos e ao meio ambiente.

O uso excessivo de defensivos para proteção de plantas, não somente é antieconômico, como também provoca consequências adversas à saúde humana, ao meio ambiente e à agricultura. Para se realizar pulverizações precisas, os pulverizadores devem estar sempre em boas condições de uso, sendo que este fator está relacionado diretamente à sua manutenção. Com a precariedade encontrada nas máquinas agrícolas voltadas para pulverização de defensivos, há necessidade que sejam realizadas avaliações criteriosas nesses equipamentos.

Neste sentido, visando contribuir com a minimização das perdas, diminuir os erros nas aplicações de defensivos e consequentemente reduzir a contaminação ambiental, na região de abrangência da Universidade Federal de Santa Maria, no ano de 2008, o laboratório de Agrotecnologia (Agrotec), ligado ao Núcleo de Ensaios de Máquinas Agrícolas (Nema), implementou o projeto de Inspeção Técnica de Pulverizadores Agrícolas no Rio Grande do Sul, sob coordenação do professor doutor José Fernando Schlosser. Em uma primeira fase a abrangência foi a região da Depressão Central do Rio Grande do Sul. O objetivo deste projeto foi levantar os dados referentes ao estado de uso e conservação dos pulverizadores, orientar agricultores sobre regulagem e calibração dos equipamentos, organizar a metodologia de inspeção e georreferenciar as propriedades para futuros trabalhos. Este trabalho foi conduzido pelo engenheiro agrônomo Marçal Elizandro de Carvalho Dornelles. A primeira etapa deste projeto desenvolveu-se em 16 municípios, totalizando na inspeção de 84 pulverizadores agrícolas em uso na região da Depressão Central. As culturas atendidas pelas máquinas inspecionadas corresponderam a aproximadamente 23,2 mil hectares de área semeada entre soja, arroz, milho e trigo.

Dos 84 pulverizadores avaliados, somente 21,4% apresentaram tempo de utilização de até cinco anos, 25% entre cinco e dez anos de uso, 16,7% entre dez e 15 anos e 36,9% com utilização superior a 15 anos. A máquina mais antiga em operação apresentou 41 anos e a utilização média dos pulverizadores foi de 17,3 anos (Dornelles, 2008).

Ao avaliar o manômetro dos pulverizadores, Dornelles (2008) observou que 20,5% dos pulverizadores não apresentavam este item, 30,1% das máquinas estavam com os manômetros inoperantes e 49,4% possuíam este item em operação, porém somente 19,05% destes, foram aprovados após as avaliações de leitura de pressão, diâmetro externo e nível de glicerina.

Manômetros para determinação da pressão do sistema de pulverização.
Manômetros para determinação da pressão do sistema de pulverização.
Conjunto técnico de inspeção de pulverizadores agrícolas.
Conjunto técnico de inspeção de pulverizadores agrícolas.

Após a inspeção destes 84 pulverizadores, o projeto foi concluído com constatação de que a condição encontrada dos pulverizadores é crítica quanto ao estado de conservação, uma vez que somente quatro pulverizadores foram aprovados ao uso. Os demais avaliados apresentaram uma ou mais desconformidades que necessitaram correção, sendo ainda que 60,71% dos pulverizadores apresentaram desconformidades graves.

Posteriormente, em 2012, realizou-se a segunda etapa do projeto retornando às empresas rurais avaliadas em 2008 e os pulverizadores passaram por outra fase de inspeção, para verificação do seu estado. Esta etapa foi coordenada pelo engenheiro agrônomo André Luis Casali, que além de avaliar os pulverizadores abrangeu os tratores utilizados para acionar os pulverizadores, verificando o estado de utilização. Ainda que se esperassem melhorias significativas nos pulverizadores inspecionados, isto não se confirmou, com exceção daqueles equipamentos novos que substituíram os que foram descartados.

Os resultados mostram que há necessidade de um acompanhamento mais aprofundado aos usuários destes equipamentos na região, que possibilite aos produtores convencerem-se da necessidade de realizar a atividade de pulverização de defensivos de forma correta, com equipamentos adequados e calibrados. Desta forma, poderá haver melhor controle do alvo biológico, menor desperdício de produtos fitossanitários, o que consequentemente irá reduzir o custo da atividade, bem como a contaminação do meio ambiente.

Com o objetivo de dar continuidade às atividades de inspeção de pulverizadores agrícolas, a UFSM, através do Laboratório de Agrotecnologia, está começando a terceira etapa do projeto iniciando a realização de inspeções periódicas com a utilização dos procedimentos previstos na norma ISO 16122. Com este fim, foram adquiridos equipamentos específicos para a aplicação da norma ISO, da empresa belga Innovation Technology Environment Quality (Iteq).

A terceira fase do projeto de inspeção periódica foi denominada Projeto de Inspeção de Pulverizadores Agrícolas (Pipa) e teve início em novembro de 2015. São realizadas visitas em empresas rurais e, quando possível, os pulverizadores são reunidos em locais predeterminados, para avaliação em série. Esta fase do projeto tem por objetivo determinar o estado de uso e conservação dos pulverizadores utilizados no setor primário, avaliando pulverizadores de barra acoplados aos três pontos do trator agrícola, pulverizadores de arrasto e autopropelidos.

