Pulverização em lavouras de café
Escolher e fazer uso adequado das pontas de pulverização são fundamentais para melhoria das condições de precisão e segurança na aplicação
Comparativo de três diferentes softwares utilizados para analisar imagens de manchas de gotas de pulverização mostra diferenças e semelhanças nos resultados obtidos.
No controle fitossanitário, a eficácia da aplicação de defensivos está intimamente relacionada com a quantidade e a forma que o produto aplicado atinge o alvo. A partir disso, a utilização de softwares para análise de espectro e população de gotas é uma ferramenta fundamental para a quantificação e a classificação da deposição volumétrica da calda aplicada. Em geral, esses programas auxiliam na tomada de decisão sobre a qualidade da aplicação, sendo que no mercado existem várias opções de softwares pagos e gratuitos voltados a essa tarefa.
Entre eles, podemos citar o CIR 1.5, que é um programa pago e já conceituado no mercado, e o Image Tool, que é uma ferramenta gratuita, ambos desenvolvidos para o sistema operacional Windows. Além disso, tem sido utilizado, de forma prática, o aplicativo Gotas, que é gratuito e desenvolvido para o sistema operacional mobile Android. Este aplicativo se destaca principalmente pela mobilidade e praticidade, podendo ser utilizado em smartphones e tablets. Apesar das vantagens oferecidas pelas diversas opções que estão disponíveis aos produtores e técnicos, nota-se que, na prática, os programas podem apresentar diferenças entre os seus resultados. E isso, pode ocasionar distorções nas tomadas de decisão sobre a qualidade de aplicação de defensivos, o que demonstra a importância da análise dos softwares utilizados.
Para tentar encontrar possíveis diferenças entre os resultados de cada programa e dimensioná-las, foram avaliados três softwares utilizados para analisar imagens de manchas de gotas de pulverização: CIR 1.5 (Conteo y Tipificación de Impactos de Pulverización), Image Tool 3,0 e o aplicativo Gotas 1.2. Foram utilizadas 16 etiquetas hidrossensíveis (26mm x 76mm) pulverizadas com água, empregando-se as seguintes pontas: API-11002 (jato leque simples-JLS), AD/D-11002 (jato leque duplo-JLD), AVI TWIN-11002 (jato leque duplo com indução de ar-JLDIA) e APM-09502 (jato leque simples de impacto-JLSIP), com quatro repetições.
A pulverização foi feita na ausência de vento, utilizando-se pulverizador costal hidráulico de CO2 pressurizado, operando na pressão de trabalho de 300kPa, aplicando 200L/ha, e com altura da barra de pulverização de 0,5m. As manchas nas etiquetas foram analisadas em cada um dos três softwares e foram determinados os seguintes parâmetros do espectro de gotas produzido: o diâmetro da mediana volumétrica (DMV), o coeficiente de dispersão (SPAN) e a densidade de cobertura (DEN). O diâmetro da mediana volumétrica (DMV) é o diâmetro da gota que separa o conjunto total de gotas produzidas pela pulverização da calda em duas metades com a mesma quantidade de líquido. Então, a soma do volume das gotas com diâmetro menor que o DMV é igual à soma do volume das gotas maiores que o mesmo. O coeficiente de dispersão (SPAN) mede a amplitude relativa que existe entre o diâmetro de todas as gotas produzidas, sendo que, quanto mais próximo de zero o seu valor, maior será o grau de uniformidade das gotas. E a densidade de cobertura (DEN) é medida através do número de gotas depositadas em cada cm2 do alvo pulverizado.
Logo após a aplicação, as etiquetas foram recolhidas e o diâmetro da mediana volumétrica, o coeficiente de dispersão e a densidade de cobertura foram determinados no aplicativo Gotas. Em seguida, as etiquetas foram digitalizadas (1.200dpi) e esses mesmos parâmetros foram avaliados nos softwares CIR e Image Tool. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (Anova) e a posterior teste de média (Tukey-5%).
