Conhecimento que faz a diferença

O agronegócio competitivo e o volume crescente de informações disponíveis para o campo tornam a presença do engenheiro agrônomo cada vez mais imprescindível

08.10.2021 | 20:59 (UTC -3)

A pandemia de Covid-19 trouxe uma realidade bastante diferente da que estávamos acostumados até então. Apesar de criar inúmeros desafios, em vários aspectos, por outro lado também abriu oportunidades, especialmente para a agricultura brasileira por realçar a importância da segurança alimentar e da sustentabilidade na produção de alimentos no mundo. 

Nesse sentido, o Brasil se consolidou como uma potência global imprescindível na agropecuária, pois somos não só grandes produtores de alimentos, mas também conseguimos dominar tecnicamente todo o ciclo produtivo ao fazer uma agricultura de larga escala, sustentável, mecanizada e com muita tecnologia aplicada, seja no preparo de solo, semeadura, tratos culturais e colheita, ou na agricultura digital embarcada nas máquinas agrícolas.

Mas conduzir este processo de forma eficiente não seria possível sem a presença de um profissional com a capacidade de interpretar as incontáveis variáveis que compõem o ecossistema agrícola. Alguém que esteja sempre próximo do agricultor e seja capaz de dar suporte em todas as etapas do ciclo produtivo, do planejamento do plantio à colheita, e também, posteriormente, na comercialização das safras. Esse profissional é o engenheiro agrônomo, cuja data se comemora neste 12 de outubro.

Atualmente, de acordo com o sistema Confea/Crea, há mais de 100 mil profissionais ligados à Agronomia em atuação no país. A profissão de Agrônomo, ou Engenheiro Agrônomo, foi criada há exatos 86 anos, por meio do Decreto nº 23.196, de 12 de outubro de 1933. Ao longo das últimas décadas, a atividade passou por muitas transformações, mas sempre esteve ao lado do produtor para tornar o Brasil um dos protagonistas do agronegócio mundial. E um dos principais desafios deste profissional é fazer com as propriedades rurais se tornem cada vez mais sustentáveis, tanto do ponto de vista econômico quanto da preservação ambiental. 

Nos últimos anos, o Brasil conseguiu aumentar a produtividade das suas commodities agrícolas de forma exponencial, sem precisar expandir na mesma proporção a área cultivada. Isso se deve à adoção de inúmeras técnicas de manejo, melhoramento genético, irrigação e, sobremaneira, ao crescimento da mecanização no campo, apoiada na evolução da tecnologia embarcada em tratores, colhedoras, pulverizadores, semeadoras e outros diversos implementos agrícolas. 

Hoje são essas máquinas e implementos que entregam a solução ideal para os mais diferentes perfis de agricultor e escalas de produção, com cada vez mais capacidade de aferir dados com precisão sobre a atuação das próprias máquinas no campo em tempo real, bem como obter informações georreferenciadas sobre todo o sistema produtivo, permitindo tomar decisões mais assertivas a favor da produtividade agrícola aliada à otimização dos custos de produção. 

Agro em expansão

Para se ter uma ideia dessa expansão proporcionada pelo agro brasileiro, o PIB do nosso agronegócio, segundo o Ministério da Agricultura, foi responsável por 26,6% do Produto Interno Bruto do país em 2020, e um dos itens que mais vem pesando positivamente na nossa balança comercial. Mesmo com toda a crise provocada pela pandemia do coronavírus, o agro foi responsável por quase metade (48%) das exportações totais do Brasil em 2020, conforme dados da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais.

Além disso, um relatório da Organização Mundial do Comércio mostrou que o Brasil se consolidou nos últimos 25 anos como o maior exportador líquido (diferença entre exportações e importações) de produtos agro do planeta, principalmente por causa do peso de commodities como açúcar, café, suco de laranja e soja (itens no qual somos líderes atualmente), além de produtos como milho, algodão e carnes, com os quais estamos entre os principais exportadores mundiais. Portanto, estamos diante de um setor que gera muitas oportunidades, não somente para o país, mas para os profissionais que atuam na área.

E a expectativa é que essa participação brasileira no mercado mundial de produção de alimentos siga crescendo nos próximos anos. Conforme um estudo divulgado pela Embrapa, o agro brasileiro forneceu alimento para 772,6 milhões de pessoas no planeta em 2020 (10% da população mundial), sendo que 212 milhões dessas pessoas estão no Brasil. Segundo o mesmo estudo, na última década a participação brasileira no mercado mundial de alimentos passou de US$ 20,6 bilhões para US$ 100 bilhões. 

