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Mais de 70 pessoas foram à Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologiapara assistir a palestras de dois médicos sobre as propriedades medicinais dos cogumelos comestíveis.
As palestras encerraram a programação do 40º Curso sobre Cogumelos Comestíveis e Medicinais, promovido pela Unidade da Embrapa, e foram abertas ao público de Brasília.
O curso, que vem sendo promovido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia desde 1996, tem como objetivo principal treinar produtores de todas as regiões brasileiras na tecnologia de cultivo denominada Jun-Cao. Essa tecnologia foi adaptada da China para o Brasil em 1995 pela pesquisadora e micologista da Unidade da Embrapa, Arailde Urben, e permite baratear o cultivo desses fungos, já que utiliza gramíneas como substrato ao invés de troncos e madeiras e serragem, como nos meios de cultivo tradicionais. O que a torna também ambientalmente mais saudável.
Arailde promove, no mínimo, dois cursos por ano sobre a tecnologia, capacitando cerca de 60 produtores rurais de várias regiões brasileiras. O objetivo é tornar a produção mais econômica, o que consequentemente, diminui o custo do produto final para o consumidor. Infelizmente, o alto custo dos cogumelos no Brasil faz com que o consumo ainda seja pequeno, quando comparado a outros países. "O consumo de cogumelos per capita no Brasil é de apenas 30g/ano, contra 2 kg na França, por exemplo," afirma a pesquisadora.
Por isso, é muito importante divulgar os benefícios dos cogumelos como alimentos funcionais ou nutracêuticos e torna-los mais acessíveis à população brasileira. Os cogumelos são alimentos muito nutritivos - com quantidade de proteínas superior a da carne - de 28 a 34% contra 14% da carne - e acima de alguns vegetais e frutas, ricos em vitamina, carboidratos e fibras, e com baixo teor de gordura.
Tantos anos de pesquisa e coletas de cogumelos por todas as regiões brasileiras fizeram com que o banco genético de cogumelos para uso humano da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia conte atualmente com mais de 300 espécies de interesse alimentar e medicinal.
Paralelamente aos estudos agronômicos desenvolvidos pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e outras instituições de pesquisa e nutrição no país, vários médicos brasileiros vêm também realizando pesquisas para avaliar o potencial dos cogumelos como aliados da saúde humana. Na verdade, esses estudos já vêm sendo feitos pela medicina oriental, especialmente na China e no Japão, desde a década de 70.
Dois deles apresentaram palestras na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia: Jorge Laerte Gennari, ginecologista e oncologista de São Paulo, e Márcio Bontempo, médico ortomolecular do Rio de Janeiro.
Gennari já estuda os benefícios dos cogumelos para a saúde humana há 15 anos e afirma que esses fungos têm se mostrado importantes aliados no tratamento de vários tipos de câncer. Entretanto, faz questão de frisar: "É muito importante que as pessoas entendam que eles são apenas aliados no tratamento, ou seja, não podem abandonar as soluções tradicionais, como a cirurgia para extração do tumor, a quimioterapia e a radioterapia", enfatiza.
O oncologista explica que, assim que tomou conhecimento do potencial dos cogumelos como aliados nos tratamentos de saúde, procurou o professor Mandu Gonum na Universidade da Califórnia de Los Angeles, que há anos mantinha um laboratório para estudar o efeito do cogumelo do sol no sistema imunológico. As pesquisas desenvolvidas nesse laboratório comprovaram o efeito da célula NK (natural killer) na destruição das células neoplásicas (cancerígenas) e os cogumelos ativam essas células, atuando diretamente no sistema imunológico, a partir de uma substância que eles contêm denominada β-Glucan.
"Voltei, então, para São Paulo, e comecei a testar os cogumelos com cerca de 50 pacientes que já tinham feito cirurgia, quimioterapia, sem resultados. O objetivo era avaliar o perfil imunológico dos pacientes antes e depois da ingestão dos cogumelos", explica Gennari.
O resultado foi surpreendente, como afirma o médico, já que 72% dos pacientes tiveram elevação do sistema imunológico com o uso dos cogumelos.
Infelizmente, como comenta o oncologista, ainda há muito preconceito por parte da maior parte dos médicos em relação à ação desses fungos. "Mas, com o tempo, essa situação vai melhorar. Hoje já há pesquisas sendo realizadas em parceria com a Fundação Oncocentro, de São Paulo", ressalta.
O médico ortomolecular do Rio de Janeiro Márcio Bontempo concorda com essa afirmação. Segundo ele, o preconceito dos médicos em relação aos cogumelos é o mesmo enfrentado pela acupuntura e outros tratamentos alternativos hoje reconhecidos pelo Ministério da Saúde.
Segundo Bontempo, qualquer doença é multifatorial, ou seja, é um somatório de fatores, como má alimentação, vida sedentária, hábitos nocivos, estresse etc. Portanto, não adianta tratar a doença em si, se não houver alterações no estilo de vida do paciente. "Nunca tivemos uma medicina tão avançada e, ao mesmo tempo, uma sociedade tapo doente. Não é uma dialética incoerente?", questiona o médico.
A medicina ortomolecular é o ramo da ciência cujo objetivo primordial é restabelecer o equilíbrio químico do organismo. Este acerto (orto=certo) das moléculas se dá através do uso de substâncias e elementos naturais, sejam vitaminas, minerais, e/ou aminoácidos. Estes elementos, além de proporcionarem um reequilíbrio bioquímico, combatem os radicais livres. Por isso, Bontempo começou a estudar os cogumelos, assim como outros alimentos funcionais, como importantes aliados no estado de saúde geral dos pacientes.
"Ainda estou no começo e não tenho dados casuísticos como o Dr. Gennari, mas espero trazê-los no 41º Curso sobre Cogumelos Comestíveis e Medicinais que deverá acontecer ainda este ano na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia", afirma o médico ortomolecular.
No momento, ele está usando os cogumelos, especialmente o shitake, shimeji, cogumelo-rei e o cogumelo do sol em todos os pacientes que sofrem de doenças crônicas. Os dados serão analisados de forma metodológica em conjunto com especialistas da Universidade de Brasília - UnB.
Há um ponto, entretanto, que os médicos concordam e enfatizam: os cogumelos trazem benefícios sim, mas não são uma panacéia. "Eles são importantes complementos no tratamento de várias doenças que afligem a humanidade, como diversos tipos de câncer, lupus, AIDS, entre outras doenças degenerativas como a fibromialgia. Mas é importante que as pessoas entendam que são complementos. Não se pode prescindir dos métodos convencionais, como cirurgias, remédios alopáticos, quimioterapia e radioterapia, entre outros. É fundamental entender isso, repetem os especialistas".
Fernanda Diniz
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
(61) 3448-4769 /
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