Programa incentiva os cereais de inverno em Santa Catarina

O fomento ao cultivo de grãos no inverno deverá suprir a demanda na indústria de proteína animal no estado

20.02.2020 | 20:59 (UTC -3)
Joseani M. Antunes​

O Programa de Incentivo ao Plantio de Grãos de Inverno foi lançado no dia 13 de fevereiro, durante o Fórum Mais Milho, realizado em Mafra, SC. A ação é uma iniciativa do Governo de Santa Catarina em parceria com a iniciativa privada para minimizar o déficit de milho no Estado. A Embrapa participa do projeto conduzindo estudos de viabilidade econômica e nutricional no uso de cereais de inverno na composição de rações, além da caracterização de cultivares mais adequadas à alimentação de suínos e aves.

Grande produtor de carnes e leite, Santa Catarina é hoje o maior importador de milho do Brasil, com déficit superior a quatro milhões de toneladas do grão a cada ano. De acordo com a Secretaria da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural de SC, em função das grandes distâncias para as regiões com superávit de milho e dos altos custos logísticos do País, este déficit poderá comprometer a competitividade da produção animal no estado nos próximos anos.

Com o Programa de Incentivo ao Plantio de Grãos de Inverno, a Secretaria da Agricultura e a iniciativa privada querem estimular os agricultores a investirem em cereais de inverno com potencial para compor a matriz de ingredientes para rações de suínos e aves, trazendo mais renda para os produtores rurais, sem interferir na safra de verão. 

"Santa Catarina é hoje o maior produtor de suínos no Brasil, segundo maior produtor de aves e quinto maior produtor de leite. A produção de proteína animal tem papel fundamental no agronegócio catarinense e a oferta de grãos é peça-chave para mantermos a competitividade desse setor. O Programa surge para garantir o futuro do agronegócio catarinense", afirma o secretário da Agricultura, Ricardo de Gouvêa.

Nos últimos 29 anos, a produção de trigo aumentou 61% em Santa Catarina, com um rendimento 214% maior. Em compensação, a área semeada reduziu em 48,6%. Segundo o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), na última safra, o Estado colheu 156 mil toneladas de trigo, em 53.920 hectares. A intenção do Programa é ampliar para 120 mil hectares a área com grãos de inverno nos próximos três anos, sendo 100 mil hectares com trigo, 10 mil com cevada e 10 mil com triticale. 

“A área potencial para cultivo de trigo em Santa Catarina é superior a 600 mil hectares, mas a taxa de cultivo com grãos no inverno não chega a 20%. Precisamos utilizar estas áreas ociosas no inverno para movimentar as propriedades e gerar renda no Estado”, avalia o pesquisador da Embrapa Trigo, Eduardo Caierão e complementa: “Conciliar a demanda do mercado com a disponibilidade do produtor é o melhor cenário para qualificar o sistema de produção”.

Segundo o Presidente da COOCAM, João Carlos Di Domênico, os cereais de inverno podem ser não apenas uma solução para a falta de milho, mas uma oportunidade de otimização na produção de grãos: “Santa Catarina tem cerca de 50% das estruturas de armazenagem ociosas durante seis meses do ano por falta de uma cultura de inverno. O trigo é uma alternativa que, apesar de não trazer boa lucratividade, pode diluir custos na propriedade”.

Pesquisa, assistência técnica e fomento

A Embrapa tem desenvolvido pesquisas para avaliar as melhores alternativas de cereais de inverno para atender a demanda na produção de proteína animal, principalmente na fabricação de ração para suínos e aves. 

Na Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) têm sido avaliadas cultivares de trigo, aveia, centeio, cevada e triticale com características específicas para a alimentação animal, com maior teor de proteínas e menor teor de fibras. Na Embrapa Suínos e Aves (Concórdia, SC) são desenvolvidos estudos sobre a viabilidade econômica e avaliação nutricional dos cereais de inverno na composição das rações. 

Conforme a pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Teresinha Marisa Bertol, os cereais de inverno, principalmente o trigo e o triticale, são alimentos energéticos com potencial para substituir o milho nas dietas para suínos e frangos de corte, desde que sejam efetuados ajustes nos níveis de aminoácidos e de energia para atender as exigências dos animais em cada fase.

O setor cooperativista participa do Programa com o fornecimento de insumos e assistência técnica qualificada para garantir o acesso à tecnologia disponível e as melhores forma de manejo nos cereais de inverno capazes de assegurar a produtividade e a rentabilidade dos cultivos.

O principal motivador da adesão do setor produtivo ao Programa será a garantia de compra da produção pelo mercado. As agroindústrias que participam da iniciativa se comprometem em adquirir os grãos produzidos, desde que atendam as condições do mercado e a qualidade nutricional desejada.


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