Pesquisa avalia potencial do trigo em novas áreas no Nordeste

​Ensaios buscam avaliar o potencial e a viabilidade da cultura do trigo em áreas da nova fronteira agrícola denominada Sealba

02.07.2020 | 20:59 (UTC -3)
Saulo Coelho

Ensaios de campo conduzidos pela Embrapa buscam avaliar o potencial e a viabilidade da cultura do trigo em áreas da nova fronteira agrícola denominada Sealba, que abrange 171 municípios das zonas costeiras e Agreste de Sergipe, Alagoas e Nordeste da Bahia.

Nos dias 23 e 26 de junho, foram plantados experimentos com trigo nos municípios de Porto Calvo e Anadia, nos Tabuleiros Costeiros Alagoanos. Os ensaios utilizam as cultivares tropicalizadas BRS 264 e BRS 404, dentre outras, que mais têm se destacado em áreas do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais. 

A atividade é conduzida pela pesquisadora Lizz Kezzy de Morais, da Unidade de Execução de Pesquisa de Rio Largo (AL), vinculada à Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE), e integra o projeto ‘Melhoramento genético de trigo para o Brasil 2017-2021’, sob a liderança da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS).

O objetivo é avaliar características fenológicas, agronômicas e de rendimento das cultivares, além da qualidade tecnológica de grãos e farinha, com foco na expansão do trigo tropicalizado no país, que ainda não conseguiu atingir autossuficiência nesse produto, importando metade do que consome.

Dependência da importação

O Brasil produziu, em 2019, 5,23 milhões de toneladas de trigo, segundo dados do IBGE, mas ainda importa pelo menos 50% do que consome, sendo um dos cinco maiores importadores do mundo, superando 6 milhões de toneladas trazidas de outros países. 

“O déficit existente entre volume produzido e volume consumido deixa o país vulnerável às importações massivas, com grande dependência do trigo importado”, explica Lizz Kezzy. 

Os estados brasileiros produtores de trigo (RS, SC, PR, SP, MS, GO, MG e DF) aplicam todo o resultado de sua produção no próprio consumo, não restando para repasse aos outros estados, com exceção do RS e PR. Já o Nordeste importa 100% do trigo que consome, sendo proveniente da Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Canadá. 

“Assim, para que o Brasil possa aumentar a sua produção e reduzir a sua dependência das importações, há necessidade de expansão da fronteira agrícola e estudo de novas regiões de adaptação, como alguns estados de clima tropical”, complementa a pesquisadora.

O novo secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Cesar Halum, empossado em 22 de junho, acredita que as pesquisas são fundamentais para aumento da produtividade nas regiões agrícolas, e que o trigo tem papel estratégico no fortalecimento das novas regiões.

Grãos em novas regiões

A Embrapa tem contribuído com pesquisas para o fortalecimento da cultura de grãos, especialmente em novas regiões com potencial agrícola. Estudos de inteligência territorial conduzidos em parceria com instituições de pesquisa e o setor produtivo possibilitaram identificar e delimitar o Sealba, com seu grande potencial agrícola para cultivo de grãos. 

Em Alagoas estão descritos 74 municípios, que apresentam diferentes condições de solo e clima, criando oportunidades e desafios para novas culturas na região. As cultivares tropicalizadas desenvolvidas pela Embrapa – BRS 264 e BRS 404 – têm atingido elevada produtividade, com resultados acima de 4000 kg/ha em ensaios exploratórios conduzidos em 2019 em Anadia.

“Esses materiais apresentam em sua genética ciclo mais curto, e capacidade de se adaptar a regiões de climas tropicais com baixa pluviosidade, podendo se tornar alternativa de cultivo para o Sealba, especificamente para as crescentes áreas destinadas aos grãos em Alagoas”, concluiu a pesquisadora.

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