Podas drásticas reduzem ataques de vassoura-de-bruxa em cupuaçuzeiros

13.10.2015 | 20:59 (UTC -3)
Clarice Monteiro Rocha

Pomares de cupuaçu infectados com vassoura-de-bruxa, alguns totalmente doentes, tiveram redução de até 90% da incidência e severidade da doença, o principal mal que afeta a cultura. O feito foi obtido em experimentos da Embrapa Roraima, que adotou as podas drásticas como parte do manejo integrado da planta. Além de reduzir os ataques da doença, a técnica mantém a planta com porte baixo, permitindo a reexplorarão pela agricultura familiar de pomares abandonados. Os cortes atingiram de 40% a 100% das copas.

A poda drástica consiste na remoção total da copa, ou seja, dos ramos que apresentam folhas. Essa remoção pode ser na altura do tronco a um metro do solo, ou podem ser eliminados os ramos mais finos, em altura um pouco mais elevada, acima dos ramos secundários, que formam a estrutura da planta.

Além das podas, as medidas testadas envolveram a manutenção do espaçamento adequado entre as plantas, adoção de medidas fitossanitárias e de manutenção da copa para mantê-las com porte baixo e livre da vassoura-de-bruxa, doença causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, o mesmo que ataca o cacaueiro.

A doença reduz em até 70% a produtividade das plantas, causando grandes perdas aos produtores. Os sintomas da vassoura-de-bruxa podem se manifestar tanto em mudas quanto em plantas adultas, tornando importante a disseminação de medidas de controle aos produtores de cupuaçu. O vento e a chuva são os principais agentes de dispersão, sendo as condições ideais para propagação do fungo o período chuvoso, com alternância entre chuva e período seco, e umidade do ar acima de 80%.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Teresinha Albuquerque, a ocorrência da vassoura-de-bruxa tem sido um entrave para o aumento de produtividade dos pomares na região Norte, provocando sérios prejuízos e, consequentemente, desestimulando os agricultores a cultivar o cupuaçu. "A rápida disseminação do fungo, aliado ao desconhecimento tecnológico sobre a condução da cultura e manejo da doença, faz com que os agricultores abandonem áreas com até 12 mil plantas, que poderiam ser extremamente produtivas", diz Albuquerque.

Agricultores do Pará, estado responsável pela maior safra de cupuaçu do Brasil, já vêm sentindo o impacto da doença na produção. No Município de Breves, arquipélago do Marajó, 80% da produtividade foi comprometida na safra de 2015, segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater).

A pesquisadora acredita que as podas drásticas, aliadas às medidas de manejo, são alternativas viáveis para a renovação de pomares de cupuaçu já infestados. "Os estudos mostraram que, após os cortes, a planta volta a produzir em um ano e meio, com frutos totalmente saudáveis e árvores livres da doença", afirma. A técnica já é utilizada para a mudança de cultivar em pomares de manga no Vale do Submédio São Francisco, mas sobre o cupuaçuzeiro ainda não havia estudos que constatassem a eficiência desse tipo de poda.

O corte de até 100% da copa da árvore causou estranheza em alguns produtores. Foi o caso de Manoel Bonfim, agricultor roraimense que participou da pesquisa. A propriedade do agricultor, localizada no Município de Rorainópolis, a 350 quilômetros de Boa Vista, capital do Estado de Roraima, apresentava pomar abandonado por causa da alta infestação de vassoura-de-bruxa

A medida inicial foi a realização de poda fitossanitária em algumas plantas, quando foram removidos os ramos doentes e mal posicionados. No entanto, em razão do grande número de árvores afetadas pelo fungo e da altura elevada das plantas, a maior parte dos cupuaçuzeiros teve de sofrer uma poda drástica. Depois das podas, a infestação foi reduzida em 90% e a severidade, nos 10% das plantas que ainda apresentavam a doença, diminuiu drasticamente. Ou seja, a vassoura-de-bruxa se tornou muito mais fraca, no pouco que restou dela.

Hoje os cupuaçuzeiros de Bonfim já estão produzindo frutos livres da vassoura-de-bruxa e ideais para a comercialização. O agricultor realiza periodicamente a poda de manutenção e a limpeza dos ramos ladrões, retirando as vassouras que vão surgindo.

