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As lavouras de milho no Sul do País, especialmente no Paraná e sobretudo em Santa Catarina, foram amplamente castigadas pela seca e pela praga da cigarrinha. O alerta é da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina (FAESC), da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). As entidades do setor se reuniram em videoconferência nesta semana para debater o assunto.
Em Santa Catarina, a incidência da cigarrinha-do-milho, inseto-vetor de doenças provocadas por vírus e bactérias, tem ocorrido de forma generalizada em todas as regiões e com danos econômicos variáveis na safra 2020/2021. De acordo com levantamento da Epagri, as macrorregiões mais afetadas são o Meio-Oeste, Oeste, Extremo-Oeste, Planalto Norte e Planalto Serrano. Produtores relatam perdas de até 70% das lavouras, especialmente nos cultivos precoce e superprecoce, variedades mais sensíveis à praga.
Segundo informações dos pesquisadores da Embrapa, a cigarrinha se alimenta e se reproduz apenas no milho e, por isso, a manutenção de plantas é favorável para sua multiplicação. Também não há controle químico 100% eficaz para a praga. Ao contaminarem a planta, as cigarrinhas prejudicam o seu desenvolvimento, acarretando em má formação, menos espigas e, consequentemente, queda de produtividade.
O vice-presidente da FAESC, Enori Barbieri, participou da reunião com as entidades e explica que a cigarrinha se deslocou mais fortemente para o Sul do Brasil nos últimos anos devido ao cultivo de milho praticado no ano inteiro na região. São várias safras para colheita de diversas variedades: milho comercial, silagem, doce para consumo humano e produção de ração. “Era uma praga que existia apenas no Centro-Oeste brasileiro, onde há irrigação e plantio em todos os períodos, condições que elas buscam para se proliferar. Porém, com a diversificação do cultivo de milho no Sul, especialmente em Santa Catarina, onde a bacia leiteira é forte, a cigarrinha acabou se deslocando para cá. Com a estiagem do ano passado, a praga se proliferou rapidamente”, detalha Barbieri.
De acordo com a Epagri, no ano passado a planta passou por um estresse muito grande por déficit hídrico no início da safra, permitindo a entrada da doença e a disseminação do vetor de forma rápida. A incidência e severidade do problema, segundo os técnicos, varia de acordo com o híbrido, manejo da lavoura, altitude da região e período da janela de plantio. Nas regiões com janela de plantio maior, onde o agricultor utiliza a área com pastagem no inverno e cultiva o milho no verão, foram percebidos maiores incidência e severidade de sintomas.
A orientação das entidades é para que os agricultores busquem sementes mais resistentes no mercado, otimizem a rotação de culturas nas lavouras e adotem o chamado vazio sanitário – intervalo de, pelo menos, 60 dias sem plantio.
“Assim como o vazio sanitário elimina a ferrugem na produção de soja, contribuirá para controlar a cigarrinha-do-milho. As práticas agronômicas como a rotação de cultura também são importantes, principalmente não plantar milho sobre milho”, ressalta o dirigente da FAESC.
As sementes mais resistentes, segundo as entidades do setor, são as de ciclo normal. Já as mais sensíveis à praga são justamente as mais produtivas – precoce e superprecoce.
A cigarrinha impactará na produtividade do milho no Estado neste ano. A estimativa da FAESC é que a safra 2020/21 deve chegar, no máximo, a 1,5 milhão de toneladas – 1,2 milhão a menos que o previsto. São 300 mil hectares de área cultivada para milho comercial e 200 mil para silagem. “O produtor que plantou para colher 250 sacas por hectare, colherá entre 50 e 60”, projeta Barbieri.
Para o abastecer o mercado interno, Santa Catarina terá que importar cerca de cinco milhões de toneladas de milho no ano, o que também impactará nos custos de produção das agroindústrias.
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