Unidade Mista de Pesquisa do Cacau reúne experiência e tecnologia para alavancar produção nacional
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A Sociedade Americana de Fitopatologia (The American Phytopathological Society - APS) acaba de editar a publicação Ferrugem da soja: lições aprendidas com a pandemia no Brasil - Soybean Rust: Lessons Learned from the Pandemic in Brazil - que apresenta a história da ferrugem-asiática da soja no Brasil, escrita pelo pesquisador aposentado da Embrapa, José Tadashi Yorinori, antes do seu falecimento em 2016.
O livro foi editado pelo professor Glen L. Hartman (universidade de Illinois, EUA) e pelos pesquisadores Maurício C. Meyer, Ademir A. Henning e Cláudia V. Godoy (ex-colegas de Yorinori na Embrapa Soja), que atualizaram e ampliaram os documentos sobre o papel de Yorinori no desenvolvimento de estratégias para manejo e transferência de tecnologias sobre a doença no Brasil.
Tadashi fornece detalhes sobre a identificação da ferrugem da soja, no Brasil, em 2001, e as ações realizadas na busca de fontes de resistência no mundo para compreender a agressividade da doença e reduzir seus danos. Além disso, a publicação traz a história e o impacto econômico da doença no Brasil e as técnicas de manejo que foram introduzidas como resultado do trabalho colaborativo. Estas técnicas minimizaram a propagação da ferrugem da soja no Brasil e forneceram uma base para o manejo eficaz da doença quando ela se espalhou para os Estados Unidos apenas três anos depois. Importante enfatizar que, nesses 20 anos da doença no Brasil, a contribuição da ciência, ao longo dos anos, serviu de norte para as tomadas de decisão do poder público e produtores rurais.
Além do aspecto histórico sobre a ferrugem-asiática da soja, o livro também poderá ser usado como apoio ao aprendizado de jovens profissionais. Os detalhes desta aventura destacam a importância da fitopatologia no manejo de doenças em todo o mundo.
O agrônomo Marcos Yorinori, um dos filhos de Tadashi, conta que a família ficou orgulhosa de ver os anos de pesquisa e dedicação do pai ao trabalho transformados em livro. “Não tínhamos a dimensão da repercussão que o trabalho dele teve ao setor produtivo. Todo o apoio que foi dado para a edição deste livro é muito gratificante, porque ele dedicou grande parte da vida ao trabalho”, lembra. “Além do mais, a publicação deste livro era um sonho dele e ver isso concretizado é um reconhecimento merecido”, conta.
A filha de Yorinori, Mary Yorinori, reconhece que a edição do livro só foi possível pela colaboração de vários colegas e amigos que se empenharam para que fosse editado. “Esse lançamento significa muito para nós. Sempre vimos nosso pai tão focado e tão preocupado com seu trabalho, e ele nos ensinou que devemos sempre dar o nosso melhor no que fazemos, que devemos nos dedicar aos estudos, e agora vemos que ele fez o seu melhor e sempre continuou estudando, e com isso, deixou uma grande contribuição para a agricultura”, conta Mary.
O pesquisador Maurício Meyer, da Embrapa Soja, um dos editores da publicação, explica que os editores atualizaram os manuscritos com alguns dados relacionados à incidência da doença e aos custos da ferrugem. Meyer ressalta que uma das principais contribuições de Tadashi foi estabelecer as linhas de manejo da doença no Brasil, além de ser idealizador e incentivador da criação do vazio sanitário pelos estados produtores de soja. “Tadashi proferiu inúmeras palestras e reuniões para fomentar a criação do vazio sanitário no Brasil”, conta. Meyer diz ainda que o pesquisador trabalhou na busca por controle químico eficiente, por meio, do posicionando adequado dos fungicidas e estimulou o desenvolvimento de cultivares resistentes à doença.
