Crédito para o setor rural soma R$ 73,8 bilhões em três meses do Plano Safra
O desempenho favorável do crédito rural refletiu no incremento de 28% em relação ao mesmo período anterior
O crescente aumento da população mundial trouxe consigo um grande desafio para a agropecuária, produzir mais alimentos em menor tempo e com qualidade suficiente para atender às exigências do mercado. Tal desafio somente é possível utilizando boas práticas agrícolas e tecnologias, desde o preparo do solo à colheita e transporte da produção.
Nesse contexto a aplicação de defensivos agrícolas ocupa lugar de destaque, tanto pelo apelo fitossanitário das lavouras como pelo meio ambiente. Sobre essa operação agrícola é comum que produtores levem em consideração, na maioria das vezes, somente o produto a ser aplicado, deixando em segundo plano a operação de aplicação propriamente dita, ignorando que a eficiência dos produtos depende diretamente da correta deposição das gotas no alvo desejado.
A tecnologia de aplicação auxilia nesta tarefa, possibilitando, a partir de um conjunto de conhecimentos, que as aplicações ocorram em condições ambientais adequadas, espectro de gotas com menor risco de deriva, segurança ambiental e viabilidade econômica.
Em culturas como a soja, que produzem elevada massa foliar e adensam bastante entre plantas e linhas de semeadura, é problema prático fazer com que as gotas de pulverização cheguem até o terço inferior das plantas, especialmente cobrindo as folhas mais baixas, onde doenças se desenvolvem com presteza. Como possibilidade de melhorar essa situação, são disponibilizados pelo mercado produtos adjuvantes, pulverizadores com assistência de ar, dentre outras tecnologias para aplicação de defensivos.
Tanto adjuvantes como assistência de ar nas barras do pulverizador são fatores que possivelmente influenciam o espectro de gotas de pulverização. Sendo assim, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Brasília realizou um trabalho para estudar a influência desses fatores na aplicação de defensivos agrícolas no terço inferior de plantas de soja.
O trabalho foi realizado durante a safra 2018/2019 pela equipe do Laboratório de máquinas e mecanização agrícola da Fazenda Experimental Água Limpa - Lamagri, pertencente à Universidade de Brasília. Para avaliar o espectro de gotas de pulverização no terço inferior da cultura da soja, cultivar AS3680, foi utilizada calda com e sem adjuvante, e feita aplicação com e sem assistência de ar na barra do pulverizador, perfazendo quatro tratamentos com seis repetições cada, distribuídos aleatoriamente em 24 parcelas com 140m2 cada.
Os tratamentos foram identificados por: T1 (calda sem adjuvante e com assistência de ar na barra de pulverização); T2 (calda sem adjuvante e sem assistência de ar na barra de pulverização); T3 (calda com adjuvante e com assistência de ar na barra de pulverização); T4 (calda com adjuvante e sem assistência de ar na barra do pulverizador).
As médias das condições meteorológicas de temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento durante a realização do ensaio foram respectivamente 29,2°C, 41,5% e 8,1km/h.
O adjuvante utilizado foi o Agrinor Multfix Espalhante Adesivo. Conforme informações da bula, o produto é um concentrado emulsionável composto por hidrocarbonetos não iônico, 920g/L de óleo mineral e 80g/L de ingredientes inertes. O pulverizador foi o modelo Falcon Vortex AM14, equipado com sistema Vortex de assistência de ar na barra e 29 pontas de pulverização modelo ADI110015 espaçadas em 0,5m. A velocidade de deslocamento do ar pelo sistema Vortex foi de 2,2m/s, medida com anemômetro descrito, a velocidade operacional foi de 6km/h e a taxa de aplicação foi de 0,75L/min (equivalente a 150L/ha).
A calda de pulverização foi formulada com água + adjuvante, sendo a dosagem do adjuvante referente à concentração de 1% do volume de calda, conforme recomendação da bula do produto. A calda foi aplicada com a cultura da soja em estágio de desenvolvimento R7, altura média de 75cm, e para avaliações de diâmetro mediano volumétrico das gotas (DMV), amplitude relativa (AR) das gotas e cobertura do alvo, foram utilizados papéis hidrosensíveis de dimensões 76mm x 26mm. Foram distribuídos 14 papéis por parcela, fixados sobre o limbo superior das folhas de soja, no terço inferior das plantas. Os papéis amostrados foram digitalizados com resolução 1.200dpi e submetidos a análises de imagem pelo programa computacional Gotas (Embrapa, 2015).
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. Os resultados são apresentados na Figura 1 e Tabelas 1 e 2.
