Vantagens nos sistemas integrados de produção

17.12.2008 | 21:59 (UTC -3)

As vantagens na integração dos sistemas de produção na Região Sul foram destaque no Workshop sobre integração lavoura-pecuária-floresta, que encerrou terça-feira (16/12) na Embrapa Trigo (Passo Fundo/RS). Hoje, estima-se que a integração opere em mais de 2,5 bilhões de hectares, respondendo por 50% da carne e 90% do leite consumidos no mundo.

No Rio Grande do Sul a integração lavoura-pecuária serve, principalmente, para eliminar o pousio de inverno, típico nas regiões produtoras de grãos, proporcionando mais uma atividade econômica através da produção animal. A complementação de renda com a engorda de animais em áreas que tradicionalmente eram destinadas somente à produção de grãos, numa integração de sistemas mistos, ocorre no Planalto Médio e Missões do estado desde a década de 70, mas a organização das propriedades é resultado do movimentação do mercado, com a criação de novas bacias leiteiras e consequente reestruturação das propriedades. A observação é dos pesquisadores da Embrapa Trigo, Renato Fontaneli e Henrique Pereira dos Santos. Estudos apresentados no evento mostram a necessidade do produtor a buscar o melhor aproveitamento das áreas produtivas, antecipando a renda através de leite, carne ou lã. “A integração lavoura-pecuária pode contribuir para aproximar o sul do Brasil aos índices de país desenvolvidos em pecuária bovina de corte. Com o sistema, já é possível ofertar bovinos jovens, terminados com idade inferior a dois anos – a média atual é de quatro anos – permitindo melhor qualidade de carcaça”, explica Fontaneli, lembrando que o sistema pode, ainda, aumentar a natalidade do rebanho, concentrando a terminação de animais na zona produtora de grãos e aliviando a lotação e pressão de pastejo nas zonas de cria.

As incertezas no retorno na safra de grãos podem ser amenizadas com a melhor utilização das áreas no inverno. Essa é a definição do palestrante da UFRGS, Paulo César Carvalho. “A colheita da lavoura é muito variável, depende de uma série de fatores, não existe qualquer previsão segura. No desempenho animal, o rendimento é seguramente direcionável, com retorno prévio antes do final do processo produtivo”, avalia Carvalho, ressaltando que o ganho de peso animal pode chegar a 500kg/ha em 100 dias de pastejo em forragem de 20 a 30cm de altura. Para o produtor focado em grãos, a integração com pastagens pode resolver problemas como nematóides em soja ou redução de lagartas em milho, por exemplo. “Estudos com lavouras de soja no sistema, conduzidos pela UFRGS por sete anos, mostram que o rendimento de grãos não é maior em áreas sem pastejo”, diz Carvalho. Finalmente, Carvalho apresenta a integração lavoura-pecuária como o sistema “ambientalmente correto”, capaz de reciclar nutrientes, emitir menos gases, limitar a exploração do ambiente e cuidar do bem estar animal.

É justamente pelo bem-estar animal que o sombreamento sempre foi aceito pelo produtor nos campos gaúchos. Segundo o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Alexandre Varella, a árvore sempre fez parte do cenário, mas o produtor não via como componente comercial, apenas como sombra em meio ao campo aberto. A realidade do pecuarista começou a mudar com o assédio das empresas de madeira e celulose que precisaram adequar a tradição pecuária às necessidades da indústria. Somente na Metade Sul do RS são estimados seis mil hectares com integração em silvicultura, isto é, pastagens em meio a florestas de pinus, eucaliptos e acácia-negra. O sistema exige manejos diferenciados, com podas mais radicais nas árvores e espécies de pastagens tolerantes à sombra. A densidade da floresta também preocupa os pesquisadores, enquanto que o modelo praticado atualmente tem vida útil de 3 a 4 anos: “Estudos indicam um planejamento para pecuária à longo prazo, permitindo a recuperação das áreas após a extração da floresta”, confirma Varella. Apesar das exigências do ambiente, os pesquisadores da Embrapa e da Fepagro ressaltam as vantagens do sistema como reduzir a queda da produção leiteira no verão – a vaca se alimenta melhor na sombra e perde menos energia livre do calor; a possibilidade de eliminar o capim-annoni que precisa de muita luz para se estabelecer; oportunidade de usar áreas marginais, antes abandonadas no campo; reduzir os riscos de incêndio na área florestal; e gerar renda até duas vezes maior por hectare com a venda da madeira e subprodutos. A tendência, segundo os especialistas, é que a área de 500 mil hectares com integração pecuária-floresta no RS atinga um milhão de hectares, conforme as metas da indústria. O chamado sistema Silvipastoril está concentrado, além da Metade Sul, nas regiões do Planalto, Metade Norte e Campo de Cima da Serra.

O avanço dos sistemas já consolidados, integração lavoura-pecuária e integração pecuária-floresta, é a união dos três, no agrosilvipastoril. Os modelos, ainda recentes no Brasil, projetam rotações de grãos em meio a florestas com pastagens no ano seguinte.

Joseani M. Antunes

Embrapa Trigo

(54) 3316.5800 / www.cnpt.embrapa.br

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