Ficha Técnica trator Mahindra 7095
Com 95 cv de potência, 12 marchas à frente e 12 à ré, o trator adapta-se às mais diversas atividades agrícolas
A cana energia (Figuras 1 e 2) é o resultado de cruzamentos de híbridos comerciais de cana-de-açúcar com a espécie Saccharum spontaneum, dando origem a cultivares com maior perfilhamento e rusticidade, colmos mais finos, baixos teores de açúcares, elevados teores de fibras e potencial produtivo. Comercialmente, constitui a matéria-prima para fabricação de etanol de segunda geração (2G) ou cogeração de energia elétrica. O produto final (etanol ou energia elétrica) é fonte de energia renovável que contribui com a matriz energética nacional.
Nesse sentido, os cultivos da cana-de-açúcar e da cana-energia no Brasil minimizam os problemas ambientais causados pelas fontes de energia não renováveis, geralmente oriundas do petróleo. Diante deste cenário, a cana-energia é uma das principais alternativas para o setor sucroenergético na geração de energia limpa com o uso da biomassa, por reduzirem as emissões de CO2 durante seu ciclo de vida. A produção de cana-energia tem contribuído de forma crescente como mais uma opção de matéria-prima à geração de energia elétrica e produção de etanol.
No mercado há poucas opções de cultivares de cana-energia, sendo a Vertix Tipo 1 e a Vertix Tipo 2 os primeiros materiais disponíveis no mercado. Segundo a Granbio (2018), esses materiais apresentam produtividade de 1,5 a 2 vezes maior que a cana-de-açúcar. Com isso, enquanto um canavial cultivado com cana-de-açúcar tem potencial de produtividade de 100 t ha-1, a cana-energia tem potencial entre 150 a 200 t ha-1.
Além da produtividade, há também outras características a serem consideradas, como maior produção de fibras nos colmos. Os materiais de cana-energia produzem até 25% do peso dos colmos em fibra contra 15% da cana-de-açúcar. Ainda apresentam maior resistência a doenças, maior longevidade de soqueiras (8 a 10 anos) e se adaptam em ambientes de produção menos favoráveis aos cultivos (ambientes restritivos). Mesmo sendo cultivadas em ambientes edafoclimáticos restritos à produção agrícola (denominados D e E, segundo Prado, 2018) os materiais de cana-energia recebem os mesmos manejos aplicados em cana-de-açúcar convencional.
No que tange o controle de plantas daninhas, a diversidade da flora é diversificada porque ambientes desfavoráveis (restritivos) não receberam manejos que pudessem minimizar o banco de sementes no solo ao longo dos anos. Com isso, a convivência, cultura e plantas daninhas é intensa e ao se aplicar manejo químico com herbicidas, as moléculas podem ter sua dinâmica dificultada no solo (por ser desfavorável à agricultura), resultando em inadequada seletividade à cultura e controle deficitário. Reforça-se que a convivência, plantas daninhas e cana-de-açúcar podem resultar em redução de produtividade de até 85% (Graciano & Ramalho, 1985).
No Brasil, observações em campo (visual) constataram que as cultivares de cana-energia são sensíveis aos herbicidas, quando aplicados da mesma forma que em cana-de-açúcar convencional, mas são necessários estudos técnico-científicos para comprovar tal informação.
A seletividade é um pré-requisito para o uso de herbicidas, ou seja, é fundamental para o sucesso do controle químico de plantas daninhas. Seletividade pode ser definida como a capacidade de um herbicida em controlar plantas daninhas sem afetar as plantas de interesse, ou seja, sem reduzir a produtividade da cultura, neste caso a cana-energia.
As cultivares podem ser consideradas suscetíveis ou tolerantes a uma mesma molécula herbicida, sendo as suscetíveis propensas a serem intoxicadas pelos herbicidas e as tolerantes aquelas menos prejudicadas pelos herbicidas. No entanto, também é possível que os herbicidas impactem negativamente a produtividade da cultura sem que, necessariamente apresentem sintomas visualmente detectáveis (“fito oculta”), da mesma forma que outros produtos podem provocar severas injurias sem que ocorra impacto significativo na produtividade. Por isso, em experimentos com seletividade de herbicidas recomendam-se avaliar tanto os parâmetros fitotécnicos quanto alterações fisiológicas da planta. Assim, como na cana-de-açúcar convencional, a cana-energia necessita de estudos que comprovem a sensibilidade ou não dessas plantas aos herbicidas.
Na questão da seletividade, em ensaios realizados nos últimos anos, no Centro de Cana IAC, em Ribeirão Preto – SP, a cultivar Vertix 2 e um clone de cana-energia apresentaram sintomas de intoxicação leves quando comparado à testemunha. Os valores atribuídos foram muito próximos a zero porque os sintomas eram pouco visíveis. Aos sintomas, atribuiu-se notas no máximo de 11%, numa escala que tem valor máximo de 100% (morte da planta), conforme observa-se na Figura 4. No campo, os sintomas são pouco pronunciados e praticamente imperceptíveis, particularmente em plantas com 60 dias após aplicação (DAA). Certamente, os produtores denominariam de “fito zero” (Figura 4). Coincidentemente, os poucos sintomas constatados eram de branqueamento do limbo foliar, típico do mecanismo de ação do isoxaflutole (inibidor de carotenoides) que facilmente é confundido com os sintomas da escaldadura das folhas (Figura 3).
