Workshop da Abrapa conclui que controle do bicudo exige ações conjuntas

15.05.2015 | 20:59 (UTC -3)

O combate ao bicudo-do-algodoeiro requer ações coletivas, de ampla adesão e de caráter regional. O diagnóstico foi feito pelo professor Paulo Degrande, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), ao final de workshop promovido pela Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), em Brasília, no dia 8 de maio.

O encontro, que reuniu cerca de 40 representantes das nove associações estaduais de produtores, pesquisadores, consultores agronômicos e de governos estaduais e federal, discutiu a atual situação e propôs medidas para o enfrentamento conjunto e organizado da praga.“Nosso objetivo com este workshop foijustamente alinhar tudo o que está sendo feito para montarmos uma grande campanha nacional de combate à praga”, disse João Carlos Jacobsen Rodrigues, presidente da Abrapa.

Conforme Degrande, a situação é preocupante.“Praticamente todas as áreas algodoeiras do país estão infestadas.Somente os custos de controle com inseticidas têm variado de US$ 100 a US$ 300 por hectare/ano.” Ele compara com 2009, quando os gastos com inseticidas eram de US$ 70 a US$ 200 por hectare/ano. Isso representa um aumento médio de 45%, decorrentes da elevação dos preços dos produtos e expansão da praga pelas áreas cultivadas no cerrado do Brasil.Os prejuízoscausados pelo bicudona produtividade da safra variam de 2% a 5%.

A necessidade de uma maior ação de conscientizaçãojunto aos produtores de algodão visando à adoção de medidas de combate à praga foi citada em diversas intervenções durante o workshop.Degrande, no entanto, prefere usar o termo educação. “É necessário um trabalho de formação e qualificação profissional nas fazendas, técnico e operacional.

Boas práticas agrícolas melhoram o desempenho do controle do bicudo.” O professor aponta quatro práticas fundamentais: um calendário de plantio bem definido regionalmente; eliminação de soqueiras, rebrotas e tigueras na entressafra; rigoroso cumprimento do vazio sanitário, redução nas populações da praga na emissão do primeiro botão floral e na desfolha e não cultivar milho após algodão em hipótese alguma.

O diretor da Abrapa Almir Montecelli lembra que normalmente, em qualquer ramo de atividade, só quando o problema se torna grave é queas medidas necessárias são tomadas. “Só quando o calo aperta é que se vai trocar o sapato. E o calo está apertando. Se o agricultor não fez até hoje o que deveria ser feito, talvez seja porque o calo ainda não apertou ou sapato ainda estava folgado. Mas temos visto que agora o sapato está apertando.”

De acordo com Montecelli, as perdas estão quase inviabilizando o setor e, além disso, as vantagens trazidas pelo algodão transgênico, que controla a lagarta, são anuladas pela necessidade de aplicação de inseticida contra o bicudo.“Os custos de produção, que poderiam ter melhorado com os transgênicos, não melhoraram por causa do bicudo. Isso hojejá é quase uma consciência geral. A partir dessa conscientização, nós daremos mais um incentivopor meio de educação ou marketing e acho que temos uma chance de começar a trabalhar. Se não foi feito até agora, é porque o sapato ainda estava folgado.”

Para enfrentar os problemas, Montecelli defende o fortalecimento da organização dos produtores de algodão. Para isso, é preciso que todos saibam o que está sendo discutido e que adotem as sistemáticas e ações necessárias. Nesse sentido, aponta o 10º Congresso Brasileiro do Algodão, a ser realizado de 1º a 4 de setembro próximos, em Foz do Iguaçu (PR), como um momento únicode conscientização.

Montecelli faz coro com alguns dos participantes do workshop que chegaram a sugerir a suspensão da atividade. “Estamos no limite. Você vê quem ainda está ganhando dinheiro, mas vê outros que já estão perdendo. Qualquer problema climático que você tiver que baixe a produtividade, no atual custo de produção, você já vai ter prejuízo. Então varia muito de agricultor para agricultor, de estado para estado. Aquele estado que teve situação ótima de clima, ele sobreviveu esse ano. Aquele que já teve algum probleminha, que impediu uma altíssima produtividade, já está no prejuízo.”