O aplicativo Gotas, apesar de parar de funcionar em algumas situações durante o processo de análise, se mostrou rápido e prático na avaliação da imagem das manchas. O primeiro passo para analisar a etiqueta nesse software é a captura da imagem, isso deve ser feito o mais rápido possível para evitar que a superfície da etiqueta escureça pelo efeito da umidade do ar. A etiqueta deve ser colocada sobre superfície plana e deve preencher totalmente a área indicada no aplicativo, para que o sistema realize a calibração do tamanho das gotas, tomando como referência as dimensões padronizadas da etiqueta. O segundo passo é selecionar a opção editar e ir em recortar - pode-se utilizar a opção realçar também antes de recortar, para melhorar a qualidade da imagem. O terceiro passo é selecionar uma área da etiqueta que melhor representa a aplicação. Essa área deve ser a maior possível, porém devem ser evitadas as bordas da etiqueta ou áreas onde houver borrões. No quarto e último passo, o aplicativo mostrará a área que foi selecionada anteriormente. Deve-se agora clicar na opção processar e, então, serão mostrados os resultados.
Os programas CIR e Image Tool são menos práticos, pois necessitam que as etiquetas sejam previamente digitalizadas. Porém, a partir deste ponto o CIR se destaca em relação ao Image Tool, pois realiza os cálculos de forma automática, dando os resultados já de forma tabelada. O Image Tool necessita que o usuário realize análises de forma manual e calcule numa tabela à parte os dados finais.
A análise da variância dos dados foi significativa para as três características (diâmetro da mediana volumétrica, coeficiente de dispersão e densidade de cobertura). Ou seja, os programas apresentaram valores diferentes para todas elas. No entanto, não houve diferença entre os softwares CIR e Gotas para o diâmetro da mediana volumétrica. Por outro lado, o coeficiente de dispersão foi diferente nos três programas. Em contrapartida, a densidade de cobertura foi semelhante nos aplicativos Gotas e Image Tool. O programa Image Tool tendeu a ter valores bem mais elevados, em média até 84% maiores para o diâmetro da mediana volumétrica (Tabela 1). Possivelmente, por ter dificuldade em distinguir manchas muito pequenas na superfície das etiquetas. Alguns estudos já realizados mostraram que este programa, em relação a outras ferramentas, não é eficiente na determinação destes valores. Entretanto, para o coeficiente de dispersão e a densidade de cobertura, este mesmo programa apresentou valores medianos (Tabela 1).
Esses mesmos estudos observaram que o Image Tool é uma excelente ferramenta na análise da densidade de cobertura. Em relação ao aplicativo Gotas, este resultou valores medianos para o diâmetro da mediana volumétrica e valores em média até 28% e 81% menores para coeficiente de dispersão e densidade de cobertura, respectivamente (Tabela 1). Por outro lado, o software CIR apresentou valores em média até 46% menores para diâmetro da mediana volumétrica e 39% e 419% maiores para coeficiente de dispersão e densidade de cobertura, respectivamente (Tabela 1).
A capacidade desse programa de identificar maior número de gotas/cm-2 é uma característica já observada em outras situações. Isso ocorre pela maior sensibilidade desse software em distinguir a sobreposição entre gotas. Ademais, já foi observada boa consistência dos dados desse aplicativo, quando se avaliam etiquetas hidrossensíveis intactas.
Por fim, pode-se concluir que houve superestimativa na determinação do tamanho das gotas pelo usuário quando se utilizou o software Image Tool 3.0, em comparação com o CIR 1.5 e o Gotas 1.2.
João de Deus Godinho Júnior, Guilherme Andrade Gontijo, Renato Adriane Alves Ruas, José Márcio de Sousa Júnior, Waner Gleider Barbosa, UFV
Artigo publicado na edição 169 da Cultivar Máquinas
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