Septoriose no tomate: doença expressiva

Com potencial para levar plantas à morte e resultar em perdas de até 100% da produção, em determinadas regiões ou épocas de cultivo, a septoriose tem crescido em áreas de tomate estaqueado, industrial

23.06.2016 | 20:59 (UTC -3)

No tomateiro ocorre uma série de doenças capazes de reduzir significativamente a produtividade e a qualidade dos frutos, seja por danos diretos ou indiretos causados pelos patógenos. Dentre as doenças de maior preocupação entre os produtores tem-se a septoriose ou mancha-de-septória, que nos últimos anos tem aumentado nas lavouras de tomate envarado ou estaqueado para mesa e em lavouras de tomate industrial em todo o país.

A doença é causada pelo fungo Septoria lycopersici Spegazzini e ocorre praticamente em todas as regiões produtoras de tomate do mundo, sendo mais comum em épocas quentes e chuvosas. O patógeno causa severa desfolha das plantas, reduzindo de forma significativa a produtividade e a qualidade dos frutos, tanto pela redução da área fotossintética da planta como pela exposição dos frutos ao sol, o que diminui a coloração dos frutos, muito valorizada pelas indústrias de processamento de tomate. Em algumas regiões ou épocas de cultivo as perdas devido à doença podem chegar a 100% da produção, devido à morte das plantas.

Sintomas

A septoriose pode ocorrer em qualquer fase de desenvolvimento do tomateiro, mas os sintomas normalmente aparecem nas folhas baixeiras logo após o início da frutificação. Os sintomas ocorrem principalmente nas folhas, mas também podem aparecer em pecíolos, caule e flores da planta, raramente nos frutos. Inicialmente surgem na face inferior das folhas na forma de pequenas manchas encharcadas de formato mais ou menos circular a elíptico, medindo de 2mm a 3mm de diâmetro. À medida que a doença se desenvolve, as lesões adquirem coloração marrom-acinzentada no centro com bordas escurecidas e halo amarelado estreito ao redor, podendo atingir ate 5mm de diâmetro.

Figura 1 - Sintomas da septoriose em tomateiro. Lesões típicas circundadas por halo amarelado e queima das folhas baixeiras

Em ataques severos as lesões coalescem, as folhas amarelecem, secam e caem. As lesões localizadas nos pecíolos e caule são escuras e sem a presença de halo amarelado. Com o passar do tempo a doença pode progredir de forma ascendente na planta, iniciando nas folhas baixeiras em direção às folhas mais novas na parte superior, causando severa desfolha da planta. Lesões novas causadas por Septoria lycopersici podem ser confundidas com as de outras doenças como a mancha bacteriana (Xanthomonas spp.) e a pinta preta (Alternaria spp.), o que dificulta sua identificação. Os frutos produzidos em plantas severamente desfolhadas apresentam tamanho reduzido e queimadura em razão da exposição direta aos raios solares.

Figura 2 - Plantas de tomateiro severamente atacadas pela septoriose com desfolha acentuada (queima da saia)

As lesões nas folhas são formadas, em média, seis dias após a infecção. De dez a 14 dias após a infecção, podem ser visualizados pequenos pontos pretos no centro das lesões, que correspondem às estruturas reprodutivas do patógeno, conhecidos como picnídios. A presença de picnídios no centro das lesões é uma característica marcante para a identificação da septoriose em tomateiro. Em condições de alta umidade relativa, são formadas conidióforas (estruturas reprodutivas) e conídios (esporos) do fungo no interior dos picnídios. Na presença de umidade, os picnídios do fungo absorvem água e formam uma massa mucilaginosa de conídios (cirros), que são liberados e disseminados para a formação de novas lesões.

Figura 3 - Identificação da septoriose mediante a visualização de pequenos pontos pretos no centro das lesões (picnídios) (A), onde são produzidos os conídios do patógeno (B)

Epidemiologia

Embora o patógeno não seja um habitante do solo, pode persistir de uma estação de cultivo para outra em restos de cultura de plantas doentes, associado a outras solanáceas como batata e berinjela ou a plantas daninhas hospedeiras como Solanum carolinense L. (urtiga-de-cavalo), Solanum nigrum L. (erva-moura) e Datura stramonium L. (estramônio), além de sementes contaminadas, que constituem fontes de inóculo inicial para cultivos posteriores.

Os conídios do patógeno podem ser disseminados a longas distâncias através de sementes contaminadas ou para outras partes da plantas ou plantas vizinhas pelo impacto de gotas de água, seja da chuva ou de irrigação por aspersão, associadas a ventos fortes. O patógeno também pode ser disseminado por meio de trabalhadores durante os tratos culturais, insetos (besouros), implementos e ferramentas agrícolas.

A chuva contribui fortemente para a produção, liberação e dispersão do patógeno. Quando associada a ventos fortes, a dispersão alcança distâncias maiores.

Em condições de alta umidade relativa e temperaturas favoráveis de 15°C a 27°C, ótima de 25°C, os conídios germinam na presença de água livre na folha em aproximadamente 48 horas, penetram através dos estômatos e colonizam a folha. Após seis dias desenvolvem-se as lesões. Períodos prolongados de temperaturas entre 20°C e 25°C, acompanhados de chuvas e/ou orvalho, na presença de grandes quantidades de inóculo, são extremamente favoráveis ao progresso de epidemias.

Como controlar

O controle da septoriose é realizado comumente com a aplicação foliar de fungicidas de contato e sistêmicos, muitas vezes já utilizada no controle de outras doenças. Os fungicidas de contato apresentam menor eficiência que os sistêmicos por serem facilmente removidos pela água da chuva ou irrigações por aspersão. Atualmente existem muitos fungicidas registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle da doença, como cúpricos, triazóis, isoftalonitrila, ditiocarbamatos e estrubilurinas. As aplicações devem ser iniciadas logo após o aparecimento dos primeiros sintomas e recomenda-se repeti-las em intervalos de sete a 14 dias.

Atualmente não existem cultivares ou híbridos comerciais de tomate disponíveis comercialmente com níveis satisfatórios de resistência. Fato atribuído à dificuldade de transferência dos fatores de resistência, geralmente quantitativos, de espécies selvagens para linhagens avançadas de tomate.

Outros métodos de controle utilizados de forma preventiva com a finalidade de reduzir fontes de inóculo inicial são a rotação de culturas com plantas não solanáceas, exemplo: gramíneas, destruição ou remoção de restos culturais de tomate e outras solanáceas ou plantas daninhas hospedeiras logo após a colheita, além do plantio de sementes e mudas livres do patógeno. Constatada a infecção de mudas no viveiro, recomenda-se a eliminação. Evitar irrigação por aspersão, pois propicia condição favorável à infecção. Caso não seja possível, realizá-las pela manhã, para permitir a secagem das folhas antes do anoitecer. Evitar os tratos culturais na lavoura quando as folhas estiverem molhadas. A adubação equilibrada também contribui para a redução da doença, pois possibilita à planta uma maior resistência em suportar a doença.


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