Praga invasora resiste a inseticidas

Estudo desenvolvido no PPG Entomologia da Esalq alerta para a resistência de Helicoverpa armigera a inseticidas no Brasil

12.07.2018 | 20:59 (UTC -3)
Caio Albuquerque

Originária do Velho Mundo, Helicoverpa armigera é uma praga que foi reportada no Brasil em 2013, quando causou danos severos e perdas econômicas em torno de U$2 bilhões nas lavouras de soja e algodão.

Considerando este cenário, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) elaborou uma lista com a recomendação de produtos para uso emergencial de controle da praga invasora. “Entre os produtos recomendados estavam alguns inseticidas pertencentes ao grupo dos piretroides, incluindo misturas de piretroides”, conta a engenheira agrônoma Mariana Durigan, autora de uma tese que faz um alerta ao setor. “Foram relatadas falhas no controle de H. armigera com esse grupo de inseticidas em diversas regiões produtoras do Brasil”.

O estudo de Mariana foi desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Entomologia, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP). O objetivo foi caracterizar a suscetibilidade e investigar os mecanismos de resistência dessa espécie a inseticidas que atuam nos canais de sódio, piretroides e oxadiazinas.

Com orientação do professor Celso Omoto, do departamento de Entomologia e Acarologia, a pesquisa sugere que deve ser realizada a implementação de um programa de manejo da resistência de H. armigera a inseticidas no Brasil para garantir a vida útil e a eficácia dos inseticidas no campo.

Segundo Mariana, a resistência de H. armigera a piretroides já havia sido reportada em alta frequência nos países de ocorrência dessa praga como Austrália, China, Índia e Paquistão.  “Considerando que resistência é um caráter genético e hereditário, nós consideramos a hipótese de que os indivíduos que deram origem às populações de H. armigera no Brasil possuíam que conferem resistência a piretroides, o que explicaria as falhas de controle observadas em campo”.

No caso dos piretroides, a frequência de resistência é altíssima. “Detectou-se em todos os indivíduos a presença da subfamília do gene P450 CYP337B3, que confere resistência a piretroides em H. armigera”, complementa. Outro traço mapeado foi o caráter dominante da resistência, “Nesse caso a evolução da resistência ocorre de forma mais rápida em uma população de pragas e resulta em falhas de controle no campo”.

Parte dos resultados encontrados na pesquisa foram publicados em 2017 na revista Pesticide Biochemistry and Physiology. Em 2017 Mariana foi contemplada com bolsa CAPES-PDSE e realizou doutorado sanduíche no Max Planck Institute for Chemical Ecology, Alemanha, sob a orientação de David Heckel, quando teve a oportunidade de investigar outros mecanismos de resistência a piretroides no Brasil.

Mariana destaca que o conhecimento e monitoramento da praga no campo é de extrema importância para que o manejo seja feito de forma adequada com base no conceito de MIP (Manejo Integrado de Pragas), integrando as táticas de controle. “Com base nos resultados encontrados, conclui-se que a implementação de um programa de manejo da resistência de H. armigera à inseticidas no Brasil é crucial e urgente, se quisermos garantir a produtividade e sustentabilidade das nossas lavouras além de prolongar a vida útil das moléculas disponíveis no mercado”.

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