Projeto inédito vai construir a maior coleção funcional de microrganismos do Brasil

A Biotrop iniciou expedições aos biomas brasileiros para ampliar seu banco inédito de microrganismos funcionais; a ideia é construir a base do futuro dos bioinsumos

25.01.2022 | 08:37 (UTC -3)
Kassiana Bonissoni
Juliana Marcolino Gomes e equipe da Biotrop; à direta, microrganismo coletado observado por meio de microscópio.
Juliana Marcolino Gomes e equipe da Biotrop; à direta, microrganismo coletado observado por meio de microscópio.

O Brasil é o país com a maior biodiversidade do planeta e grande parte da capacidade da produção agropecuária brasileira está relacionada à essa riqueza natural formada por centenas de espécies de seres vivos.

Para contribuir ainda mais com a sustentabilidade e competitividade da agricultura, teve início o Projeto Nimbles (termo que significa ser ágil, ou ir direto ao ponto) - iniciativa da Biotrop, empresa de soluções em tecnologia biológica, que pretende construir a maior coleção funcional de microrganismos do Mundo. As novas descobertas serão utilizadas principalmente para o desenvolvimento de soluções biológicas para o controle de doenças e pragas em lavouras e para a promoção de crescimento das plantas.

O Projeto Nimbles se parece muito com uma aventura de ficção, onde pessoas entram na mata nativa em busca de algo inédito que possa ser a solução para algum problema, ou ainda servir como meio de transformação de uma realidade. Apesar de parecer somente algo divertido e aventureiro, trata-se de um trabalho científico muito sério em busca de novos e incríveis microrganismos, através da coleta de fungos e bactérias dos solos dos biomas brasileiros, que serão estudados e selecionados para beneficiar a agropecuária nacional no futuro próximo.

O projeto está sendo desenvolvido a partir de expedições de uma equipe multidisciplinar de profissionais, com agrônomos, biólogos e microbiologistas. Segundo Juliana Marcolino Gomes, bióloga, geneticista e coordenadora de inovação e da área de Botânicos da Biotrop, que lidera os trabalhos, os microrganismos que servem de base para as formulações atuais já são estudados e caracterizados, portanto, as novas amostras serão o futuro dos bioinsumos.

A primeira expedição já aconteceu na Mata Atlântica, na região de São Luiz do Purunã, no Paraná, no final de outubro. Com um intervalo entre as expedições, a próxima está prevista para fevereiro, também na Mata Atlântica, desta vez no Ecossistema Mangue, conforme explica Juliana. "Iniciamos no bioma Mata Atlântica porque é um dos mais biodiversos, mas vamos realizar etapas nos outros cinco biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampa", comenta.

Modelo inédito

Com tanta diversidade na natureza é normal pensar que uma grande lista de gêneros e espécies possa trazer soluções biológicas para a agricultura. Mas, no Projeto Nimbles, quantidade não é significado de qualidade. Por isso, o propósito da Biotrop com a iniciativa é construir a maior coleção funcional, algo inédito neste tipo de pesquisa aplicada. Dessa forma, o banco de microrganismos irá oferecer as características e funções necessárias para inovar na formulação de produtos biológicos. "Nossa expectativa é encontrar microrganismos novos, mas também integrantes de espécies  já conhecidas, mas que apresentem características únicas, próprias de cada isolado/estirpe", explica a coordenadora.

Etapas

O trabalho da expedição é conduzido de maneira a ter baixíssimo impacto nos ambientes que estão sendo visitados. Além das autorizações dos órgãos responsáveis para que os profissionais adentrem nas áreas preservadas, eles se movimentam a pé nas trilhas e retiram apenas amostras do solo onde estão os componentes minerais e biológicos (os microrganismos).

Já no laboratório da Biotrop, em sua sede de Curitiba (PR), os microrganismos são isolados e separados. Assim é mantida a pureza de suas características. Em seguida é feita a criopreservação, que garante a sua estocagem de forma viável e a utilidade dos microrganismos por muito tempo. Na próxima etapa, as amostras passam pela caracterização morfofisiológica e no final pela caracterização funcional que inclui informações bioquímicas e genéticas.

O microbiologista Douglas Gomes, gerente de Pesquisa e Inovação da Biotrop, explica que além da construção de um banco funcional de microrganismos - que será o futuro dos bioinsumos da empresa -, o Projeto se destaca pela utilização sustentável da biodiversidade. "O direcionamento que estamos dando ao Nimbles também é inédito porque fazemos o levantamento do microbioma de todas as áreas visitadas e temos um raio-x de tudo que está presente nas amostras. Com isso, conseguimos entender as funções mais proeminentes dessas áreas. Como finalidade científica tem muito valor", destaca.

Números

Em cada expedição, que dura pelo menos uma semana, os profissionais coletam milhões de microrganismos. Após as etapas seguintes, de isolamento e caracterização, são selecionados centenas deles para compor o banco funcional. Estima-se que em apenas 1 grama de solo existam de 1 milhão a 1 bilhão de microrganismos, portanto, é neste material que a equipe da Biotrop se concentra quando está a campo.

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