Outras sugestões apontadas pelos participantes do workshop dizem respeito à montagem de esquemas de aplicações conjuntas por diversos agricultores; patrulhas mecanizadas especializadas na aplicação de inseticidas, e treinamento de monitores, inclusive com a procura de cooperação do Serviço de Aprendizagem Rural (Senar).

As conclusões do workshop, segundo Montecelli, serão levadas ao Congresso Brasileiro do Algodão. O evento, segundo ele, será o momento ideal para transmitir aos agricultores informações sobre o que está acontecendo. “Aqui foram apresentadas, por exemplo, soluções de metodologias de destruição de soqueiras. Será uma oportunidade de levar esse conhecimento a todos os produtores.”

O diretor da Abrapa salienta que no workshop ficou explícita a necessidade de que em futuros eventos seja discutida a maneira de destruição das soqueiras das formas transgênicas do algodão. “Se ela é resistente ao glifosato, como eu vou destruí-la? Isso já deve estar definido no lançamento da nova variedade.” Outra conclusão a que se chegou no evento de Brasília, é que o milho não pode suceder a lavoura de algodão. “Foi explicado por vários técnicos e agricultores. Plantar milho depois do algodão é suicídio para o algodão, pois o bicudo vai sobreviver.”

Quanto à fiscalização por parte do poder público, Montecelli diz que há boa intenção do Ministério da Agricultura de cumprir a legislação, que existe no sentido de preservar o bem comum. No entanto, o trabalho é prejudicado por falta de pessoal para fiscalizar a efetiva destruição das soqueiras na entressafra.

O diretor do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Luis Eduardo Rangel, presente ao encontro, disse em entrevista à imprensa que acredita que há uma nova visão da defesa agropecuária no país. Trata-se de uma parceria público-privada para absorver as informações do produtor rural, com a sua responsabilidade no controle de pragas e, principalmente, identificando qual a ferramenta que o governo pode aplicar nesse cenário. Conforme Rangel, o maior desafio do governo é modernizar a legislação.

O presidente da Associação Goiana de produtores de Algodão (Agopa), Luiz Renato Zapparoli, defende uma melhor metodologia na utilização das ferramentas disponíveis nas ações pós-plantio e na entressafra. Para ele, o workshop foi importante para a consolidação de informações com base em dados científicos. Zapparoli também aponta a necessidade de uma maior integração entre as agências de vigilância dos diversos estados produtores. “No meu caso, a cada 40 quilômetros você está num estado diferente. É preciso que haja melhor comunicação. Que o Ministério da Agricultura faça a acomodação desse trabalho. Que os vazios sanitários, as medidas profiláticas e as legislações sejam parecidas, e que a Embrapa atue de acordo com as necessidades dos produtores.” Tudo isso, segundo Zapparoli, tem como objetivo alcançar uma lavoura mais saudável em termos econômicos, sociais e ambientais. “A partir do momento em que eu tiver uma praga melhor controlada, vou ter menor dispêndio de recursos financeiros, uma lucratividade maior, meus funcionários estarão menos expostos à aplicação de veneno e o meio ambiente será menos agredido com os defensivos agrícolas”, resume.

Segundo o presidente da Agopa, no estado de Goiás, nas últimas três safras, o custo de aplicação de defensivos contra o bicudo passou dos US$ 40 milhões. Além disso, as perdas em produtividade provocadas pelo inseto, nesse período, são estimadas em US$ 18 milhões. A área plantada com algodão vem caindo, mas a média nos últimos três anos é de 35 mil hectares no estado.

Zapparoli destaca que a questão socioambiental e de sustentabilidade na produção do algodão recebe um trabalho bastante forte não só da associação goiana, mas de todas as outras entidades estaduais, através do Projeto ABR (Algodão Brasil Responsável). “Quando temos sucesso na redução do bicudo, é um somatório de ganhos. Não é só o nosso lucro que está aumentando. Cresce o conforto do funcionário e o meio ambiente está sendo preservado. Isso é olhado como um todo.”

Ele ressalta a importância da realização do workshop neste momento para a adoção das boas práticas nessa saída de safra. “Estamos aqui para discutir, realinhar e, a partir de um movimento uniforme, replicar isso dentro de todos os estados e fazer com que esse objetivo tenha sucesso.”

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