Colheita da soja avança no Rio Grande do Sul
As precipitações em volumes variáveis reduziram o ritmo de colheita da soja, que atinge 66% da área cultivada na safra 2023-24
Artigo publicado na revista Insects determina com precisão a distância de dispersão de um tipo de vespa que neutraliza uma praga comum em áreas de produção de soja – o Euschistus heros, inseto conhecido como percevejo-marrom. Trata-se de um grave desafio à produção de soja na América do Sul e seu controle é difícil por causa de resistência a inseticidas químicos, afirmam os autores do artigo. Já a solução, a Telenomus podisi, é uma espécie de microvespa parasitoide, descrita pelo entomologista norte-americano William Harris Ashmead em 1893.
Com o estudo conduzido por cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Estadual de Oklahoma (Estados Unidos), é possível aprimorar a liberação da vespa para assegurar o controle biológico do percevejo, que também afeta áreas de cultivo de algodão e girassol, além de pastagens.
A investigação científica tem recebido diversos apoios da Fapesp (projetos 18/02317-5, 19/10736-0 e 18/19782-2).
As fêmeas de T. podisi localizam ovos de E. heros nas plantas e neles depositam seus próprios ovos, interrompendo o desenvolvimento do percevejo-marrom no início do ciclo de desenvolvimento.
“Os ovos da praga tornam-se de coloração escura e dão origem a novas vespas, em vez de novos percevejos. Na sequência, essas vespas vão parasitar mais ovos da praga”, detalha Regiane Cristina de Oliveira, professora do Departamento de Proteção Vegetal da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, campus de Botucatu. Para oferecer aos produtores a forma correta de utilização do defensivo agrícola natural, vários estudos foram realizados para entender como deve ser liberado – qual a quantidade de vespas e a melhor distância entre os pontos de liberação, entre outros aspectos.
O grupo de pesquisadores verificou em condições de campo que a capacidade de dispersão de T. podisi, influenciada pelo estágio de crescimento da soja, variou entre 31 e 39 metros. A taxa máxima de parasitismo de ovos de percevejos foi de cerca de 60%. Com base nesses resultados, os autores recomendam que os pontos de liberação das vespas sejam espaçados no máximo 30 metros entre si para fornecer controle eficaz da praga, uma das mais agressivas da cultura da soja. O E. heros causa prejuízos nas vagens (pode impor perda de até 30% do potencial produtivo). No outono, o inseto-praga inicia a procura por abrigos sob a palhada, onde permanece até o verão. Durante esse tempo, acumula lipídios e não se alimenta, permanecendo num estado de quiescência (estado fisiológico de baixa atividade metabólica).
Como a eficácia do parasitoide depende da capacidade de encontrar hospedeiros, o conhecimento da capacidade de dispersão possibilita o ajuste da logística e da técnica de liberação. “Isso otimiza o manejo de percevejos por programas de controle biológico aplicados em extensas áreas de monocultura”, diz Oliveira, que é engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal do Espírito Santo, mestre em entomologia agrícola pela Unesp e doutora em entomologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), com pós-doutorado na Universidade Estadual do Mississippi (Estados Unidos).
Além de Oliveira, o artigo é assinado por William Wyatt Hoback e Rafael Hayashida, do Departamento de Entomologia e Patologia Vegetal da Universidade de Oklahoma, e Gabryele Ramos, Daniel Mariano Santos e Daniel de Lima Alvarez, da FCA-Unesp.
O artigo recebeu o seguinte resumo (tradução livre):
"Um programa de controle biológico aumentativo utilizando o parasitóide de ovos Telenomus podisi Ashmead (Hymenoptera: Platygastridae) é uma ferramenta promissora para o manejo do percevejo marrom, Euschistus heros (Fabricius) (Hemiptera: Pentatomidae) na soja. Os T. podisi são liberados como adultos ou pupas em ovos de E. heros criados em laboratório. Devido ao pequeno tamanho do parasitóide e à capacidade de dispersão potencialmente limitada, a determinação do padrão de liberação ideal é crítica para o controle biológico da praga alvo. Este estudo utilizou ovos sentinela de E. heros para investigar a dispersão de T. podisi nas culturas de soja durante dois estágios fenológicos distintos: o início da floração (Vn – R1) e a fase de enchimento dos grãos (R5 – R6). Os dados foram analisados por meio de semivariogramas e mapas de krigagem. Os resultados indicam diferenças significativas nas taxas de parasitismo entre os dois estágios de crescimento das plantas e entre diferentes matrizes. O alcance máximo de dispersão para T. podisi foi calculado em 39 m no estágio Vn-R1 com uma taxa máxima de parasitismo de 42%, enquanto no estágio R5-R6, o alcance máximo de dispersão foi calculado em 30,9 m com um parasitismo máximo de 73%. Portanto, recomenda-se que os pontos de soltura de T. podisi não sejam espaçados mais de 30 m. Estes resultados fornecem informações valiosas para futuras pesquisas e aplicações em estratégias de controle biológico, incluindo ajuste da logística e técnica de liberação dependendo do estágio fenológico da cultura."
O texto completo pode ser lido em doi.org/10.3390/insects15030192
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