Soja e Milho: como o mercado se comportou - 19/12/2022

Soja: semana passada foi marcada por leves oscilações em Chicago; Milho: semana bastante lenta em negociações no mercado interno

19.12.2022 | 18:05 (UTC -3)
Ruan Sene, da Grão Direto

A semana passada foi marcada por leves oscilações em Chicago, com o mercado sendo afetado pelo clima (na América do Sul) e pela economia (preocupações de uma possível recessão global). O contrato com vencimento em janeiro/2023, finalizou a sexta-feira valendo U$14,79 o bushel (-0,20%) e o com vencimento em março/2023, U$14,83 o bushel, também negativo (-0,20%).

O início da semana foi afetado pela melhora pontual do clima na Argentina, com chuvas inesperadas durante o fim de semana, pressionando as cotações da soja e seus derivados em Chicago. Entretanto, essas condições não permaneceram, reacendendo o alerta de uma possível quebra de safra no país argentino.

O plantio da safra 2022/23 na Argentina ainda continua bastante atrasado. De acordo com a Bolsa de Cereales de Buenos Aires (BCBA), o país atingiu 50,6% da área plantada, contra 64,8% do mesmo período do ano passado. O plantio continua ameaçado pela falta de água e pelas altas temperaturas que se mantêm desde novembro. Além disso, há bastante desigualdade na emergência da soja semeada, apresentando incertezas sobre o seu desenvolvimento satisfatório.

De acordo com relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgado no dia 12/12, no Brasil, o plantio chegou bem próximo da conclusão, atingindo 95,9% a nível nacional. No geral, as lavouras encontram-se em condições satisfatórias de desenvolvimento, com exceção do Rio Grande do Sul, que apresenta baixa reserva hídrica no solo, prejudicando a soja que já foi semeada. Esse cenário é típico da manifestação do fenômeno “La Niña”, que provoca escassez de chuvas no sul da América do Sul.

Em relação às exportações americanas, os números são positivos. De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), as vendas efetivas da temporada 2022/23 foram de 2,9 milhões de toneladas na semana encerrada em 8 de dezembro. A estimativa do mercado era entre 1,5 milhão e 2 milhões de toneladas. Esses números começam a mostrar que a demanda pode começar a se aquecer, principalmente por parte China, que se encontra com estoques em níveis abaixo da média.

Além disso, a moeda americana teve uma semana de muita oscilação, fechando a sexta-feira sendo cotada a R$5,29 (+0,76%). No cenário internacional, o banco central dos EUA aumentou em 0,50 ponto percentual a taxa de juros do país. O aumento já era esperado, porém, o discurso do seu principal representante, dizendo que as taxas poderão continuar altas por mais tempo, trouxe muita aversão ao risco no mercado, o que reforça a possibilidade de uma recessão econômica.

Segundo o analista da Grão Direto, com a queda de Chicago e alta do dólar, as cotações da soja brasileira se mantiveram estáveis com leves quedas, em relação à semana anterior.

O que esperar do mercado de soja

O clima na América do Sul vai continuar sendo um fator muito importante diante da evolução do plantio. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) projeta chuvas volumosas para todo o Brasil, com exceção do nordeste e sul, afetando principalmente o Rio Grande do Sul.

Por outro lado, as precipitações continuarão abaixo da média no cinturão produtor da Argentina, mantendo a preocupação com a evolução do plantio e desenvolvimento das lavouras. Esse cenário mantém as cotações do complexo soja (farelo e óleo) pressionadas em Chicago.

Além disso, a confirmação do retorno da China às compras será refletida nos números de exportações americanas desta semana, que poderão vir acima da expectativa do mercado, novamente. Isso será observado com atenção, podendo refletir um movimento de alta em Chicago.

O movimento de valorização da moeda americana no mercado internacional deve continuar, diante da expectativa de que as taxas de juros americanas poderão se manter altas por mais tempo, atraindo capital para os Estados Unidos. O cenário interno continua indefinido, com movimentações políticas que causam incertezas ao mercado.

Caso esse cenário se confirme, Ruan Sene, especialista no mercado de grãos, da Grão Direto, acredita que essa semana poderá ser marcada por valorizações nas cotações brasileiras em relação à semana anterior.

Milho: como o mercado se comportou na última semana?

A semana foi bastante lenta em negociações no mercado interno. Compradores estão com estoques satisfatórios para passar o mês e tentam puxar os preços para baixo, diante do estoque ainda grande, resultante da safrinha.

Já no cenário externo, o mercado continua aquecido, com Chicago fechando a semana em alta, valendo US$6,53 por bushel (+1,40%). Os principais motivadores da alta de Chicago foram a situação climática ruim na Argentina e temores sobre o ataque no porto de Odessa, na Ucrânia.

Na Argentina, o plantio da safra 2022/23 segue bastante atrasado, com apenas 42,6% da área plantada, de acordo com a Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA). O milho que foi plantado até meados de outubro está em condições razoáveis a ruins. Com previsões que indicam a continuidade do padrão de seca, esses hectares têm pouquíssimas chances de reverter o quadro, reforçou a BCBA.

Em relação à safra 2022/23 no Brasil, o plantio segue evoluindo, uma vez que o plantio de milho alcançou 76,6% até o dia 12/12, de acordo com Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No geral, as lavouras encontram-se com condições satisfatórias de desenvolvimento, com exceção do Rio Grande do Sul, que apresenta baixa reserva hídrica no solo.

Em relação às exportações, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou 1,5 milhões de toneladas em apenas 7 dias úteis de dezembro. Isso representa um aumento de 46% na média diária em relação ao mês de novembro de 2021. Caso continue nesse ritmo, pode superar 5 milhões de toneladas durante o mês.

O que esperar do mercado de milho

O clima na América do Sul continuará sendo um fator muito importante diante da evolução do plantio. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) projeta chuvas volumosas para todo o Brasil, com exceção do nordeste e do Rio Grande do Sul. Contudo, segundo Ruan Sene, analista de mercado da Grão Direto, as precipitações no cinturão produtor da Argentina continuarão abaixo da média, mantendo a preocupação com a evolução do plantio e desenvolvimento das lavouras.

Em relação às exportações, há fortes indícios de que dezembro será mais um mês bastante expressivo em compras, fazendo concorrência com o mercado interno, que se encontra bem abastecido nesse momento.

Novos acontecimentos referentes ao conflito entre Rússia e Ucrânia, que afetam diretamente o escoamento de milho e trigo, impactarão a oferta desses cereais para o mundo, podendo provocar movimentações em Chicago.

Diante disso, as cotações brasileiras poderão ter uma semana de valorização, em relação à semana anterior, prevalecendo o movimento de demanda externa no Brasil.

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