Como evitar perdas com colhedoras
Regular inadequadamente a colheitadeira, colher em condições erradas de velocidade, rotação e umidade da cultura são fatores que influenciam nas perdas da colheita
Passados nove anos desde a detecção da presença do Greening no Brasil, a doença segue a desafiar citricultores e a pesquisa. Diante da impossibilidade de erradicá-la, restam medidas de manejo integradas, adotadas de forma regionalizada e com a soma de esforços e do maior número de ferramentas disponíveis para enfrentar a batalha árdua contra o huanglongbing
Em março de 2013 completou-se nove anos desde que as primeiras plantas com sintomas de greening ou huanglongbing (HLB) foram encontradas no Brasil, na região de Araraquara, São Paulo. Desde então, a incidência da doença tem aumentado em todas as regiões produtoras do estado, apesar da diferença em termos de severidade nas diferentes regiões. No Brasil, além de São Paulo, a doença está presente também no Paraná e em Minas Gerais. Na América do Sul, além do Brasil, recentemente a doença foi constatada na Argentina e no Paraguai.
No Brasil, os sintomas da doença estão associados às bactérias Candidatus Liberibacter americanus e asiaticus. Até 2006 predominou a primeira espécie e a partir desse ano a espécie asiática, a mais agressiva e a que, mais rapidamente é disseminada pelo vetor, o psilídeo Diaphorina citri Kuwayama (Hemiptera: Liviidae). Até recentemente esta espécie pertencia à família Psyllidae, mas atualmente pertence à família Liviidae.
Com relação à situação atual da doença em São Paulo e na região sul do Triângulo Mineiro, o último levantamento realizado pelo Fundecitrus, em 2012, indicou que aproximadamente 64% dos talhões apresentavam pelo menos uma planta com sintomas. Quando comparado com o ano de 2011, o aumento do número de talhões com incidência da doença foi de 20%. Para o número de plantas, o crescimento foi ainda maior. Em 2012 constatou-se que 6,9% das laranjeiras apresentavam sintomas, aumento de 82,8% em relação ao ano de 2011.
Comparando-se as regiões produtoras de cítricos em São Paulo, com inclusão do Triângulo Mineiro na região Norte, observou-se que a incidência é maior na região Leste, com 14,8% das plantas apresentando sintomas. Nessa, o aumento de 2011 para 2012 foi de aproximadamente 107%, sendo, na atualidade, a região mais afetada no Estado. Outra região cuja incidência do greening continua alta é a Central, com 9,89% das laranjeiras com os sintomas da doença. Para as demais regiões, a incidência de plantas sintomáticas é inferior a 2%, sendo em ordem decrescente Norte, Oeste, Sul e Noroeste, com 1,78%; 1,35%; 0,85% e 0,28% de plantas sintomáticas, respectivamente. Os resultados do levantamento indicam que a doença está presente em todas as zonas onde se plantam cítricos, com diferença somente na incidência e severidade. Sempre se refere a plantas sintomáticas, pois, pelas ferramentas que se tem atualmente não é possível identificar as plantas doentes assintomáticas em campo.
A doença é cíclica durante o ano, sendo que os sintomas são mais evidentes no inverno, ou nos períodos mais secos e frios do ano, por isso, mesmo nas propriedades com manejo do greening, o número de plantas erradicadas é maior nessa estação. Apesar da maior incidência do greening no inverno, com maior eliminação de plantas, os sintomas podem ser observados durante todo o ano, e em certos anos, tem ocorrido alta incidência mesmo no verão. Isso provavelmente devido à época de inoculação das bactérias e/ou condições favoráveis à manifestação dos sintomas nessa estação. Portanto, o levantamento tem que ser rotineiro e contínuo durante todo o ano.
Analisando-se os levantamentos realizados desde 2004, pode-se observar que, tanto a incidência de talhões afetados como de plantas sintomáticas têm aumentado de ano para ano. Isso demonstra claramente que o inóculo está cada vez maior e como consequência, tem-se também uma maior taxa de transmissão. Por isso, mesmo naquelas propriedades com manejo intensivo do vetor, o psilídeo D. citri, ainda se constata plantas doentes e sintomáticas. Mesmo com um controle rigoroso, o psilídeo ainda encontra um momento em que a planta ou parte dela está desprotegida e consegue transmitir a bactéria.
Nos pomares, a disseminação da bactéria é realizada pelo psilídeo D. citri, um pequeno inseto sugador da seiva do floema, medindo de 2mm a 3mm de comprimento e que possuem asas transparentes, apresentando manchas escuras. Tanto a fase jovem como a adulta podem adquirir a bactéria ao se alimentar em ramos sintomáticos ou assintomáticos das plantas cítricas e em murta, uma planta ornamental muito difundida no Brasil e no mundo, sendo utilizada como cerca viva em áreas urbanas e até mesmo próximas a pomares A transmissão ocorrerá após um período de latência, que pode variar de uma a duas semanas. Contudo, se as ninfas desenvolverem-se em ramos doentes, ao emergir os adultos já são capazes de transmitir a bactéria. Uma vez que adquirida a bactéria, o adulto mantém sua capacidade de transmissão durante toda a sua vida, pois, assim como nas plantas, as bactérias se reproduzem também no inseto.