Os resultados de diâmetro mediano volumétrico das gotas (DMV) indicam aumento do tamanho de gotas utilizando adjuvante na calda de pulverização. Com adjuvante, o DMV das gotas foi 8,26% maior que o obtido sem adjuvante. Os resultados podem ser compreendidos em função de o adjuvante atuar como espalhante, desta forma as gotas contendo o produto tendem a abranger maior superfície de contato sobre o alvo, portanto maior DMV das gotas e cobertura do alvo. Além disso, o adjuvante tende a aumentar a viscosidade da calda, consequentemente, o DMV das gotas aplicadas.
Em se tratando da aplicação com e sem assistência de ar na barra, não foram verificadas diferenças para o DMV. O resultado demonstra que a ferramenta não influencia o espectro de gotas, pois a tecnologia de assistência de ar na barra é fundamentada na formação de uma cortina de ar “soprado” em alta velocidade e incidida sobre o jato de pulverização. Tal cortina tem por finalidade aumentar a velocidade de deslocamento vertical das gotas e não alterar o espectro de gotas geradas pelas pontas.
Comparando as formas de aplicação para efeito na amplitude relativa do tamanho de gotas (Tabela 1), os menores valores foram obtidos com assistência de ar na barra. Com assistência, a amplitude relativa de gotas foi 7,3% e 5,6% menor que sem assistência, utilizando e não utilizando adjuvante, respectivamente, indicando ligeira vantagem ao uso de adjuvante.
Analisando somente a presença ou não de adjuvante na calda, notou-se que independentemente se a aplicação é sem ou com assistência de ar, o uso de adjuvante favorece menor amplitude relativa das gotas. Na aplicação sem assistência de ar a amplitude relativa das gotas com adjuvante foi 6,8% menor que sem adjuvante, e na aplicação com assistência de ar a presença de adjuvante reduziu a amplitude relativa em 8,4%.
Conforme explicam diversas pesquisas, quanto maior o valor de amplitude relativa das gotas, maior é a faixa de tamanho das gotas pulverizadas. Espectro de gotas homogêneo tem valor de amplitude relativa que tende a zero, traduzindo uniformidade de gotas e seguridade ao desejável quando escolhida a ponta de pulverização. Sendo assim, é possível destacar que a amplitude relativa das gotas pela interação entre aplicação com assistência de ar na barra + adjuvante na calda, possibilita condição de aplicação com espectro de gotas mais uniforme e, esse resultado analisado conjuntamente com o resultado de DMV, indica população de gotas com tamanho característico de 341,24µm. De acordo com a norma S572 (Asae, 1999), de classificação de gotas por tamanho do DMV, 341,24µm são classificadas na categoria de gotas médias.
Em se tratando de cobertura do alvo (Tabela 2), os resultados demonstraram que tanto a forma de aplicação como a presença de adjuvante diferenciaram a porcentagem de cobertura do alvo.
Com assistência de ar na barra, a cobertura do alvo foi 42,1% e 38,7% maior que sem assistência, utilizando calda com e sem adjuvante, respectivamente, indicando vantagens ao uso da cortina de ar durante a aplicação. Comparando os tipos de calda, os resultados demonstraram vantagem significativa para o uso de adjuvante, sendo a cobertura 51,7% e 48,9% maior que sem, utilizando aplicação com e sem assistência de ar, respectivamente.
A maior cobertura do alvo, 40,22%, obtida pela interação entre aplicação com assistência de ar na barra + adjuvante na calda, pode ser compreendida correlacionando os resultados da Figura 1, em que o adjuvante eleva o DMV das gotas e consequentemente é reduzido o risco de perdas para o ambiente, proporcionando maiores chances de elas atingirem o alvo e cobrirem o mesmo. Enfim, adjuvante na calda aumenta a possibilidade de maior quantidade de gotas depositarem no alvo.
A presença de assistência de ar na barra possibilita maior cobertura do alvo em função de favorecer o deslocamento/transporte das gotas até ele. Além da cortina de ar incrementar velocidade de deslocamento às gotas, ela favorece a turbulência de ar com gotas entre as folhas da cultura, mesmo as mais internas e baixeiras, possibilitando maior penetração e distribuição de gotas nas plantas, traduzindo em maior cobertura do perfil vertical da lavoura.
Com o trabalho, conclui-se que a combinação entre adjuvante na calda e assistência de ar na barra do pulverizador é ferramenta possível para a redução do risco de deriva, e que a interação entre esses proporciona espectro de gotas mais homogêneo e maior cobertura do alvo.
Arthur Gabriel C. Lopes, Pedro Sérgio R. Moura, Tiago Pereira da S. Correia e Francisco Faggion, UnB; Leandro Augusto F. Tavares, UFVJM/Unaí-MG
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