Integrantes do grupo gestor da Agricultura ABC se reúnem na Capital
O último dia do VII Simpósio de Pesquisa dos Cafés promoveu palestras e painéis de discussão em torno do tema: Cafeicultura e Meio Ambiente. A primeira palestra do dia tratou de “Legislação Ambiental e Cafeicultura”, ministrada pelo pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Ladislau Araujo Skorupa. Crescimento populacional, aumento da produtividade sem demanda por novas áreas cultivadas e o polêmico novo Código Florestal brasileiro estiveram entre os assuntos abordados pelo palestrante.
Apesar dos desafios que o país tem a enfrentar na área ambiental, Skorupa acredita que o Brasil está em vantagem em alguns aspectos. “Temos que enxergar as grandes oportunidades de nos tornarmos referência em produtividade e sustentabilidade. Temos um cenário bom que pode ficar ainda melhor e já existem muitos países nos olhando invejosos disso”. O crescimento populacional, junto ao aumento das demandas por recursos e espaços, que pode comprometer a sustentabilidade, foi o ponto de partida da apresentação. De acordo com o palestrante, hoje, os produtores já têm mais consciência de como fazer uma agricultura verde e há o reconhecimento da sociedade em relação ao pagamento por serviços ambientais. Além disso, Skorupa destacou que o Brasil evoluiu nos aspectos produção e produtividade, ou seja, conseguimos cada vez mais produtividade sem que para isso seja necessário aumentar a quantidade de terras cultivadas.
Analisando de modo geral a importância da adequação ambiental da propriedade rural e da produção agropecuária, Skorupa destacou aspectos a considerar como: sustentabilidade a longo prazo, exigências do mercado, atendimento à legislação e qualidade de vida. Ao encerrar, lembrou os desafios e dificuldades a serem vencidos: carência de dados oficiais para levantamento da situação atual das propriedades quanto à adequação ambiental, carência de informações sobre espacialização e características das propriedades, informações sobre redes hidrográficas, aspectos sobre uso e ocupação do solo e, mais recentemente, agricultura com baixo carbono, certificação da produção e pagamento por serviços ambientais.
A palestra “Aproveitamento econômico de áreas de reserva”, do professor da Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’ (Esalq/USP), Sérgius Gandolfi, que veio em seguida, também atraiu centenas de pessoas interessadas em sustentabilidade e produtividade do café a partir dos benefícios gerados pelo uso de áreas de reserva legal.
Prevista pelo Código Florestal, reserva legal é definida como uma área de conservação que toda propriedade deve possuir, mas cujo percentual de extensão varia conforme a região do Brasil. “Na maior parte do país, ela corresponde a 20% da área da propriedade e deve ser mantida com floresta nativa, para fins de conservação, ou seja, preservação e uso através de manejo florestal sustentável. Se essa área não mais existir, ela deve ser restaurada e, nesse processo de restauração, o uso econômico sustentável pode ser planejado”, explica Gandolfi.
Segundo o ecólogo, os ganhos econômicos podem ser diretos (produção de madeira associada à extração de outros produtos como frutos, sementes, plantas medicinais, mel etc), indiretos (atividade turística) e de serviços (como a polinização, que pode aumentar a produtividade da lavoura). “No aproveitamento indireto, observa-se um aumento da produtividade dos cafezais – aproximadamente em 20% - distantes até 1 km de áreas de florestas nativas. A maior rentabilidade resulta do aumento da polinização da cultura feita por insetos provenientes das florestas vizinhas”, explanou. Por outro lado, ele explicou que, no aproveitamento direto, obtém-se o uso sustentável das áreas de florestas nativas para atividade de turismo rural, o que possibilita uma renda complementar ao agricultor. “Além disso, por meio do manejo sustentável das espécies florestais nativas, é possível fornecer diversos produtos comercializáveis, tais como, lenha, carvão, madeira, frutos, mel, sementes, resinas, pigmentos, óleos, fármacos, etc”, sugeriu Gandolfi.