"Quando os técnicos vieram cortar as plantas, nós não acreditávamos que iria dar certo. Por isso, foi uma surpresa quando os novos ramos começaram a brotar e crescer, com plantas sadias. Também tínhamos árvores muito altas, o que tornava difícil o combate da vassoura. Agora os cupuaçuzeiros estão com tamanho em que é possível fazer o manejo com bastante facilidade", revela seu Manoel.

A pesquisadora Teresinha ressalta que a manutenção é uma etapa importante para o sucesso no controle da doença. "A poda renova o pomar já altamente infestado, mas o fungo da vassoura-de-bruxa tem um poder de disseminação muito alto e, por isso, é extremamente importante monitorar o pomar constantemente, eliminando-se os frutos doentes e os novos ramos atacados, tanto os verdes como os secos", indica a especialista.

O ideal é cortar o ramo atacado de 15 a 20 cm acima do local do superbrotamento, sempre que detectada a presença do fungo, não permitindo o aumento da população da vassoura-de-bruxa no pomar. O material removido deve ser retirado da área do plantio para evitar a disseminação da doença.

Outra vantagem da poda drástica é a manutenção do porte baixo das plantas. Em geral, o cupuaçuzeiro pode atingir de seis a oito metros de altura, e sua copa pode alcançar até sete metros de diâmetro, o que dificulta o controle dos ramos atingidos pela vassoura-de-bruxa.

Com a dificuldade de se fazer a poda, pela altura elevada das plantas, o excesso de vassouras causa uma queda drástica na produção, fazendo com que os agricultores abandonem os pomares. Com a poda, é possível ter plantas de porte mais baixo, obtidas pelas modificações na arquitetura da copa. Isso facilita a poda dos ramos afetados com sintomas de vassoura, reduzindo a incidência da doença.

O novo porte também ajuda a diminuir as perdas dos frutos, uma vez que não se colhe o cupuaçu diretamente do pé. A fruta, quando madura, se desprende da planta e cai no solo, momento em que é feita a coleta. Com plantas altas, os frutos são geralmente danificados na queda, o que compromete sua comercialização.

No caso de pomares abandonados de cupuaçuzeiro muito infestados pela vassoura-de-bruxa, devem ser observadas algumas recomendações técnicas. Primeiro, a área do pomar deve ser limpa, removendo-se ramos e troncos caídos ao solo. Isso evita que os trabalhadores venham a sofrer acidentes na área de trabalho. Em seguida, devem ser retiradas árvores de outras espécies e cupuaçuzeiros que estejam muito próximos, com espaçamento menor que 4m x 4m, cortando-os rente ao solo com uma motosserra.

Após a limpeza da área, inicia-se a poda das plantas que permanecerão no pomar, realizando o corte do tronco a um metro de altura. O corte deve ser inclinado para não acumular água no período das chuvas. Depois, é só pincelar o local cortado com pasta bordalesa, uma solução à base de cobre diluído em água, que tem a função de vedar do corte, impedindo a entrada de patógenos, microrganismos causadores de doenças.

O cupuaçuzeiro é uma planta nativa da Amazônia e encontra condições ideais para seu desenvolvimento em todos os estados da região. Os maiores produtores são os estados do Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima e Pará, sendo este último o responsável pela maior safra de cupuaçu do Brasil, com mais de 74 mil toneladas em 13 mil hectares de área.

Segundo dados da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, do Ministério da Educação, em 2005 a produção de cupuaçu no Brasil chegou perto da casa de 200 milhões de frutas. A média de produtores de cupuaçu no País chegou a 170 mil pessoas, gerando, aproximadamente, 220 mil empregos diretos e indiretos.

A planta é valorizada no mercado nacional em razão de seu sabor exótico e possibilidades de utilização pela agroindústria. O fruto tem formato e tamanhos variados, medindo entre 10 a 40 centímetros, e peso de 300 g a 4 kg. A polpa é bastante apreciada no mercado nacional, sendo indicada para o preparo de sucos, sorvetes, tortas, licores e geleias. As sementes são utilizadas para extração de gordura e fabricação da manteiga de cupuaçu.

Já no mercado internacional, o cupuaçu é uma fruta relativamente nova. Segundo dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), os maiores compradores de polpa de cupuaçu hoje no mundo são o Japão, Países Baixos, Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos, Argentina, Bolívia e Paraguai.

Foto: Teresinha Albuquerque

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