Pesquisa da Esalq avalia arborização viária de Campinas

07.11.2008 | 21:59 (UTC -3)

“O Bairro Cambuí surge com o início do povoamento da cidade de Campinas, no século XVIII, pelas incursões dos bandeirantes pelo interior do Brasil, através de uma estrada rústica que passava pelo local, denominada caminho dos Goiazes. A região é um dos descampados, campinhos ou campinas do qual a cidade originou-se e está localizado nas proximidades da atual Praça XV de Novembro. O nome do bairro se deve à presença abundante, na época, da espécie denominada popularmente de cambuí. Em seus primórdios, o bairro constituiu-se em morada e habitação para prostitutas e negros escravos, fugidos e libertos, tendo relação direta com essa importante etnia; posteriormente, passou a ser residência da nova elite cafeeira em ascensão. O ajardinamento público, a arborização viária, do bairro e da cidade de Campinas, foram realizados para, juntamente à outras melhorias urbanas, transformar suas péssimas condições sanitárias, resgatando a auto-estima do campineiro e a sua qualidade de vida, após várias epidemias, que dizimaram e expulsaram parcela significativa de sua população. O acúmulo de capital oriundo da cultura do café permitiu a criação do grande patrimônio arbóreo, tanto do bairro, atualmente com aproximadamente 47mil moradores, quanto do próprio município”.

Este relato histórico, sobre um dos bairros mais importantes da cidade de Campinas-SP, faz parte da pesquisa “Arborização viária como patrimônio municipal de Campinas/SP: histórico, situação atual e potencialidades no Bairro Cambuí”, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Fitotecnia, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ). “O trabalho é o primeiro levantamento completo da vegetação viária de um bairro de Campinas”, revela José Hamilton de Aguirre Junior, autor do estudo que mapeou na região 2.087 indivíduos vivos, distribuídos em 117 espécies, 94 gêneros e 42 famílias identificadas, 21 indivíduos arbóreos e 12 palmeiras não identificadas, além de 74 mortos.

De acordo com José Hamilton, existem 25,2 indivíduos a cada quilômetro de calçada, evidenciando uma carência de 74,8 árvores/km. Considerando que o bairro conta com 82.880 metros de passeio, a conta do déficit arbóreo resulta num total de 6.199 indivíduos, segundo a Lei 11.571. A espécie predominante é a sibipiruna, com 261 indivíduos (12,51%). As nativas representam 1.117 exemplares (53,5%), distribuídas em 46 espécies; as exóticas, 937 (44,9%). As 10 primeiras espécies concentram (54,2%), 1.131 árvores, destacando-se a presença de 5 nativas e 5 exóticas (2 delas arbustivas), sendo a primeira colocada desta categoria, a pata de vaca, com 129 indivíduos (6,18%).

Além da contagem e catalogação, a pesquisa aponta os principais problemas que dificultam a manutenção deste patrimônio ambiental. Cerca de 25% das árvores estão com afloramento de raiz. Os desequilíbrios a partir de podas irregulares podem ser verificados em 22,6% dos exemplares, o alto grau de infestação de pragas urbanas em 6,09% e, as doenças graves, em 1,39%.

“A falta de fiscalização, planejamento, acompanhamento e manejo técnicos, práticas adequadas por parte das concessionárias de serviços públicos aéreos e subterrâneos, a especulação imobiliária, prestadores de serviços, comércio, a própria população, o tráfego intenso e a poluição de veículos, tornam crítico o estado atual dessa arborização, ameaçando a história do bairro”, destaca o pesquisador.

Para reverter este panorama, José Hamilton afirma que este bem comum deve ser o foco de políticas públicas que garantam a sua efetiva proteção. Como um dos benefícios à municipalidade, destaca-se a área ocupada pela copa das árvores (13,92ha), superior à de várias áreas verdes centrais de Campinas. “O local é um bairro verticalizado, tomado por prédios e construções. A arborização viária pode ajudar a população a melhorar a sua qualidade de vida, mas infelizmente o que estamos vendo nas cidades brasileiras e em Campinas é a total destruição das árvores, grande patrimônio de todos os habitantes, e a perda de suas contribuições às cidades num momento de agravamento das mudanças climáticas globais”, finaliza.

Caio Albuquerque

Esalq

www.esalq.usp.br

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