Reunião discute conservação de diversidade genética em comunidades tradicionais

06.03.2009 | 20:59 (UTC -3)

Os recursos genéticos vegetais constituem a base da cadeia alimentar do homem e não podem, portanto, desaparecer. Conservar esses recursos é um dos objetivos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, que promove dois tipos de conservação: ex-situ, ou seja, fora do seu local de origem, em seu banco genético (atualmente com mais de 100 mil amostras de sementes) e on farm, ou in-situ, quando a conservação é feita no próprio local onde as espécies são encontradas e utilizadas pelos agricultores.

Na semana de 2 a 6 de março, pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia participaram da Reunião Técnica sobre Conservação On Farm. O encontro teve como objetivo principal sistematizar as experiências da conservação on farm realizadas pelos pesquisadores da Unidade e identificar os desafios e oportunidades no cenário atual e futuro.

No evento, os pesquisadores Patrícia Bustamante, Fábio Feitas, Terezinha Dias e Sandra Beatriz Zarur apresentaram as experiências que coordenam na área de consevação on farm.

Projetos unem passado e futuro

A agrônoma e bioquímica Patrícia Bustamente falou do Projeto Montes Claros, sob sua coordenação desde 2007. O projeto trata da conservação on farm entre os gerazeiros, população tradicional que vive no norte de Minas Gerais. Segundo ela, o trabalho começou com uma pesquisa que tinha como objetivo conhecer os recursos genéticos que a população mais consumia para avaliar o que seria mais importante conservar. A pesquisa concluiu que o arroz, o feijão, o pequi, a abóbora e a banana eram as espécies mais consumidas.

Depois foi realizado um trabalho para verificar que espécies eram plantadas na comunidade pelas gerações passadas e não estavam mais presentes na agricultura atual. A conclusão é que essas espécies continuavam na própria comunidade, já que alguns membros mais idosos haviam guardado as sementes.

A partir daí, a pesquisadora decidiu incentivar a realização de feiras de sementes, para que as espécies mais antigas fossem replantadas por todos. A partir desse trabalho, uma organização não-governamental local também decidiu construir uma câmara fria na própria comunidade, que será inaugurada nos próximos dias.

"A idéia final desse projeto é trazer os guardiões das sementes para compor o quadro de curadores de germoplasma da região. O projeto também comprovou que não existe agricultura tropical sem a escuta ao agricultor, ou seja, o conhecimento não pode vir apenas do laboratório, mas sim das comunidades, que têm muito a contribuir", afirma Patrícia.

Outro projeto apresentado foi o do pesquisador da área de genética Fábio Freitas, o Projeto Xingu. No projeto, ele trabalha com três aldeias indígenas que vivem no Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso, onde há mais de 14 etnias no total.

Entre os trabalhos desenvolvidos pela Embrapa junto a estas etnias está a recuperação de uma planta tradicional dos índios Kayapó, conhecida como Kupá - Cissus gongylodes Burch - também conhecido como cipó babão ou mandioca aérea. A planta é utilizada como coagulante do látex retirado das seringueiras e também como alimento e estava desaparecida desde meados do século XX. A recuperação dessa variedade genética foi feita a partir de pedido dos próprios índios, que ouviam histórias do cipó Kupá e o tinham até nas canções tradicionais de suas aldeias.

Outro trabalho desenvolvido por Fábio nas aldeias indígenas do alto Xingu foi a sensibilização ambiental no manejo do Tracajá, animal parente da tartaruga da Aamazônia que estava desaparecendo da região. Com o auxílio da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e do Instituto Chico Mendes, indígenas da aldeia Kamayurá-Morená iniciaram um trabalho de recuperação da população de tracajá nas áreas próximas a sua aldeia, protegendo algumas praias do rio Xingu da extração desordenada de ovos, filhotes e adultos e criando viveiros protegidos para esses animais. Como resultado do trabalho de educação ambiental, em 2008 foram soltos mais de quatro mil tracajás no rio Xingu.

A pesquisadora Terezinha Dias falou sobre o desenvolvimento do Projeto Krahô, cujas atividades estão focadas na oferta de cursos de capacitação e divulgação da conservação local da agrobiodiversidade indígenas com os povos Krahô, Kaiabi, Yawalapiti, Canela e Apinajé.

Os resultados da reunião deverão permitir o realinhamento e o planejamento de ações de conservação on farm para os próximos anos, e identificar e ampliar possíveis parcerias para os projetos.

Irene Lôbo

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

(61) 3448-4773 e 3340-3672 /

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

acessar grupo whatsapp
Agritechnica 2025