Resultados da aplicação de gesso agrícola em algodoeiro

Importante método de correção do solo, o uso de diferentes doses de gesso agrícola em áreas cultivadas com algodoeiro no Cerrado brasileiro demanda atenção e conhecimento

08.07.2020 | 20:59 (UTC -3)
Leonardo Quirino de Oliveira, Marciana Cristina da Silva e Fernando Rezende Costa

O algodão Gossypium hirsutum L. é a mais importante fonte de fibra vegetal para a confecção têxtil, tanto no Brasil como nas demais regiões produtoras do mundo. É também responsável por uma grande parcela de empregos no agronegócio tanto diretos como indiretos.

No Brasil o algodão é explorado economicamente em vários estados brasileiros como Mato Grosso, Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul, com o uso de técnicas de produção que permitem alcançar elevadas produtividades, dependendo da cultura, do tamanho da propriedade e também da consorciação com outras culturas.

O algodoeiro é uma planta muito exigente quanto à fertilidade do solo, sendo sensível à acidez, à presença de alumínio e manganês tóxicos, à salinidade e à compactação, preferindo solos de textura média profundos, ricos em matéria orgânica, permeáveis, bem drenados e de boa fertilidade.

Os solos ácidos são muito prejudiciais a qualquer cultura, pois são normalmente pobres em cálcio, magnésio e potássio, essenciais para a germinação das sementes e o desenvolvimento da parte radicular da planta. Isso afeta diretamente o algodoeiro, limitando seu rendimento.

 Semeadura foi realizada com a cultivar BRS 201, após o tratamento das sementes com inseticida piraclostrobina, em vasos de 15dm3
Semeadura foi realizada com a cultivar BRS 201, após o tratamento das sementes com inseticida piraclostrobina, em vasos de 15dm3

O enxofre é um elemento com baixa concentração devido à alta intemperização da maioria dos solos de Cerrado, além das perdas por volatização durante as queimadas. Neste contexto vem sendo realizados vários estudos para análise do seu comportamento, bem como doses, fontes e modos de aplicação, fatores que dependem muito da característica do solo a ser trabalhado.

A utilização do gesso agrícola é recente, talvez devido ao pouco conhecimento da sua importância no desenvolvimento vegetativo. Aliado à aplicação de calcário, o gesso também é um importante método de correção do solo, já que, ao contrário do calcário, apresenta grande solubilidade no solo. Portanto, consegue atingir camadas mais profundas no solo, para a correção dos teores de alumínio e como fonte de enxofre, na forma de sulfato e cálcio para estas camadas, já que o aumento da exploração do sistema radicular da cultura possibilita maior aproveitamento dos nutrientes e das condições hídricas do solo.

Nas adubações realizadas com o enxofre, outras culturas também podem aproveitar o nutriente nos anos seguintes porque possui alto efeito residual, podendo permanecer até cinco anos depois da primeira aplicação. Isso se deve à elevada capacidade de absorção de sulfato nas camadas subsuperficiais do solo do Cerrado, agindo também como condicionador do solo.

Calagem e gessagem

O nível de pH do solo pode ter efeitos significativos sobre o crescimento radicular relativo. Em pH abaixo de 5, as raízes podem parecer amareladas, com algumas pontas enegrecidas. Com nível de pH mais desejável até o patamar de 6,5, as raízes serão mais longas e exibirão mais ramificações. Na Figura 1 é possível observar o desenvolvimento radicular mostrando os efeitos do pH do solo mais baixo (maior acidez do solo) sobre o comprimento e o crescimento radicular.

Figura 1- Desenvolvimento radicular do algodoeiro sob efeito do pH no solo
Figura 1- Desenvolvimento radicular do algodoeiro sob efeito do pH no solo

O teor de argila é diretamente ligado com a capacidade de absorção do sulfato, pois nela está contida a maior parte dos nutrientes, visto que o cálculo da quantidade de gesso se mede através da verificação da porcentagem de argila contida no solo.

Experimento

Com o objetivo de testar diferentes dosagens de gesso no desenvolvimento e produtividade da cultura do algodão, um trabalho foi conduzido na Fazenda Córrego da Onça, no município de São Luís dos Montes Belos, Goiás. O tipo de solo utilizado foi um Latossolo Vermelho Amarelo. A adubação empregada foi calculada em função da análise de solo conforme metodologia da Embrapa (1997). O solo foi homogeneizado e colocado em vasos de 15dm3.

A semeadura foi realizada com a cultivar BRS 201, após o tratamento das sementes com inseticida piraclostrobina, em vasos de 15dm3, com semeadura de três sementes por vaso, que posteriormente foi selecionada, deixando apenas uma planta por vaso. Cada parcela experimental foi composta por quatro plantas, com média analisada de acordo com os tratamentos: T1, T2, T3, T4, T5, T6, respectivamente 0, 1, 2, 4, 8, 16 T de gesso/ha.

As variáveis analisadas foram altura de planta, peso de raiz, número de maçãs por planta, com produtividade estimada para uma população de 250 mil plantas por hectare.

