Tecnologias conservacionistas são destaques em seminário em Portugal

O presidente da Embrapa, Celso Moretti, apresentou em Lisboa, os resultados de tecnologias conservacionistas com efeito poupa-terra em painel que discutiu o agronegócio sustentável

12.11.2021 | 15:40 (UTC -3)
Embrapa

Tecnologias conservacionistas e com efeito poupa-terra desenvolvidas pela Embrapa foram destaques no Seminário Agronegócio Sustentável no Brasil e Mostra da Economia Criativa da Amazônia, realizado nesta sexta-feira (12/11), em Lisboa, no formato híbrido, uma iniciativa da APEX com apoio institucional do Senado Federal e da Câmara dos Deputados.

O evento contou em sua abertura com as presenças do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, da presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, Kátia Abreu, do presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, Aécio Neves.

O evento incluiu quatro ciclos de palestras, onde especialistas debateram o agronegócio sustentável no Brasil, a relação do comércio exterior com a segurança alimentar, o financiamento do desenvolvimento sustentável e a economia criativa na Amazônia.

O presidente Celso Moretti participou do painel que discutiu o agronegócio sustentável, junto com o governador do Estado do Pará, Helder Barbalho; o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais e ex-secretário de Política Agrícola do Mapa, André Nassar; e o presidente do Sebrae Nacional, Carlos Melles.

Moretti falou sobre os três pilares da pesquisa pública que contribuíram para o desenvolvimento da agricultura tropical brasileira. “A pesquisa pública abriu caminho para um setor privado ágil, punjante e empreendedor”, afirmou.

Ele lembrou que nos últimos 50 anos, a Pesquisa, o Desenvolvimento e a Inovação (PDI) na agricultura brasileira removeram limitações importantes e permitiram que o Brasil saísse da condição de importador de alimentos para exportador e responsável por alimentar atualmente mais de 800 milhões de pessoas no mundo.

Entre os três pilares estão a transformação dos solos ácidos e pobres em solo fértil, a tropicalização de variedades e animais e o desenvolvimento de uma plataforma de produção sustentável.

Como exemplo do potencial agrícola nacional, a partir da tropicalização de variedades e animais,  citou o que hoje representa a cultura do milho, distribuída em todo território nacional, e o que pode vir a ser o trigo tropical, desenvolvido por pesquisadores. “O mundo não acredita que seríamos capazes de fazer isso, mas a Embrapa, junto com parceiros, está tropicalizando o trigo. Um produtor de Cristalina (GO) colheu há exatos 48 dias 9,6 mil quilos de trigo por hectare. Foi recorde mundial. O Brasil ainda importa trigo, é a única commodity que ainda importamos, mas com investimento, políticas públicas adequadas vamos nos tornar autossuficientes.

Com relação ao terceiro pilar, o desenvolvimento de uma plataforma de produção sustentável, Moretti reafirmou a importância do Sistema Plantio Direto, da Fixação Biológica do Nitrogênio e do ILPF. “O Brasil já saiu do discurso e veio para a ação na agricultura brasileira, na agricultura de baixo carbono”, disse o gestor da Embrapa. Moretti lembrou que quando se tem dados não há argumentos e mostrou a percentagem que cada país utiliza em sua conservação ambiental. “Desmatamento ilegal é um problema que precisa ser tratado, mas não é coisa de produtor rural, que respeita a legislação”, afirmou.

Agricultura conservacionista

Ele apresentou um mapa produzido a partir de dados obtidos da Nasa, do Serviço Geológico Americano e da Google enfatizando que na Dinamarca, 76% do território é ocupado pela agricultura, enquanto que no Brasil a agricultura ocupa apenas 7,6% em produção de grãos.

Sobre o plantio sobre a palha, Moretti explicou que o Brasil consegue fazer até três safras por ano, com possibilidade de uma quarta safra que vem sendo chamada de colheita do carbono. O Brasil usa 7,6% do território para a produção de grãos e tem mais 90 milhões de hectares com algum dado de degradação que podem vir a se tornar agricultáveis. “São pastagens degradadas que podem ser convertidas para a agricultura, permitindo que se dobre a produção de alimentos, fibras e energia sem necessidade de desmatamento ilegal e respeitando o Código Florestal”, explicou.

O Brasil já alimenta mais de 800 milhões de pessoas no mundo, exporta para 209 países e faz isso com pesquisa, desenvolvimento, tecnologia e inovação.

A descarbonização da agricultura já é uma realidade

O Brasil vem fazendo este trabalho há mais de 3 décadas, quando se iniciou no país a tecnologia da ILPF. “Vários países já declararam o seu compromisso com carbono zero, como China, Brasil e Estados Unidos, além de grandes empresas internacionais e eu não tenho dúvidas que a pesquisa vai contribuir fortemente para se atingir essas metas”, disse o presidente da Embrapa. E complementou destacando a importância do parlamento para estabelecer políticas públicas que apoiam o agro brasileiro.

Moretti exemplificou como importantes políticas públicas o Código Florestal, o Plano ABC agora com o ABC+, o Renovabio para a produção sustentável de biocombustíveis e mais recenmente o Pronasolos. “Embora o Brasil seja essa potência de alimentar daqui a pouco 1 bilhão de pessoas e só conhecemos em detalhes 5% dos nossos solos, imagina quando conhecermos 50% dos solos brasileiros, com o Pronasolos”, explicou.

Para Moretti, o Brasil saiu do discurso e já está na ação com a descarbonização da agricultura: o sistema de plantio direto já ocupa mais de 50 milhões de hectares no Brasil, a Fixação Biológica de Nitrogênio permitiu que o país produzisse 37 milhões de hectares de soja no ano passado sem necessidade de usar um grama de adubo nitrogenado que tem como fonte a energia fóssil. O FBN foi descoberto em 1993 bactérias que sequestram nitrogênio da atmosfera e entregam para a planta. Assim, no ano passado, o Brasil deixou de gastar R$ 28 bilhões de reais em adubo nitrogenado e deixou de emitir 100 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera porque não precisou usar adubo de fonte fóssil.

“Temos algo em torno de 10 milhões de florestas plantadas e até 2025 chegaremos a mais 2 milhões de hectares e o ILPF saltará de 17 milhões para 30 milhões. É o efeito poupa- terra, sem essa tecnologia precisaríamos do triplo de área para produzir soja, por exemplo”, disse.

Protocolos de Carne de Baixo Carbono, Soja de Baixo Carbono, Couro de Baixo Carbono e Algodão também foram mencionados na apresentação do presidente. Ele falou ainda sobre a uva carbono neutro, que vem sendo pesquisada pela Embrapa. “A ciência, a tecnologia e a inovação vão contribuir de forma significativa para essa economia neutra em carbono”, afirmou.

Em um segundo painel, a senadora Kátia Abreu se referiu por diversas vezes à Embrapa, ressaltando a importância que a Embrapa teve para que o país se tornasse o que é hoje, uma potência agrícola produtora de alimentos com sustentabilidade. Ela reafirmou os dados apresentados pelo presidente da Embrapa.

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