A pesquisadora Claudia Godoy, da Embrapa Soja, também editora da publicação, conta que o que mais chamava atenção no Tadashi era a paixão pela profissão. A pesquisadora lembra que ele adorava viajar e visitar um campo de soja com problema e sempre palestrava como se fosse a primeira vez. “Falava sempre com empolgação e tinha habilidade de comunicação, prendendo a atenção de todos. Conhecido no Brasil e no exterior era uma pessoa carismática e sempre disposta a ajudar e ensinar. Tadashi foi um dos principais fitopatologistas de soja no País e deixou um grande legado para a sanidade da cultura no Brasil”, conta.
Também editor, o pesquisador Ademir Henning conheceu Tadashi, no início da década de 1980, quando ambos já eram pesquisadores da Embrapa Soja. Em 1981, a Embrapa passou a recomendar o tratamento de sementes de soja com fungicidas para evitar a disseminação de doenças via sementes. “Era algo novo e, por isso, existia muita resistência no setor produtivo, mas tive muito o apoio do Tadashi que sabia da importância a tecnologia e era conhecido e bastante respeitado. Nosso relacionamento foi sempre de muita parceria”, conta. “Tadashi era muito determinado e as palestras dele, sempre muito contundentes e respaldadas em conhecimento agronômico bastante profundos”, rememora Henning.
O pesquisador Romeu Kiihl que conheceu Tadashi, em 1974, e trabalhou com ele por vários anos na Embrapa Soja, considera Tadashi um fitopatologista completo. Ele destaca tanto sua ampla formação agronômica, quanto seu conhecimento profundo sobre as doenças da soja, seu raciocínio rápido e ainda a facilidade em transferir os conhecimentos adquiridos. “Era um pesquisador diferenciado. Foi ele quem avaliou as primeiras fontes de resistência à ferrugem da soja que foram usadas nos programas de melhoramento genético da Embrapa. Infelizmente, já no segundo ano, apareceram novas raças da doença e houve quebra de resistência”, conta. “Também deu grande contribuição ao desenvolvimento de metodologia para avaliação de fontes de resistência a doenças como a mancha-olho-de-rã e cancro-da-haste. Os protocolos se tornaram rotina nos programas de melhoramento da Embrapa”, lembra.
O consultor Nery Ribas, que era secretário de agricultura de Primavera do Leste, em 2003-2004 e, posteriormente, consultor da Aprosoja-MT, lembra do apoio que o estado de Mato Grosso teve do pesquisador Tadashi, no início da doença no País. “Tadashi teve papel estratégico na implantação do vazio sanitário da soja no Brasil, que é uma das principais ferramentas de manejo da doença até hoje”, lembra. “O Tadashi estava sempre compartilhando seu conhecimento sobre a ferrugem, formas de identificação da doença, de infecção e disseminação do patógeno, assim como nas estratégias de manejo da doença”, recorda.
José Tadashi Yorinori era engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Paraná, tinha mestrado na Universidade de Cornell e doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Illinois (EUA). Com forte atuação no manejo e no controle de doenças, destacou-se pela ênfase no desenvolvimento de cultivares de soja com resistência a doenças.
Tadashi dedicou-se intensamente na identificação e no controle das principias doenças de soja, desde a epidemia da mancha olho de rã, em 1972, e do cancro da haste, em 1989. A partir da safra 2001/02, seus esforços foram direcionados à ferrugem asiática da soja, a mais severa doença da cultura. Ele foi um dos idealizadores do vazio sanitário, período de 60 a 90 dias em que não se pode semear ou manter plantas vivas de soja no campo. O objetivo do vazio sanitário é reduzir a sobrevivência do fungo causador da ferrugem asiática durante a entressafra e assim atrasar a ocorrência da doença na safra.
O pesquisador iniciou seu trabalho no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e trabalhou na Embrapa Soja, de 1978 a 2007. Antes de falecer, atuava como consultor para produtores rurais e entidades ligadas ao setor produtivo no Brasil e no exterior.
O livro está sendo comercializado no site da APS disponível aqui.
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