Viticultura cresce no norte/noroeste fluminense

20.04.2009 | 20:59 (UTC -3)

Na região norte/nordeste do Estado do Rio de Janeiro esforços têm sido feitos para o estabelecimento da viticultura, considerando o potencial climático e a posição geográfica favorável.

Experiência semelhante a essa, e mais ou menos recente, ocorreu no noroeste paulista e pontos comuns podem ser ressaltados: arrojo na atividade pioneira por parte de produtores, nem sempre com experiência na cultura; sucesso econômico após alguns anos de tentativas infrutíferas e/ou dificuldades técnicas; propagação da atividade, inicialmente entre vizinhos, posteriormente em nível de município, depois regionalmente; busca de suporte técnico-financeiro pelos novos interessados.

No norte/noroeste fluminense não está sendo muito diferente: há oito/nove anos, o produtor Antonio Brandão iniciou cultivo de uva Itália em Cardoso Moreira, praticamente sem nenhum conhecimento prévio e com enormes dificuldades iniciais. Posteriormente, com seu próprio aprendizado e auxílio de técnicos da Pesagro, Embrapa e outros, essa fase inicial foi superada e seu cultivo consolidou-se técnica e financeiramente. Apesar desse esforço inicial, quase nenhuma ação de extensão foi estabelecida no sentido de ampliar a viticultura na região, salvo cursos de curta duração oferecidos em 2007 e 2008 por nós ministrados durante a Semana do Produtor Rural na UENF.

Há alguns poucos anos, a UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), em seu campus de Campos dos Goytacazes, iniciou esforços no sentido de estabelecer bases técnico-científicas para a viticultura regional. O Prof. Alexandre Pio Viana, do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal, constituiu, entre 1999 e 2000, uma coleção de doze cultivares de uva de mesa e várias outras de cultivares porta-enxerto. A partir dessa coleção, algumas dissertações e teses foram geradas, disponibilizando os primeiros trabalhos científicos sobre a viticultura no norte/noroeste fluminense. O primeiro esforço de integração com produtores surgiu com o desenvolvimento da dissertação de mestrado de Katia Murakami, orientada pelo Prof. Almy Junior Cordeiro de Carvalho, na propriedade de Brandão, a qual se tornou marco pioneiro na descrição da fenologia da videira na região.

A partir de 2005, o Prof. Ricardo Bressan-Smith, também da UENF, ampliou os esforços direcionados para o conhecimento de questões básicas e aplicadas da fisiologia da videira, estabelecendo ações amplas, incluindo convênios nacionais (Embrapa Semiárido, em Petrolina) e internacionais (Universidade de Cuyo, Mendoza, Argentina, Universidad de Chile, Santiago, Chile). Vários de seus alunos de pós-graduação foram iniciados nos estudos com a videira, destacando-se, inicialmente, Silvia Martim e Leandro Hespanhol-Viana, enviados para intercâmbio em regiões tradicionais de viticultura. Várias dissertações e teses já foram desenvolvidas e outras mais estão em andamento.

Entretanto, um importante “efeito colateral” acabou surgindo disso tudo, comenta a equipe da UENF: o engenheiro agrônomo e aluno de doutorado na UENF, Leandro Hespanhol-Viana, filho de produtores rurais, entusiasmou-se com a viticultura e decidiu tornar-se empreendedor do setor, fazendo-o com denodo e dedicação extraordinários. Iniciou seu cultivo com cerca de 300 plantas das cultivares Niágara Rosada e Romana, atualmente em franca produção. Com a prática, Leandro acabou se tornando um dos maiores conhecedores da viticultura na região, o que lhe valeu o convite do programa Frutificar, da Secretaria da Agricultura do RJ, para apresentar o curso de que trata a reportagem do Jornal do Comércio, divulgada no Toda Fruta, a qual não fez o apontamento que fazemos questão de colocar.

Para completar o retrato atual da viticultura no norte/noroeste fluminense, merece ser destacado o empreendimento de norte-americanos, radicados em Campos dos Goytacazes, que iniciaram o cultivo de uvas sem sementes, cultivar BRS Clara, no município de Bom Jesus do Itabapoana. Com poucos anos de atividade, os Srs. José Luiz Burbano e Edward McKenna, estão obtendo as primeiras safras de uva e ampliando sua área, diversificando-a com Niágara Rosada.

Com certeza, bases sólidas estão agora constituídas para o estabelecimento de próspera viticultura na região norte-noroeste fluminense: experiência de produtores pioneiros, conhecimento científico produzido na universidade, divulgação e financiamento da atividade.

Celso V. Pommer

Universidade Estadual do Norte Fluminense

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