Tese de pesquisadora do Cepea é premiada

03.08.2011 | 20:59 (UTC -3)
Ana Paula Silva

A tese de doutorado intitulada “Transferências interna e externa de renda do agronegócio brasileiro”, de autoria de Adriana Ferreira Silva, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, ganhou o Prêmio Edson Potsch Magalhães de melhor tese em economia rural. A premiação foi entregue durante o 49º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober), realizado na última semana de julho, em Belo Horizonte (MG). A tese foi desenvolvida no programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada, da Esalq/USP com orientação do professor titular Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, coordenador do Cepea.

O objetivo geral da tese foi calcular quanto o agronegócio brasileiro transferiu para os demais setores da economia nacional e ao exterior ao longo de 1995 e 2008. Este período é caracterizado por controle da inflação no País, expansão de programas de transferência de renda e também crescimento do comércio internacional. As ações de caráter doméstico tiveram o efeito de reduzir da concentração de renda e da pobreza no Brasil e os ganhos de produtividade do agronegócio tiveram importante contribuição nesse processo, conforme comprovado na tese premiada.

A pesquisadora explica que os beneficiários do controle da inflação e dos programas de transferência de renda gastam grande parte de sua renda em bens de origem agropecuária, em especial alimentos. Nesse sentido, para que a distribuição da renda fosse efetiva e proporcionasse o aumento do consumo tanto de alimentos quanto de bens de outros setores, era importante que os preços do agronegócio aumentassem menos que a elevação da renda ou tivessem mesmo redução. Para isso, os ganhos de produtividade do agronegócio foram fundamentais.

A pesquisa de Adriana Ferreira Silva e Geraldo Barros constatou que, entre 1995 e 2008, o agronegócio transferiu o total de R$ 837 bilhões (a valores de 2008). No entanto, diretamente à sociedade brasileira, a transferência foi ainda maior, de R$ 854 bilhões. Isso porque a relação com o mercado externo teve saldo positivo para o agronegócio nacional, ou seja, houve recebimento de renda na ordem de R$ 17 bilhões – o que atenuou a perda acumulada pelo setor.

A maior parte dessas transferências, estimada em 47%, veio do segmento primário do agronegócio, ou seja, saíram do bolso do produtor rural – dos quais 46% vieram do segmento primário da agricultura e 54% do segmento primário da pecuária. Outros 38% foram provenientes do segmento de distribuição (transporte e comércio) e 20% saíram da agroindústria (62% da indústria de base vegetal e 38% da indústria de processamento animal). O segmento de insumos, ao contrário, foi receptor líquido de renda (R$ 41 bilhões). Tendo em vista que grande parte das compras deste segmento (como matérias-primas usadas em fertilizantes) é realizada no exterior, infere-se que o resultado positivo de Insumos do agronegócio brasileiro veio do mercado externo – neste caso, transferência de renda do exterior para o segmento nacional.

“O benefício de quedas reais de preço obtido pela sociedade, quedas estas comparáveis ou superiores às observadas aos produtores rurais, indicou que os segmentos agroindustrial e de distribuição também colaboraram no processo de aumento do produto, ou seja, da oferta a preços decrescentes”, explica a pesquisadora.

O trabalho conclui que a redução dos preços reais dos produtos agropecuários foi fator primordial na melhoria do poder aquisitivo dos consumidores, em especial, para as famílias de baixa renda - nas quais grande parcela da renda é despendida em alimentos. “Por outro lado, há que se garantir que os preços pagos aos produtores remunerem seus esforços, para que desestímulos à produção de alimentos não surjam, o que, em períodos futuros, poderia refletir em redução da oferta e consequente elevação dos preços”, adverte a pesquisadora.

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