Gostosas, nutritivas e feitas sob medida para o mercado de alimentos saudáveis e funcionais, que cresce a passos largos no mundo – 12,3% ao ano, em média, de acordo com dados da agência Euromonitor International – as nozes, castanhas e frutas secas ainda não têm o mercado que merecem no Brasil. Enquanto o volume de exportações do Chile, por exemplo, cresceu seis vezes em 10 anos (2007-2017), o do Brasil ficou estagnado em aproximadamente US$ 200 milhões.
Para discutir os principais gargalos desse setor no País e buscar soluções inovadoras para ampliar o mercado interno e externo, o presidente da recém-criada Associação Brasileira de Nozes e Castanhas e Frutas Secas (ABNC), José Eduardo Camargo, visitou no dia 14 de fevereiro a sede da Embrapa em Brasília, acompanhado do presidente da Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (ABIS), Eduardo Weisberg.
Segundo Camargo, que também é diretor da Divisão de Nozes e Castanhas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a Associação foi criada em 2017 para unir forças em prol do desenvolvimento dessas cadeias produtivas de forma sustentável e competitiva no Brasil, com foco no aumento da produção, comercialização e consumo, além da geração de renda e crescimento das agroindústrias.
Ele explica que das oito nozes e castanhas mais consumidas no mundo (avelã, amêndoa, amendoim, pecã, pistache, macadâmia, castanhas e nozes), quatro são produzidas no Brasil: a de caju, do Brasil (também conhecida como do Pará), macadâmia e noz pecã. Mais recentemente, o baru, que é uma castanha originária do bioma Cerrado, vem ganhando espaço no mercado interno, mas ainda não é reconhecida no exterior. No mundo, esse mercado movimenta cerca de US$ 35 bilhões e cresce cerca de 6% ao ano. “Na Califórnia, por exemplo, a produção de amêndoas, pistache e nozes ocupa uma área superior a 560 mil hectares e gera benefícios financeiros da ordem de US$ 10 bilhões”, enfatiza.
O Brasil ainda está muito longe disso, como explica o presidente da ABNC, mas há muito potencial de crescimento. Segundo ele, o Brasil já foi o maior produtor mundial de castanha do Pará, com 23% do cultivo mundial. Hoje está em oitavo lugar nesse ranking.
De olho no mercado orgânico
Camargo destaca que as castanhas e nozes merecem um espaço mais solene no cenário agrícola brasileiro. Além de fontes comprovadas de gordura boa, todos os anos novas pesquisas comprovam mais benefícios desses produtos, como redução do colesterol e de triglicerídeos no sangue, entre outros.
Por isso, desde que foi criada, a ABNC tem como objetivo estreitar o contato com parceiros nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e fomento no País. “Já estivemos no BNDES, Mapa e chegamos à Embrapa, que é uma referência no crescimento e consolidação do agronegócio brasileiro”, ressalta Camargo.
Eles foram recebidos pelo secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Bruno Brasil, e pelo assessor da Diretoria Executiva, Ruy Fontes, e destacaram como principal expectativa em relação à Empresa o desenvolvimento de soluções biológicas e sustentáveis para o controle de pragas e doenças dessas oleaginosas. “Precisamos entrar com força no mercado de produtos orgânicos, mas ainda somos muito dependentes de defensivos químicos no Brasil”, ressaltou Camargo, lembrando que o desenvolvimento de variedades com tolerância à seca também está na mira da ABNC.
Ele ressalta ainda a necessidade de mais pesquisadores dedicados aos estudos com essas oleaginosas.
Macadâmia: produção é mais fácil do que parece
Outro objetivo da instituição é aumentar a produção de macadâmia no Brasil. O País possui hoje 6.500 hectares cultivados com esse produto. São Paulo é o maior produtor, com 2.200 hectares, seguido de Espírito Santo e Rio de Janeiro.
“Aonde dá café, dá macadâmia”, comenta Camargo, lembrando que a produção dessa noz é muito satisfatória só que os resultados financeiros são obtidos a longo prazo. “Não há outro produto com a rentabilidade da macadâmia”, afirma o presidente da Associação, que também é proprietário da QueenNut, de Dois Córregos, em São Paulo.
A produtividade média é de 4 a 5 toneladas por hectare, mas trata-se de um investimento a longo prazo, uma vez que a produção começa entre quatro a cinco anos após o plantio e a árvore chega à idade adulta e de maior produção a partir de 12 anos. “Em São Paulo, por exemplo, com a proibição da queima da cana-de-açúcar a produção de macadâmia passou a ser uma alternativa para quem tem áreas em que não é possível colher cana com máquinas”, pontua.
Objetivo é aliar pesquisa e produção
O objetivo dos representantes da ABNC é estreitar a cooperação técnica com a Embrapa em prol do mercado de nozes e castanhas no Brasil. Segundo Weisberg, já há algumas ações em parceria com as unidades de Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ), Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e Agroindústria Tropical (Fortaleza, CE). Essas iniciativas estão voltadas, principalmente, às cadeias produtivas de sorvete e cosmético. “Um dos estudos pretende desenvolver sorvetes enriquecidos com ferro e cálcio para atletas, idosos e crianças”, explica o presidente da ABIS.
Outra ideia é desenvolver produtos diferenciados para o mercado de acordo com as peculiaridades dos biomas brasileiros.
Bruno Brasil apresentou a estrutura da Embrapa, que hoje conta com 9733 empregados, sendo 2425 pesquisadores, distribuídos nas 42 unidades de pesquisa da Empresa em todas as regiões brasileiras.
Segundo ele, entre os anos de 2008 a 2019, 51 projetos de pesquisa da Embrapa envolvendo estudos com nozes e castanhas foram executados ouainda estão em execução, abrangendo aproximadamente R$ 15 milhões e sete unidades do sudeste, nordeste e centro-oeste. Entre as principais culturas-alvo, destacam-se a castanha de caju (49%) e a do Pará/Brasil (41%).
Inovação aberta é o caminho
O secretário explicou aos representantes da ABNC as mudanças estruturais iniciadas na Embrapa há cerca de um ano com o objetivo de mudar o foco de atuação da Empresa de produção para inovação. De acordo com ele, a inovação aberta – modelo no qual pesquisa e setor produtivo constroem juntos os projetos é o caminho para estreitar a parceria com o setor produtivo de nozes e castanhas, entre outros.
A partir de março de 2019, parte do orçamento de pesquisa da Empresa será dedicado exclusivamente a parcerias com o setor produtivo, de forma descentralizada, ágil e em fluxo contínuo sem necessidade de editais. Até 2022, a expectativa é que esse número chegue a 50%.
Segundo Brasil, a expectativa é facilitar a formação de parcerias com as unidades de pesquisa da Embrapa. “Com essas mudanças estruturais, os representantes do setor produtivo não precisarão mais procurar a sede da Empresa ou esperar por editais para discutir ações integradas. Todas as unidades estarão aptas a fazer isso de forma ágil e flexível”, enfatizou.
O secretário explicou ainda que a contrapartida das empresas depende do porte de cada parceiro, podendo variar de um terço (33%) do projeto até zero, no caso de inovação social direcionada a pequenos agricultores.
O novo modelo de atuação despertou bastante o interesse dos representantes da Associação, que ficaram de enviar ao secretário de P&D as demandas por escrito para embasar a formação de futuras parcerias entre as instituições.