Mas esse processo de crescimento envolve uma busca constante por novas tecnologias e inovação, algo igualmente presente nas máquinas e implementos agrícolas, como a conectividade e a agricultura digital, que permitem com que as máquinas se comuniquem entre si, bem como permite ao produtor se conectar a elas sem sair do escritório da fazenda ou proporcionar acesso remoto de um concessionário para assistência técnica, otimizando o tempo e custos com deslocamento a longas distâncias. 

Essas tecnologias irão integrar todo o campo, permitindo acesso aos principais recursos tecnológicos da agricultura de precisão e automação, bem como o gerenciamento integrado de toda a cadeia produtiva através do monitoramento de dados que podem ser feitos em tempo real na palma da sua mão. Muitas dessas tecnologias já estão presentes nas propriedades agrícolas, como a utilização de drones, para mapeamento aéreo das propriedades, estações meteorológicas nas máquinas, para definir a hora ideal das operações, sensores e câmeras, para facilitar o trabalho dos operadores na condução ideal das máquinas, sistemas on-line para comercialização das safras e muitas outras soluções.

Além disso, há pesquisas por parte das fabricantes de máquinas por tecnologias disruptivas, como o uso de combustíveis alternativos, entre eles o trator movido a hidrogênio, biometano e eletricidade, permitindo com que as propriedades agrícolas tenham mais sustentabilidade econômica e ambiental.

Era do conhecimento

Mas independentemente da área de atuação, o futuro do agronegócio, de modo geral, vai depender cada vez mais de pessoas com conhecimento e que estejam dispostas a seguir aprendendo com as novas tecnologias e técnicas que naturalmente irão surgir dentro deste processo evolutivo do agro brasileiro e mundial.

E por mais que seja um desafio, essa avalanche tecnológica, por outro lado, tem ajudado a manter as novas gerações no campo, que vão à cidade em busca de formação, de qualificação, mas que retornam ao campo para aplicar tudo o que aprenderam e ajudar a melhorar ainda mais os processos produtivos. Os jovens de hoje, muitos formados em Agronomia, dominam como ninguém questões que seus antepassados sequer sonhavam, como a conectividade no campo, internet das coisas, a digitalização e servitização dos processos. Por isso, podem bater no peito com orgulho e dizer que são do agro, uma das atividades mais valorizadas da atualidade e alicerce da economia brasileira, além de ser um setor em expansão para profissionais qualificados.

Assim como os jovens, as mulheres também vêm buscando o seu espaço dentro do agro. Muitas delas procuram cursos ligados à Agronomia como uma forma de qualificação e passam a assumir o papel de liderança técnica e administrativa nas fazendas. Com um olhar e uma sensibilidade que lhes são peculiares, as engenheiras agrônomas têm expandido os horizontes da profissão. Além disso, uma em cada três propriedades rurais do país hoje têm mulheres ocupando funções de comando, boa parte delas são agrônomas.  

Desafios da profissão

Essa força de profissionais, sejam homens ou mulheres, está ajudando o Brasil a aumentar ainda mais a sua diversidade produtiva em todo o território, aliada à preservação dos recursos naturais, permitindo a sustentabilidade ambiental das propriedades agrícolas e elevando o padrão socioeconômico dessas regiões.

O grande desafio da profissão é assimilar a enorme quantidade de informações que nos deparamos a todo momento, devido à tecnologia que evolui continuamente. Nesse sentido, o agrônomo precisa estar em processo contínuo de aprendizado. Afinal, ele não é apenas o profissional responsável somente pelo ciclo produtivo de uma cultura, mas também pelo gerenciamento e administração de toda a propriedade agrícola, desde a compra de insumos até a comercialização da produção. Sendo assim, precisa ter uma visão global, estratégica, com perspectivas de médio e longo prazo e saber se comunicar nesse ambiente globalizado.

Desde que me formei em Agronomia, há 20 anos, ouvia que o engenheiro agrônomo seria a profissão do futuro. Hoje esse “futuro” está aí, e se transformou em realidade. Tenho muito orgulho de minha profissão e de fazer parte da história do agronegócio em nosso país, que cada vez mais tem alcançado relevância e reconhecimento mundial, além de ser um dos principais fatores impulsionadores de nossa economia. Feliz Dia do Agrônomo!

Flávio Rielli Mazetto, engenheiro agrônomo com doutorado pela Unesp em Máquinas Agrícolas e gerente comercial Sudeste da New Holland Agriculture

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