A inspeção é realizada mediante autorização do usuário e na presença do operador, sendo que primeiramente é realizada a apresentação da equipe, do projeto e da metodologia a ser utilizada. Para a realização das inspeções, está sendo utilizado o conjunto técnico de inspeção de pulverizadores agrícolas, que foi construído para atender os requisitos da norma ISO 16122. Este equipamento dispõe de dispositivos eletrônicos para determinar a vazão das pontas de pulverização, sensores digitais para calibração, medidores de pressão do sistema e bancada para aferição de manômetros.

Utilização de pontas de pulverização de diferentes marcas e tempo de uso.
Utilização de pontas de pulverização de diferentes marcas e tempo de uso.
Filtros dos bicos com presença de resíduos.
Filtros dos bicos com presença de resíduos.

O sistema utilizado permite o armazenamento dos dados de pressão interna e vazão das pontas de pulverização. Posteriormente, por comunicação via wi-fi com o software Iteq Communication API Sample versão 1.0.2, realiza-se o backup em um computador, formando um banco de informações dos pulverizadores avaliados.

As inspeções são realizadas por meio de avaliações qualitativas e quantitativas. Entre os levantamentos quantitativos são tomadas informações correspondentes ao volume de aplicação real do pulverizador, vazão e condição das pontas, sistema de pressão e vazão da bomba de pulverização, espaçamento entre bicos e aferição do manômetro. Como levantamentos qualitativos estão relacionados às informações sobre proteção da árvore cardânica, presença de vazamentos, resíduos de defensivos, depósito de calda e água limpa, filtros, mangueiras e registros. Desta forma, é levada em consideração a presença, o estado de conservação e uso das partes que compõem os pulverizadores.

Vazamentos nos filtros de seções da barra de pulverização.
Vazamentos nos filtros de seções da barra de pulverização.

O enquadramento em classes de cada pulverizador decorre do seu nível de conformidade aos critérios da Norma ISO 16122 (2015), podendo cada equipamento ser enquadrado em três classes: conformidade total, conformidade parcial e desconforme. Quando classificado em conformidade parcial ou desconforme, é realizado um esclarecimento ao responsável pelo equipamento sobre quais medidas poderão ser tomadas para correção dos pontos negativos constatados. Esta determinação está relacionada ao risco que apresenta ao meio ambiente, ao operador ou influência sobre a eficiência operacional. Depois de inspecionados, os pulverizadores recebem uma identificação de conformidade com seu número de registro e data em que foi realizada a inspeção (Figura 1), possibilitando, assim, o controle em uma base de dados dos equipamentos já inspecionados. Nesta base de dados, consta a identificação do pulverizador, sua marca, data de realização da inspeção, conformidade com a norma ISO e coordenadas geográficas da propriedade. Ao proprietário do equipamento é entregue um relatório técnico, onde constam dados sobre a inspeção, desconformidades observadas e medidas a serem tomadas para sua correção.

Figura 1 - Etiquetas de classificação dos pulverizadores perante a aplicação da Norma ISO 16122.
Figura 1 - Etiquetas de classificação dos pulverizadores perante a aplicação da Norma ISO 16122.
Figura 1 - Etiquetas de classificação dos pulverizadores perante a aplicação da Norma ISO 16122.
Figura 1 - Etiquetas de classificação dos pulverizadores perante a aplicação da Norma ISO 16122.
Figura 1 - Etiquetas de classificação dos pulverizadores perante a aplicação da Norma ISO 16122.
Figura 1 - Etiquetas de classificação dos pulverizadores perante a aplicação da Norma ISO 16122.

Após as atividades de coleta dos dados, estes são tabulados e analisados para que ao finalseja entregue ao representante o relatório da inspeção e a realização da etiquetagem dos pulverizadores conforme sua classificação. O relatório é entregue pelo responsável pela avaliação, e neste consta informações dos pulverizadores, suas conformidades e desconformidades perante a metodologia da Norma ISO 16122. Neste momento, realiza-se troca de informações buscando sanar dúvidas que os proprietários e aplicadores possam ter com relação às suas máquinas e se realiza o agradecimento formal pela disponibilidade de seu tempo e máquina.

Depósito da pulverização em partes estruturais da barra.
Depósito da pulverização em partes estruturais da barra.
Instabilidade da barra de pulverização.
Instabilidade da barra de pulverização.

O desenvolvimento do projeto de inspeção de pulverizadores agrícolas está apresentando boa aceitabilidade pelos produtores rurais, o que comprova a viabilidade das atividades e denota interesse em informar-se sobre a prática adequada.

O conjunto técnico utilizado para inspeção de pulverizadores permite avaliações precisas do processo de pulverização, viabilizando desta forma a condução deste projeto.

Esta terceira fase mostra que há necessidade de dar sequência às inspeções de pulverizadores agrícolas, uma vez que até o presente momento não houve conformidade total de nenhum pulverizador com os critérios adotados pela Norma ISO 16122, possibilitando observar ainda que as condições de uso e conservação dos pulverizadores avaliados são críticas.

Ausência de proteção das partes móveis.
Ausência de proteção das partes móveis.


Alfran Tellechea Martini, José Fernando Schlosser, Marcelo Silveira de Farias, Luis Fernando de Oliveira, Daniela Herzog, Agrotec/Nema - UFSM


Artigo publicado na edição 163 da Cultivar Máquinas.

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