Pesquisa da Amcham mostra América Latina como prioridade para expansão internacional do agronegócio brasileiro

13.08.2012 | 20:59 (UTC -3)
Fonte: Amcham

A infraestrutura logística defasada, o sistema tributário burocrático, a falta de acordos internacionais e a legislação trabalhista pouco flexível são os principais elementos críticos para um melhor desempenho do agronegócio brasileiro, revela a pesquisa ‘Panorama do Setor de Agronegócios no Brasil e no Mundo’, realizada pela Amcham.

O estudo ouviu 84 altos gestores de empresas associadas que integram o setor e foi divulgado nesta sexta-feira (03/08) durante o evento ‘Competitividade Setorial – Agronegócios’ da Amcham-São Paulo.

Em seguida, aparecem como fatores de grande impacto política fundiária e segurança incompatíveis com a realidade do País, falta de incentivos para aquisições de novas tecnologias, estrutura da cadeia produtiva, competitiva para alguns e outros não, falta de linhas de crédito, variações cambiais e regime de exploração da atividade rural concentrado na pessoa física.

“Os gargalos são os que bem conhecemos, relacionados a infraestrutura, custo elevado, sistema tributário pesado e complexo e falta de acordos internacionais. O Brasil tem grande dificuldade de fazer acordos pela dicotomia de ser forte do agronegócio e ter fragilidade na indústria”, afirma Gabriel Rico, CEO da Amcham, que apresentou os dados.

O solo fértil e o domínio tecnológico fizeram do Brasil um país altamente competitivo no agronegócio. Mas, para atingir a liderança mundial em produção e fornecimento de alimentos, é preciso ampliar o conhecimento tecnológico e reduzir o Custo Brasil, na opinião da maioria dos entrevistados.

Cerca de 68% disseram que, para atingir esse potencial de liderança, é essencial o aumento do conhecimento e das tecnologias em sistemas de produção sustentáveis para manter a capacidade produtiva do País. Outra resposta bastante citada, com 56%, foi que o alto “Custo Brasil” comprometerá o alcance do patamar de liderança global.

Os entrevistados foram questionados sobre as linhas de crédito disponibilizadas pelo governo ao setor. Quase a metade revelou acreditar que são satisfatórias, mas apenas beneficiam alguns segmentos (49%).

Ainda conforme a pesquisa, o agronegócio brasileiro é percebido como bastante fragmentado. Quase a metade (49%) dos entrevistados avalia que a diversidade de segmentos que compõem a cadeia faz com que apenas parte deles trabalhe de maneira conjunta.

Somente 27% percebem uma preocupação generalizada do setor em se unir para ganhar competitividade, e outros 24% acham que as diferenças de interesse entre os subsegmentos levam as empresas a agir de forma independente. “Alguns veem uma integração precária, o que evidencia mais a necessidade deste diálogo”, destaca Rico, da Amcham.

A pesquisa também questionou quais são os fatores com maior influência sobre o setor. Relacionados ao mercado doméstico, o crescimento e melhoria da distribuição da renda aparecem na liderança, com 39%, mas o aumento populacional também foi lembrado por 7%.

A volatilidade dos preços (13%), a expansão da população mundial (8%) e a volatilidade da demanda (4%) foram os fatores internacionais indicados como mais impactantes.

A pesquisa sinalizou ainda influenciadores que dizem respeito a aspectos tanto internacionais como domésticos. O principal item apontado foram as alterações no padrão de consumo (11%), seguidas de sustentabilidade e segurança alimentar (8%), desenvolvimento de biotecnologia (7%) e maior urbanização, com 3%.

Para os representantes do agronegócio, quanto maiores forem as empresas brasileiras, melhor. Os efeitos de um movimento de consolidação (fusão/aquisição) para expandir a oferta e distribuição de produtos e serviços são vistos como positivos por 46%, por possibilitar a criação de grandes conglomerados mais competitivos em nível internacional.

A concentração é interpretada de forma negativa por 37% dos consultados, por reduzir a competição. Outros 11% acreditam que consolidações não trazem impactos significativos ao setor e 6% preferiram não responder.

A cadeia do agronegócio deixa clara a intenção de continuar crescendo para atender ao aumento da demanda mundial por alimentos.

Cálculos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que, até 2020, a oferta de alimentos no mundo terá de crescer 20% para dar conta do aumento da demanda, e que o Brasil deverá responder por 40% desse incremento.

A sondagem da Amcham mostra que a maioria (61%) das empresas dessa cadeia no País acredita que estará alinhada com essa projeção. Outros 19% dizem que irão além, expandindo-se ainda mais fortemente, e igual parcela sinaliza uma expectativa de crescimento abaixo dessa velocidade.

Considerando um horizonte dos próximos três anos, as empresas responderam quais serão suas frentes de investimentos.

Os focos estarão em aumento do portfólio de produtos e serviços (como disseram 71%), capacitação de funcionários (50%) e novas tecnologias para aperfeiçoar a competitividade operacional (43%).

Também foram citadas a aquisição de equipamentos e maquinários (32%), expansão para outras regiões do País (32%), fusão ou aquisição de outras empresas (28%), aumento dos investimentos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento, com 22%) e expansão internacional (15%).

De acordo com os resultados da pesquisa, é possível dizer que as empresas estão atacando todas as frentes, segundo Gabriel Rico, da Amcham. “É uma postura bastante agressiva e diversificada”, resume o CEO.

No plano internacional, a América Latina aparece com grande destaque entre os mercados-alvo para investimentos, parcerias comerciais e operações internacionais. O interesse pela Argentina foi demonstrado por 35%, seguido por Chile (22%), Colômbia (17%) e Venezuela (11%). Uma fatia de 40% dos respondentes escolheu outros países latino-americanos.

Os Estados Unidos foram apontados por 40% como o principal destino de interesse e a China por 33%. Vale ressaltar também que a África foi lembrada por 25%.

No que tange à logística, 67% se colocam a favor do transporte intermodal rodoferroviário como a melhor opção de custo benefício para a cadeia do agronegócio. Em relação ao modal ferroviário, um grupo de 60% defende a revisão da tarifa teto ferroviária.

Uma parcela de 47% afirma que, apesar de a cabotagem apresentar custos menores do que outros modais, não beneficia toda a cadeia de abastecimento do setor. Quanto ao transporte rodoviário, pouco menos da metade (45%) não endossa a afirmação de que esse modal seja a melhor opção de transporte.

Um grupo de 43% de entrevistados sustenta que o transporte aeroviário é uma alternativa vantajosa para o transporte de certas mercadorias, sem se importar com os custos superiores desse meio de transporte.

Embora a intenção de expansão internacional seja real, os empresários percebem questões importantes que impactam esse objetivo. Nada menos que 64% da amostra confirmam a percepção de que o chamado “protecionismo verde” tende a ser considerado nos acordos globais, criando barreiras para os alimentos exportados pelo País.

Também são 64% os que concordam com a afirmação de que as crises econômicas e a necessidade de proteção dos mercados locais levam a uma tendência de adiamento de acordos e negociações internacionais.

Em relação ao Mercosul, 67% concordam que o alto Custo Brasil dificulta a competitividade do do setor no bloco. Uma parcela de 52% avalia que, em função do Mercosul, o Brasil tem dificuldade de alcançar avanços em negociações de acordos comerciais bilaterais com países fora do bloco.

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