Pragas cada vez mais resistentes desafiam produtividade de agricultura

No 1º semestre de 2020, as pragas estiveram mais agressivas do que nunca

13.08.2020 | 20:59 (UTC -3)
Rafael Iglesias

A receita da agricultura brasileira cresceu 11,6% em 2020, atingindo Valor Básico da Produção recorde: R$ 480 bilhões, superando em R$ 50 bilhões o resultado do ano anterior, que já tinha sido um dos melhores da história. Soja (+19,8%), milho (+13,7%), café (+39,3%), arroz (+12%) e laranja (+9,8%) são os destaques agrícolas do ano, segundo o mais recente levantamento do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Esse excelente desempenho está respaldado pelo aumento da produtividade no campo e se completa com o aumento das exportações agrícolas. Um exemplo: de acordo com o MAPA, entre janeiro e junho foram embarcadas 69,6 milhões de toneladas de soja (aumento de 32,5% sobre igual período do ano anterior). Em receita, o ganho foi de 28,7%, atingindo US$ 23,93 bilhões com produto.

“O momento da agricultura é muito positivo, porém sempre depende de uma série de fatores. Começa pela preparação da terra, envolve a escolha de sementes selecionadas, tem o fator climático, que pode ou não ser favorável e o próprio mercado interfere na disposição do produtor em investir mais ou menos em determinado cultivo. Decisão de plantio tomada, há inimigos terríveis a combater. Os desafios das pragas, doenças e ervas daninhas são cada vez maiores, exigindo a ação de soluções mais complexas e inovadoras para proteção das plantas. Os defensivos agrícolas têm, assim, um papel extremamente importante para a agricultura: evitar a ação dos agentes nocivos, mais resistentes aos agroquímicos, mais agressivos e seletivos. Importante enfatizar a relevância do ambiente tropical, extremamente desafiador devido ao clima úmido e quente e à produção o ano inteiro. O cenário é perfeito para as pragas. Sem os defensivos, a produtividade seria, em média, 40% menor, ceifando 100 milhões de toneladas de alimentos todos os anos”, ressalta Julio Borges Garcia, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).

O uso de defensivos agrícolas é, assim, um investimento necessário para os agricultores, sendo utilizados exclusivamente porque representam uma potente ferramenta contra pragas, doenças e ervas daninhas, que são implacáveis.

No 1º semestre de 2020, as pragas estiveram mais agressivas do que nunca. A soja exigiu diferentes mecanismos de defesa para combater uma doença muito agressiva de difícil controle: a ferrugem asiática – o principal desafio fitossanitário da cultura. Percevejos e ácaros foram os insetos que mais necessitaram de tratamentos e, no caso de ervas daninhas, capim amargoso e buva exigiram modos de ação diferenciados para combatê-los. Em relação ao milho safrinha, foi preciso aumentar o uso de inseticidas para combater cigarrinhas e percevejos, e manchas foliares e ferrugem demandaram mais aplicações de fungicidas. Quanto ao algodão, a doença mais agressiva continua sendo a ramulária, levando os agricultores a usar mais fungicidas. O manejo de resistência também foi intensificado na primeira metade do ano.

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“Soja, milho, algodão e cana, juntos, representam cerca de 80% do mercado de defensivos agrícolas no país. Os exemplos acima mostram o tamanho do desafio da prevenção e do controle de pragas, doenças e ervas daninhas nas propriedades rurais, assim como reforça o importante papel das novas tecnologias fitossanitárias para ajudar os agricultores a vencer esses desafios. No final, estamos falando em cumprir uma função essencial para o aumento da produtividade. São mais alimentos na mesa dos consumidores e mais commodities para o mercado internacional, fortalecendo a economia brasileira”, ressalta Julio Garcia.

Os agricultores demandaram mais tecnologia dos defensivos agrícolas para o sucesso da agricultura. E tiveram de usar estratégias diferenciadas com produtos fitossanitários no manejo para a proteção dos seus cultivos. No cenário de doenças resistentes, o aumento de produtos de multisítio ou chamados de fungicidas protetores foram os mais utilizados. Essa crescente exigência de defensivos fez com que no 2º trimestre (abril a junho) a área tratada com defensivos crescesse 9,8%, atingindo 142,4 milhões de hectares – contra 129,8 milhões ha no mesmo período de 2019.

Em termos de faturamento em dólar, houve queda de 3,1%, atingindo US$ 1,36 bilhão, aponta o Sindiveg, esclarecendo que a desvalorização cambial é outro grande desafio para a indústria, que adquire insumos importados e ainda não conseguiu repassar integralmente o aumento desta variação integral ao mercado. “Vale lembrar o importante papel das indústrias de defensivos agrícolas como financiadoras da produção agrícola brasileira. Nosso prazo de financiamento médio atingiu 240 dias, aumentando mais de 20%. As empresas do setor agroquímico comprometeram-se e estão se esforçando muito para conseguir garantir recursos suficientes para financiamento do setor”, destaca o presidente do Sindiveg.

A cultura destaque do 2º trimestre do ano foi o milho safrinha, com crescimento de 83,6% na área tratada na comparação direta com abril a junho de 2019, atingindo 24 milhões de hectares.

Em termos de produtos, os fungicidas apresentaram avanço de 8,6% sobre igual período de 2019. O uso de herbicidas foi 8,5% menor e o de inseticidas caiu 3,6%.

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“O 2º trimestre do ano é o momento de plantio do milho safrinha. Os desafios desta cultura são vários, especialmente lagartas e percevejos. Motivados pelos bons preços do mercado global, os agricultores estão cultivando 14 milhões de hectares, área 3,9% superior à da safra anterior (13,5 milhões ha), aponta pesquisa feita para o Sindiveg por consultoria privada”, destaca Julio Garcia. A previsão é colheita de 73 milhões de toneladas.

643,2 milhões de hectares tratados no 1º semestre

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Soja (+33%), milho (+29%) e algodão (+18%) puxaram o crescimento da área tratada por defensivos agrícolas no acumulado de janeiro a junho de 2020. Segundo o Sindiveg, no período foram tratados 643,2 milhões de hectares, com crescimento de 6% sobre o 1º semestre de 2019. Em receita, o resultado foi de US$ 6,04 bi (2020) e US$ 6,03 bi (2019).

Quanto aos produtos, no 1º semestre de 2020 os inseticidas representaram 36%, os fungicidas 33% e os herbicidas 22%.

Mato Grosso foi o estado que mais demandou defensivos agrícolas no período, representando 28% do total, seguido por São Paulo (13%), Matopiba (12%), Paraná (10%), Goiás e DF (10%), Mato Grosso do Sul (8%), Rio Grande do Sul e Santa Catarina (8%) e Minas Gerais (4%).

“Uma análise mais ampla, como a do 1º semestre de 2020, permite visão mais clara do impacto do uso dos defensivos agrícolas nos mais diferentes cultivos, mostrando não apenas os maiores desafios fitossanitários, mas destacando o essencial papel dos defensivos para a agricultura brasileira”, ressalta o presidente do Sindiveg.

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