Na maioria das vezes, os sintomas visuais evoluem no máximo até 90 DAA e sem comprometer outras variáveis fitotécnicas, a exemplo da altura e estande das plantas (Figura 4). Mas, se a cultivar de cana-de-açúcar ou cana-energia for suscetível aos herbicidas, certamente será constatado também prejuízos fitotécnicos.
A cultivar e o clone tratados com imazapic + isoxaflutole tiveram a altura reduzida em relação a testemunha (Figura 4), embora os sintomas visuais de intoxicação foram leves (nota de 11%). Também se observou que o clone foi mais suscetível que a cultivar Vertix 2 porque a diferença entre a altura das plantas no tratamento herbicida e a testemunha foi maior para o clone (Figura 4).
Outro prejuízo causado pelos herbicidas foi sobre o estande de plantas (Figura 4), mesmo com os sintomas de intoxicação sendo quase imperceptíveis visualmente (Figura 3). A cana-energia apresenta elevado perfilhamento e em pesquisas de campo normalmente observa-se próximos de 100 perfilhos para cada metro de sulco, contra 15 a 18 para cana-de-açúcar convencional. O tratamento herbicida reduziu o estande de colmos (entre 10 a 20) em comparação à testemunha, aos 120 DAA (Figura 4).
Como a cultivar e o clone de cana-energia tiveram a altura e o estande de plantas reduzidos polo tratamento herbicida, mesmo com sintomas de intoxicação leve (não superiores a 11%), pode-se estimar que ambos materiais são suscetíveis aos herbicidas. Entretanto, essa afirmação somente poderá ser confirmada assim que a pesquisa for finalizada e a produtividade obtida. Mas, até o momento a observação de campo de que a cana-energia é suscetível aos herbicidas parece ser verdadeira, ao observar os dados de altura e estande obtidos na terça parte do ciclo da cultura (primeiros 4 meses) (Figura 4).
No campo, haverá a presença das plantas daninhas, diferente do experimento que foi mantido por capinas, pois almejava-se avaliar apenas o efeito do herbicida sobre a cultura. No cultivo comercial, possivelmente em áreas de pouca afinidade agrícola, os herbicidas terão a dinâmica no solo desfavorecida.
Muitas moléculas poderão com maior facilidade se ionizar e/ou movimentar-se na camada arável do solo. Com isso, haverá baixa eficácia no controle das plantas daninhas, o que induzirá o produtor a mais aplicações de herbicidas. Por consequência, os materiais que já apresentam suscetibilidade aos herbicidas, poderão se intoxicar ainda mais.
É importante que o produtor ao cultivar a cana-energia seja cauteloso no uso de herbicidas, preferencialmente aplicando-os antes do plantio da cultura para minimizar o banco de sementes. Por consequência, a intensidade de infestação por plantas daninhas após o plantio será menor. Possivelmente, ao usar essa técnica, uma única aplicação de herbicida em cada ciclo da cana-energia (que pode ter entre 8 a 10 anos de longevidade) poderá ser suficiente para conter as plantas invasoras.
Maior sucesso no controle das plantas daninhas poderá ser obtido se o produtor aplicar os herbicidas considerando a flora daninha observada, respeitar a físico-química das moléculas herbicidas de acordo com a época da aplicação (estação das chuvas ou seca) e a dose recomendada pelo fabricante de acordo com o tipo de solo. O que deve ser evitado é aplicar herbicidas de média e alta solubilidade em água em período muito chuvoso e herbicidas com capacidade de serem fotodegradados e volatilizados em períodos de estiagem. Moléculas com tais características expostas as condições de luz e temperatura se dissiparão pelo ambiente antes mesmo de terem a dinâmica no solo iniciada.
Em outras pesquisas também desenvolvidas pela equipe de matologia do Centro de Cana IAC foi observado que a cana-energia expressou o estresse aos herbicidas de forma diferente da cana-de-açúcar. Em ambas culturas se observou sintomas de intoxicação, redução de altura e estande, mas a cana-energia estressada por herbicidas floresceu mais rápido.
Em dois experimentos, em condição de cana-planta, a cana-energia de todos os tratamentos herbicidas floresceu primeiro que a cana-energia do tratamento testemunha. As plantas dos tratamentos emitiram a panícula até 30 dias mais cedo que as plantas da testemunha. Esse não é um comportamento típico de ocorrer em cana-de-açúcar.
O florescimento na cana-de-açúcar é negativo em sistemas de produção porque “drena” a sacarose para a formação e emissão da panícula, o que deixa os colmos com maior teor de fibra. Certamente, o consumo da sacarose e o aumento no teor de fibra também seja similar na cana-energia, mas essas características no colmo da cana-energia possam ser menos prejudiciais que na cana-de-açúcar.
A cana-energia é matéria-prima para a produção do etanol 2G, que é obtido a partir de enzimas específicas que ao utilizar-se da celulose dos colmos como substrato, produz etanol. Se os colmos apresentarem mais fibras, talvez, o prejuízo industrial não seja muito expressivo.
Há muito o que se conhecer sobre a fisiologia da cana-energia, particularmente sobre os efeitos dos herbicidas no seu desenvolvimento.
*Por Venilton Bispo de Oliveira, João Eduardo Brandão Boneti, Lucas Carvalho Cirilo, Ana Rosália Calixto da Silva Chaves, Andrea de Pádua Mathias Azania, Samira Domingues Carlin, e Carlos Alberto Mathias Azania, do Centro Avançado de Pesquisa de Cana/IAC
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