Estudos recentes indicam que pode ocorrer transmissão transovariana de Ca. L. asiaticus, isto é, a bactéria pode ser transferida da fêmea para os seus descendentes, porém, a taxa de transmissão é baixa, aproximadamente 3,6%. Outro meio de transmissão é durante o acasalamento, em que os machos infectados podem transmitir a bactérias para fêmeas sadias. Entretanto, essa taxa de transmissão também é baixa, variando de 2,8% a 5,6%.
A aquisição da bactéria ocorre dentro do processo de ingestão da seiva do floema pelo vetor, durante sua alimentação na planta cítrica. Já a inoculação da bactéria se dá durante o processo de salivação que o psilídeo realiza antes de iniciar a ingestão da seiva.
Resultados de pesquisas demonstraram que as plantas doentes e, principalmente, sintomáticas são mais atrativas para os adultos de D. citri. Essa maior atratividade pode estar relacionada à maior produção de certos compostos voláteis, cujo processo é induzido pela bactéria para maior atração e posterior disseminação do patógeno. Portanto, uma das principais estratégias para o manejo da doença é a eliminação das plantas sintomáticas, pois sua permanência no pomar pode favorecer a transmissão de Ca. Liberibacter spp.
O inseto tem o maior crescimento populacional no período de brotação da planta, onde as fêmeas depositam seus ovos, e que favorece um melhor desenvolvimento das fases jovens, as ninfas. No período em que as plantas brotam, as condições climáticas são mais favoráveis ao desenvolvimento do vetor, pois em temperaturas mais elevadas e umidade relativa mais alta, o ciclo de vida se completa mais rapidamente. Contudo, os adultos podem ser observados durante todo o ano no pomar, mesmo quando não há brotações, podendo ainda se alimentar em folhas maduras.
Pela possibilidade de ocorrência do vetor durante todo o ano, o monitoramento deve ser constante, intensificando-o da primavera a meados do outono.
Uma das questões recorrentes sobre o tema é se é possível eliminar a doença dos pomares brasileiros. Essa resposta é relativamente simples, e é não. Devido à disseminação e incidência da doença nos pomares paulista, é inviável a sua erradicação. Mas diminuir a incidência e principalmente os prejuízos causados pelo greening é possível, através de algumas medidas como:
1. Rigor na eliminação de plantas com sintomas – se não houver plantas onde o psilídeo possa se contaminar não haverá transmissão da bactéria. O cumprimento da legislação vigente para o greening (IN Nº 53, de 16 de Outubro de 2008) é primordial para o sucesso do manejo da doença e somente com a adoção da eliminação de plantas será possível a racionalização do uso de inseticidas para controle do vetor.
2. Manejo Regional da doença (manejo em grandes áreas) – como o psilídeo se movimenta muito, o controle do vetor em grandes áreas é uma das alternativas para diminuir essa mobilidade e consequente transmissão das bactérias.
3. Controle rigoroso do inseto vetor – esse tema está atrelado ao rigor na eliminação de plantas sintomáticas, quanto menor a incidência da doença, menores são os esforços em termos de controle do psilídeo. Contudo, o uso de inseticidas para controle do vetor pode auxiliar na diminuição da incidência do greening, mas não é a solução do problema. Com esse uso indiscriminado têm se aumentado a incidência de pragas até então consideradas secundárias. Há uma preocupação crescente em relação a agroquímicos devido a problemas decorrentes de resistência, bem como à possibilidade de contaminação ambiental, humana e eliminação de inimigos naturais, como por exemplo, o parasitoide Tamarixia radiata.
4. Esforços sincronizados e Cooperação –são a base para o sucesso do manejo regional. Para que se tenha sucesso no manejo do psilídeo, o controle deve ser sincronizado e em conjunto entre proprietários vizinhos, com controle realizado ao mesmo tempo.
Contudo, o sucesso do manejo do greening somente será alcançado se houver a junção e a adoção de todas as estratégias possíveis. O controle apenas focado na eliminação do psilídeo, não será suficiente para diminuir a incidência da doença. Além disso, todos os citricultores devem eliminar as plantas sintomáticas nas propriedades a fim de se diminuir a transmissão das bactérias associadas ao greening.
Pedro Takao Yamamoto, Gustavo Rodrigues Alves, Vitor Hugo Beloti, Departamento de Entomologia e Acarologia, Esalq/Usp
Artigo publicado na edição 79 da Cultivar Hortaliças e Frutas
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