Pesquisador do IAC palestra sobre estratégia de produção de cana no cerrado

07.10.2010 | 20:59 (UTC -3)

Engana-se quem pensa que o mesmo sistema de produção agrícola pode ser simplesmente transferido de uma região para outra. No caso da canavicultura, para obter a competência paulista, não basta o mero transporte de plantas e alguns implementos para outro Estado. Algumas empresas de São Paulo provaram amargos resultados quando decidiram expandir para Goiás as lavouras de cana sem conhecer as diversidades que fazem a diferença.

 

É necessária a transferência de tecnologia desenvolvida especificamente para aquela região, considerando-se as variedades a serem cultivadas e o ambiente de produção. “Não dá para repetir em Goiás o que se faz em São Paulo, a boa performance paulista não se repete se não adotarmos o modelo de produção adequada”, ressalta Marcos Guimarães de Andrade Landell, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.

 

Essas e outras informações serão apresentadas por Landell em palestra no 3º Dia de Campo, a ser realizado nesta quarta-feira, 06 de outubro, em Goianésia (GO), das 8h às 16h. O evento, organizado pela Usina Jalles Machado em parceria com o Programa Cana IAC, oferecerá outras palestras e visita ao campo da Usina.

 

A Jalles Machado é uma das cem empresas parceiras do IAC nas pesquisas com cana-de-açúcar. A adoção das tecnologias IAC ampliou a produção da Usina em cerca de 15%. Das variedades plantadas pela Jalles, cerca de 20% são do Instituto Agronômico.

 

De acordo com Landell, o IAC está à frente não só no desenvolvimento de variedades, mas também nos estudos com tolerância à seca, com projetos financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Estamos perseguindo os mecanismos de tolerância à seca para usá-los no melhoramento genético”, diz o coordenador do Programa Cana IAC. O Instituto Agronômico tem as principais pesquisas nessa área e tem atraído o interesse de multinacionais. O projeto multidisciplinar envolve estratégia integrada de melhoramento genético incluindo, além da tolerância à seca, aspectos ligados à fisiologia, fitopatologia, entomologia, pedologia, fertilidade, adubação, climatologia e matologia.

 

O déficit hídrico mais pronunciado durante todo o ciclo de produção da cana é o que diferencia Goiás e o Triângulo Mineiro das condições paulistas. Para se ter ideia da relevância dessa característica, a deficiência hídrica pode comprometer a produtividade e gerar prejuízos de até 60%, dependendo daintensidade e do estado de desenvolvimento da cultura. Daí a necessidade de a ciência desenvolver pacote tecnológico específico para a localidade. “Nos últimos 15 anos temos aprendido muito sobre o cerrado, percebemos que a estratégia de produção não poderia ser a mesma utilizada em São Paulo, vimos que precisaríamos selecionar variedades aperfeiçoadas para aquela região”, afirma.

 

Em campos paulistas, as variedades são diferentes, as condições climáticas são mais amenas e o déficit hídrico não é tão acentuado, segundo Landell. “Algumas variedades que se destacavam em São Paulo tinham performance pífia no cerrado”, diz.

 

Na palestra, o pesquisador irá comentar as observações feitas sobre o desempenho de cada variedade nas condições do cerrado. As que mais se destacam são: IACSP 955000, IAC 911099, IACSP 942101, IACSP933046, IACSP 942094 – todas essas são adaptadas à canavicultura moderna, que envolve a colheita mecânica crua. Landell ressalta também a primeira variedade plantada no cerrado – a IAC 873396 – que continua sendo plantada. “Hoje elas são bastante difundidas e estão sendo cultivadas em todas as usinas.” A expectativa é que as três novas variedades IAC, lançadas em setembro passado, também apresentem ótimos resultados nas condições de deficiência hídrica.

 

O pesquisador esclarece, porém, que o bom desempenho não está vinculado somente às variedades, mas ao conceito de produção, que envolve, além de variedades, ambiente de produção, época de plantio e de corte. “Trata-se de uma estratégia para produzir melhor”.

Em sua palestra também serão abordados aspectos de manejo e o conceito de matriz de ambiente, que se comprovou eficaz nessas condições. “É possível alocar a cana e reduzir o déficit hídrico no ciclo da cana cultivada”. Landell abordará também a época de plantio e de corte. “Concluímos que no cerrado deve-se retardar o plantio”, diz.

 

Carla Gomes

Assessora de Imprensa – IAC

(19) 2137-0613

midiaiac@iac.sp.gov.br

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