Variação da produtividade do milho no Brasil

11.05.2009 | 20:59 (UTC -3)

A produtividade conseguida pela cultura do milho no Brasil varia muito. Ao mesmo tempo em que há produtores que conseguem até 200 sacas de 60 kg (somando mais de 12 toneladas por hectare), há outros que colhem menos de 1 tonelada por hectare. Veja porque isso ocorre.

Para tentar entender o porquê disso, a equipe da Embrapa Milho e Sorgo (Informativo Grão em Grão) entrevistou o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Jason de Oliveira Duarte, que trabalha com economia agrícola.

Pergunta: A que se deve o fato de a produtividade de milho ser tão diferente conforme a região do país onde ele é plantado?

A primeira coisa que se tem de dizer é que o milho é uma cultura cosmopolita. Ela é plantada em todos os cantos do Brasil. Algumas regiões têm melhores condições de produção desta cultura do que outras. Em segundo lugar, o milho é uma cultura de amplo aspecto social, sendo cultivada por todos os tipos de produtores. Então, o pequeno produtor, considerado na categoria de agricultura familiar periférica, produz milho e o grande produtor tecnificado, considerado como produtor patronal ou comercial, também produz milho.

Portanto, pode-se dizer que no Brasil há diferentes formas de plantio de milho, mas duas se contrapõem no sentido de estatísticas de produção. A produção de milho comercial tem produtividades acima das médias brasileiras e os levantamentos oficiais consideram esta produção para fim estatístico. Por outro lado, a produção da pequena agricultura e da agricultura urbana, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, tem níveis de produtividades muito menores do que a média brasileira, que também são consideradas nas estatísticas oficiais. Isto puxa a média de produtividade brasileira para baixo.

Se pensarmos em termos de regiões, pode-se observar que as regiões Centro-Oeste e Sul têm as maiores produtividades. Estas duas regiões possuem produções mais tecnificadas, tanto em termos de uso de insumos mais modernos quanto em termos de uso de maquinarias. No caso do Centro-Oeste, também foram desenvolvidas cultivares que se adaptam mais às condições edafoclimáticas (de solo e clima) desta região. Associada à produção de soja, que é altamente tecnificada, a produção do milho no Sul e no Centro-Oeste tomou um caráter totalmente comercial e, ultimamente, com a participação do Brasil no mercado internacional um incentivo extra tem contribuído para aumento de produtividade nestas regiões.

Ao analisarmos os níveis de produtividade do Nordeste, observamos que ela é historicamente muito baixa, sendo inferior a 1.000 kg/ha até o início dos anos 2000. A partir do início desta década, os níveis de produtividade aumentaram até alcançar a média de 1.300 kg/ha nos últimos anos; isto principalmente pelo aumento da produção de milho nas regiões Oeste da Bahia, Alto do Rio Parnaíba no Piauí e Sul do Maranhão. Apesar dos melhores níveis de produtividade nestas regiões, ainda os índices do Nordeste ficam bem abaixo da média brasileira.

Em resumo, as regiões que têm melhores produtividades são aquelas que produzem comercialmente, com condições edafoclimáticas melhores, com uso de tecnologias modernas, com cultivares adaptadas às regiões, com possibilidade de maior mecanização e mercado bem definido para o produto. Por outro lado, as regiões com menores produtividades são aquelas onde a produção de milho é feita de forma quase artesanal, com sementes vindas de grãos e muitas vezes não adaptadas à região, com baixo nível de uso de insumos modernos e para consumo próprio.

Pergunta: Se o potencial genético das cultivares, sobretudo dos híbridos, é tão mais elevado do que a produtividade efetivamente conquistada, onde está o problema?

O problema está na forma correta de utilização das cultivares. Isto implica em considerar alguns fatores que, na maioria dos casos, não implicam em custos extras. Por exemplo: a cultivar ser indicada para a região onde está sendo semeada; a época de plantio ser a indicada no zoneamento agrícola para o milho; o espaçamento ser adequado; a densidade ser acima de 60.000 plantas por hectare se as condições da área forem viáveis; o controle de pragas, doenças e plantas invasoras; e a colheita em época correta, com os níveis de umidade indicados pelo mercado.

Na realidade, o potencial genético geralmente não é alcançado em nível de fazendas, mas o produtor pode, com alguns “ajustes finos”, aproximar o máximo possível deste potencial. Campanhas de Boas Práticas Agrícolas têm contribuído para alertar os produtores desta potencialidade e incentivá-los.

Então, o problema está na forma de produção. Isto tanto tem a ver com a forma como o produtor usa o portifólio de tecnologias que estão disponíveis quanto com o local onde ele está produzindo. Condições edafoclimáticas e boas práticas agrícolas conjugadas de maneira ideal vão implicar em melhores e maiores níveis de produtividade.

Pergunta: Ao produtor, bastam o acesso a uma semente produtiva e um bom manejo da cultura?

Na realidade, não. Precisa também de todo um sistema de informações que são transferidas por sistemas de ATERs (empresas de assistência técnica e extensão rural), tanto públicas quanto privadas, de políticas públicas e de estímulos econômicos. Muito dos conhecimentos modernos de produção de milho estão disponíveis; porém, não chegam a uma grande gama de produtores de tal forma que estes venham a ter melhor produção e melhor renda.

Alguns agentes da cadeia produtiva do milho consideram que o aumento de produtividade é consequência apenas do estímulo de preços. Mas sem os conhecimentos, sem suporte público e sem sementes o produtor por si só não consegue melhorar sua eficiência.

Pergunta: Você considera que a cadeia do milho está suficientemente organizada no Brasil a ponto de permitir que a produtividade e a produção da cultura sejam altas como podem?

Se observarmos a produção brasileira, vemos que a produção de milho tem um grande consumidor que é indústria de ração animal e, consequentemente, a alimentação animal. Se considerarmos que na cadeia produtiva do milho estão incluídas as cadeias de suínos, aves e outros animais, podemos concluir que esta cadeia é bem organizada com fornecedores de insumos e maquinarias com funções bem definidas e demandadores de milho também com funções bem definidas. Apenas o nível de produtores é menos organizado e, por isso, eles são mais vulneráveis às pressões de mercado de seus insumos e seu produto.

Por outro lado, podemos ver que a produção comercial de milho tem produtividades altas em algumas regiões do Brasil. Estes produtores conseguem atingir produtividades acima de 200 sacas por hectares, com uma grande quantidade de produtores que produzem ao redor de 150 sacas por hectare. Este grupo, geralmente, tem algum poderio econômico, tem assistência técnica privada (de empresas fornecedoras de insumos, consultorias ou cooperativa), tem relacionamento com o mercado e acesso a informações. Vê-se que há um diferencial a favor destes, pois independem dos sistemas públicos na maioria das vezes.

Para mudar a situação dos outros produtores, a organização dos produtores de milho poderia influenciar no aumento da produtividade. Esta organização formalizada poderia ser a provedora dos “diferenciais” que, hoje, a grande produção tem. O melhor exemplo são os produtores organizados em algumas cooperativas que fornecem estes serviços e seus filiados têm níveis altos de produtividade.

Clenio Araujo

Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)

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