Pesquisa desenvolve clone de cajueiro resistente e produtivo

O elevado potencial produtivo é um destaque do clone, que registrou uma média de 2,7 mil quilos por hectare (kg/ha) de castanha do sexto ao nono ano de produção

29.11.2022 | 14:55 (UTC -3)
Embrapa
O elevado potencial produtivo é um destaque do clone, que registrou uma média de 2,7 mil quilos por hectare (kg/ha) de castanha do sexto ao nono ano de produção; Foto: Ricardo Moura
O elevado potencial produtivo é um destaque do clone, que registrou uma média de 2,7 mil quilos por hectare (kg/ha) de castanha do sexto ao nono ano de produção; Foto: Ricardo Moura

Pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) desenvolveram clone de cajueiro que demonstrou excelente desempenho na região semiárida de altitude. O BRS 555, que acaba de ser lançado, é recomendado para o sertão do Seridó e para o semiárido serrano da mesorregião de Serra de Santana, no estado do Rio Grande do Norte. O elevado potencial produtivo é um destaque do clone, que registrou uma média de 2,7 mil quilos por hectare (kg/ha) de castanha do sexto ao nono ano de produção.  A produção média do estado, em 2021, foi de 336 kg/ha, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em média, a produtividade da castanha do novo clone foi 57,6% superior ao clone testemunha BRS 265, enquanto a produção do pedúnculo registrou um incremento de 60,4% na comparação com o BRS 265. A variedade apresenta uma amêndoa com bom peso, em média 2,5g.

Outra vantagem dessa nova variedade é a resistência à broca-do-tronco (Marshallius anacardii), praga com forte incidência e severidade na área serrana e que provoca a redução da copa, da estatura de plantas e, consequentemente, da produção. 

De acordo com o pesquisador Francisco Vidal, para desenvolver o BRS 555 a pesquisa trabalhou na seleção fenotípica individual das plantas na fazenda Caucaia Agropecuária S.A, situada no município de Pio IX, no Piauí. Em seguida, os pesquisadores da Embrapa realizaram avaliações preliminares de clones no Campo Experimental da Embrapa, em Pacajus (CE). Posteriormente, a avaliação clonal dos genótipos selecionados e avalidação em área de produtor foram realizadas no município de Santana do Matos, região serrana do Rio Grande do Norte.

A importância dos clones para a cajucultura

No campo, são criadas técnicas de manejo que incluem irrigação, controle fitossanitário e condução de podas. Na indústria, são pensados caminhos que possibilitam o processamento integral do caju, agregando valor a cada fase da matéria-prima. No entanto, é nos laboratórios e campos experimentais que a Embrapa projeta o seu produto tecnológico com efeitos mais duradouros: os clones. 

As variedades de cajueiro-anão desenvolvidas pela Embrapa abriram rotas para a otimização econômica da cadeia produtiva. 

Obtidos por meio de um programa de melhoramento genético, os clones possibilitaram a redução do porte e a uniformização das plantas, proporcionando o aproveitamento do pedúnculo e a modernização dos tratos culturais e fitossanitários, imprescindíveis ao aumento de produtividade. Agregou-se a isso, a resistência ao estresse hídrico e algumas pragas e doenças, oferecendo aos produtores maior produtividade, economia com técnicas de manejo e rentabilidade com o aproveitamento do pedúnculo como caju de mesa e na indústria de processamento de sucos e doces. Com o cajueiro gigante é difícil aproveitar o pedúnculo, pois o porte da planta inviabiliza a colheita manual, que garante a maior integridade do fruto. 

Nos últimos anos, a Embrapa Agroindústria Tropical instalou diversos experimentos para testar novos materiais clonais mais adaptados às regiões de cultivo. No Rio Grande do Norte, municípios como Serra do Mel, Apodi, Severiano Melo, Lagoa Nova, Parnamirim e Florânia atuaram como polos para o desenvolvimento de clones de cajueiro-anão. 

Carlos de Medeiros Costa, secretário de Agricultura de Florânia, no sertão do Seridó (RN), destaca que a cajucultura do município passou por uma renovação com o aumento da produção, a seleção de qualidade e um novo padrão de mercado não somente para a amêndoa, mas também para o caju de mesa a partir da chegada dos clones da Embrapa. 

“Hoje, Florânia tem entre 80% e 90% de cajueiro-anão precoce. Foi algo que revolucionou. Quem não migrou para o cultivo de cajueiro-anão precoce ficou para trás, pois muitos cajueiros gigantes estão improdutivos. Além disso, o produtor sabe que durante todo o ano ele vai ter essa renda do cajueiro, por isso ele cuida, investe, faz a poda, adubação, faz todos os tratos necessários. É de grande importância esse trabalho da Embrapa”, afirma o secretário.

Medeiros salienta, ainda, que o desenvolvimento de clones na região de Santana dos Matos foi imprescindível para a revitalização da cajucultura de Florânia, que agora conta com materiais adaptados às condições de clima e solo locais. “A maioria dos cajueiros são clones, principalmente do jardim clonal que a Embrapa trouxe, que é composto por variedades adaptadas aqui. Isso é importante, pois vimos com o passar do tempo que muitos projetos que traziam mudas produzidas em outras condições não tinham bons resultados de adaptação”, lembra.

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