Pesquisa avança no desenvolvimento de feijão mais eficiente

Melhoramento de plantas identifica linhagens de grão carioca mais responsivas ao uso de inoculantes

11.02.2025 | 09:32 (UTC -3)
Rodrigo Peixoto
Foto: Sebastião Araújo
Foto: Sebastião Araújo

Pesquisadores de Goiás e de Mato Grosso identificaram, dentro do programa de melhoramento de feijão da Embrapa, quatro linhagens de grão carioca que podem ser utilizadas para o desenvolvimento de variedades mais eficientes quanto à Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN). Os cientistas chegaram a quatro fontes doadoras de genes para o cruzamento de plantas. 

A pesquisa selecionou as linhagens CNFC 15086, BRS Sublime, CNFC 15010 e CNFC 15003 para serem aproveitadas em cruzamentos com outras, portadoras de alta produtividade. As linhagens selecionadas apresentam altos índices de nodulação nas raízes, característica essencial para a FBN e indicativa do fato de que a inoculação de sementes com microrganismos chamados rizóbios foi eficiente. Nesses nódulos ocorre a conversão do nitrogênio atmosférico em amônia, substância que será absorvida pela planta, promovendo o seu crescimento e podendo substituir parcial ou completamente a necessidade de fertilizantes químicos nitrogenados, o que contribui para a redução dos custos de produção e maior sustentabilidade da agricultura.

De acordo com o pesquisador Helton Pereira, da Embrapa Arroz e Feijão, o estudo envolveu, ao todo, a avaliação de 19 linhagens de grãos carioca. Os trabalhos foram conduzidos conforme os tratos recomendados para a cultura do feijão em cinco locais - Anápolis e Santo Antônio de Goiás (GO); Tangará da Serra (MT); Ponta Grossa (PR); e Brasília (DF), durante dois anos, ao longo de três safras por ano (águas, seca e inverno). 

Para cada ambiente, houve um experimento com aplicação de ureia (adubação nitrogenada), distribuída na semeadura e em cobertura; e outro com inoculação das sementes combinando dois produtos comerciais à base de Rhizobium freirei e R. tropici.   “As quatro linhagens mais bem avaliadas irão passar agora a integrar os cruzamentos do programa de melhoramento do feijoeiro para grão carioca”, disse Pereira.

A pesquisa para a identificação e desenvolvimento de cultivares de feijão mais eficientes em fixação biológica de nitrogênio resulta de parceria entre a Embrapa, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano), a Universidade Federal da Goiás (UFG) e a Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer).

Seleção de estirpes impulsiona a pesquisa

Foto: Ana Lúcia Ferreira
Foto: Ana Lúcia Ferreira

Apesar da importância da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) como fonte de nitrogênio para as leguminosas nas lavouras, existem poucos trabalhos em programas de melhoramento genético do feijoeiro sobre o assunto. De acordo com o pesquisador da Embrapa Enderson Ferreira, que atua na área de Microbiologia do Solo, os ciclos de seleção de linhagens geralmente são feitos com o uso de fertilizantes nitrogenados formulados. Apenas mais recentemente, a partir de meados de 2008, é que houve uma intensificação de trabalhos específicos com o foco exclusivo em FBN.

Os estudos para a avaliação de microrganismos, como os rizóbios, e seus efeitos na cultura do feijão no Brasil, começaram na década de 1960. Muitos trabalhos, nesse início dos estudos, indicavam pequenas respostas à inoculação em condições de campo.

Ferreira afirma que grandes avanços, entretanto, estão sendo obtidos com a seleção e inoculação de novas estirpes de rizóbio geneticamente estáveis e mais tolerantes a estresses ambientais como altas temperaturas e acidez do solo. “Isso vem estimulando o programa de melhoramento genético do feijoeiro a dedicar mais esforços ao desenvolvimento de cultivares que possam ser melhor beneficiadas pela FBN”, avalia o pesquisador.

Impactos gerados pela adoção da FBN

A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) é considerada uma das técnicas sustentáveis e relacionadas à agricultura de baixo carbono. A tecnologia recorre a bactérias que retiram o nitrogênio da atmosfera e o disponibilizam para a planta. Não causa impacto negativo na qualidade do solo, da água e do ar, ao contrário dos fertilizantes convencionais, que podem, por exemplo, aumentar a pegada de carbono pela emissão de gases de efeito estufa.

Além disso, o impacto econômico da solução tecnológica é considerável. Adubos nitrogenados representam um percentual expressivo dos custos de produção, pois são produtos em sua maioria importados, cotados em dólar.

De acordo com o Balanço Social da Embrapa 2023, a adoção da FBN em lavouras de soja gerou economia de cerca de R$ 38 bilhões nas importações de adubos nitrogenados em 2021. Tal economia chegou a R$ 72 bilhões em 2022, uma elevação de 89% em relação ao ano anterior. Isso ocorreu, principalmente, por conta do aumento do preço dos fertilizantes nitrogenados, resultado do contexto mundial de guerra envolvendo países produtores desses insumos. Em 2023, o impacto retornou aos já expressivos patamares anteriores.

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