O gesso (CaSO4.2H2O) foi aplicado uma semana antes da semeadura, com as suas respectivas doses no solo e homogeneizado dentro dos baldes. Foi usado gesso contendo 16% de enxofre.

Também foi realizada adubação de cobertura com aplicação de nitrogênio usando ureia (44% N) no estádio R1, na dose 75kg/ha por meio da aplicação de 50ml de solução por vaso, e uma solução de boro a 10,5% em uma dose de 3kg/ha utilizando bórax.

Foram realizadas aplicações de forma preventiva de inseticidas imidacloprid; flubendiamida; fenpropatrina; fungicidas pyraclostrobina; azoxystrobin; carbendazim e acaricida acefato.

O delineamento estatístico foi o de blocos casualizados subdividido no tempo, com cinco repetições compostas por quatro plantas cada, e seis tratamentos (doses), totalizando 30 parcelas experimentais com um total de 120 plantas, avaliadas a cada 15 dias, com total de dez tempos. Foi realizada análise de variância e de regressão de duas variáveis: dose e tempo, por meio de superfície de resposta utilizando o software SAS.

A análise de variância demonstrou haver interação entre o tempo e as doses de gesso aplicadas à altura com significância de 5%, de acordo com a Tabela 1.

Por ser o algodão uma planta perene, o ciclo é interrompido com a aplicação de maturador, forçando a sua senescência ao atingir 70% a 80% dos capulhos abertos.

Para a altura de plantas, a melhor dose encontrada foi de 2t/ha (T3). A utilização do teor de argila como base para o cálculo sugere um valor de 1.600kg/ha. Uma alta dose de gessagem pode prejudicar o desenvolvimento da cultura por levar ao desequilíbrio nutricional, sendo em T3 a dose ajustada em função do tempo. Apresentou 77,1cm de altura para uma dose de 1.920kg/ha, com valores máximos aos 133 dias. Foi aplicado maturador por conta do crescimento indeterminado e ciclo anual por indução (Figura 2).

Figura 2 - Médias de altura de plantas em relação a tempo e dose. Sendo: T1, T2, T3, T4, T5, T6 respectivamente 0, 1, 2, 4, 8, 16 T de gesso ha-1
Figura 2 - Médias de altura de plantas em relação a tempo e dose. Sendo: T1, T2, T3, T4, T5, T6 respectivamente 0, 1, 2, 4, 8, 16 T de gesso ha-1

A análise do peso de raiz demonstra alta resposta do algodoeiro nos tratamentos T1, T2 e T3 e uma redução drástica nos tratamentos T4, T5 e T6, demonstrando um efeito negativo no crescimento radicular pela sua possível toxidez na planta (Figura 3).

Figura 3 - Peso de matéria seca da raiz. Sendo: 0, 1, 2, 4, 8, 16 T de gesso ha
Figura 3 - Peso de matéria seca da raiz. Sendo: 0, 1, 2, 4, 8, 16 T de gesso ha

O número de maçãs está diretamente ligado à produção do algodoeiro. Neste caso houve o aparecimento das primeiras maçãs aos 107 dias após a emergência, com seu ápice ocorrendo aos 119 dias. A abertura de 70% das maçãs se deu aos 133 dias, tendo sido realizada aplicação de maturador em todos os tratamentos. O número de maçãs em relação aos tratamentos mostra valores crescentes entre T1 (Figura 4), T2 e T3, porém com decréscimo acentuado para os demais tratamentos.

Figura 4 - Número de maças por tratamento em relação as doses aplicadas em T ha-1. Sendo T1, T2, T3, T4, T5, T6 respectivamente 0, 1, 2, 4, 8, 16 T de gesso ha-1
Figura 4 - Número de maças por tratamento em relação as doses aplicadas em T ha-1. Sendo T1, T2, T3, T4, T5, T6 respectivamente 0, 1, 2, 4, 8, 16 T de gesso ha-1

A análise de produção também revela um aumento crescente em relação às doses T1, T2 e T3 com decréscimo acentuado para os demais. Os valores ajustados são de 1.269,9kg/ha para uma dose de 3,48t/ha (Figura 5). Na região Nordeste do País, o valor de produtividade média da cultivar BRS 201 é de 1.942kg em área irrigada.

Figura 5 - Estimativa da produção em kg/ha em relação às doses aplicadas. Sendo T1, T2, T3, T4, T5, T6 respectivamente 0, 1, 2, 4, 8, 16 T de gesso/ha
Figura 5 - Estimativa da produção em kg/ha em relação às doses aplicadas. Sendo T1, T2, T3, T4, T5, T6 respectivamente 0, 1, 2, 4, 8, 16 T de gesso/ha

O algodoeiro apresentou resposta crescente à aplicação de gesso para os tratamentos T1, T2 e T3, com doses próximas a 2t/ha corroborando com os valores calculados segundo o teor de argila para culturas anuais. A produtividade ficou abaixo da média registrada para a cultivar BRS 201 nas condições avaliadas.

 

Leonardo Quirino de Oliveira, Marciana Cristina da Silva e Fernando Rezende Costa, Faculdade Montes Belos

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