De acordo com o professor, existem várias formas de se aproveitar economicamente a área de reserva legal. “Desde que haja um planejamento de manejo adequado às normas ambientais, pode-se aproveitar mais diversificadamente as fontes de renda do produtor rural. Os benefícios podem ir muito além da rentabilidade proporcionada pelo crescimento da produção. Há vantagens pelo aumento de valor agregado proveniente da certificação ambiental (ágio), pelo aumento de renda resultante da comercialização de produtos florestais das reservas legais e pela possibilidade de exploração de atividades turísticas. Além disso, os ganhos não se limitam à renda. O principal benefício dessas reservas é o aumento da sustentabilidade dos cultivos agrícolas, resultante do maior controle natural de pragas e doenças”, garantiu o ecólogo.
– Fatores que afetam o desenvolvimento do cafeeiro foram analisados no painel “Ecofisiologia: fisiologia, sombreamento, estresses abióticos”, apresentado pelo professor da UFV, Fábio Murilo Da Matta. O futuro da cafeicultura com o aquecimento global, o uso de sombreamento (arborização) e a técnica ainda nova do Estresse Hídrico Controlado – que consiste na suspensão da irrigação por períodos determinados, têm afetado o cafeeiro de alguma forma. Da Matta falou sobre as vantagens e desvantagens de cada ponto para as lavouras de café. De como os efeitos do aumento da temperatura no planeta pode ser mitigado pelo aumento proporcional do carbono, de como a luz e o sombreamento influenciam o cafeeiro e também como a arborização, técnica que volta a ser mais utilizada no Brasil, pode ser adotada, de forma a não ser excessiva e prejudicial às plantas. “O sombreamento em cafezais pode aumentar a temperatura mínima e diminuir a temperatura máxima para a planta, assim como a umidade relativa, o que é benéfico para o cafeeiro”, explicou.
Por fim, o palestrante tratou do Estresse Hídrico Controlado, do qual destacou as vantagens de diminuir custos, maior proporção de grãos cereja, menos gastos com água e energia, mas que deve ter atenção por parte do produtor com relação ao período de suspensão da irrigação, que pode variar na planta dependendo de diferentes fatores, como o solo, por exemplo.
O painel “Nematóides do cafeeiro: desafios e perspectivas”, que ficou a cargo de três especialistas no assunto, Regina Maria Dechechi Gomes Carneiro, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Sônia Maria Lima Salgado, da Epamig, e Wallace Gonçalves, do IAC, avaliou o cenário atual das pesquisas, o que vem sendo adotado em relação a essas pragas que atacam as raízes do cafeeiro. O que esperar e como direcionar novas ações de pesquisa sobre o tema e a diversidade de espécies de nematóides, inclusive as que mais danos causam à planta, também foram assuntos levantados pelos palestrantes. A pesquisadora Regina Carneiro falou sobre pesquisas mais atuais que vem desenvolvendo, como estudos sobre resistência genética do cafeeiro e controle biológico.
A pesquisadora da Epamig lembrou o grande desafio de conter a disseminação desses nematóides, especialmente de M. paranaensis, que pode significar o sucesso da implantação de uma lavoura nova e evitar prejuízos na lavoura em produção. A pesquisadora apresentou resultados preliminares de pesquisas realizadas na Epamig com seleção de genótipos de cafeeiros para resistência à espécie estudada já que a resistência de plantas é considerada uma das principais táticas de manejo dos nematóides, além de ser um método econômico e eficaz.
No painel Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), proferido pelo representante do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), Thiago Mendes, explicou que o MDL é um dos mecanismos de flexibilização do Protocolo de Quioto, envolvendo projetos de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) ou de aumento de remoções de CO2 (por reflorestamento) e deu uma noção histórica do desenvolvimento do tema no Brasil.
O objetivo foi discutir formas da cultura do café utilizar esse mecanismo para alavancar projetos, como por exemplo, a utilização de resíduos para geração de energia elétrica, contribuindo para a sustentabilidade desses países, a partir da implantação de tecnologias mais eficientes e limpas, e ajudando os países desenvolvidos a cumprir suas metas impostas pelo Protocolo de Quioto. “Como o Brasil é o maior produtor de café, é importante discutir o potencial de colaboração dessa cultura, mais viável tendo como base fontes renováveis. Não é deixar de produzir ou produzir menos, é mudar a forma de produzir para que se torne social, econômica e ambientalmente segura. Além disso, projetos de MDL criam a oportunidade de desenvolver novas tecnologias, além da possibilidade de receber recursos pelos créditos gerados”, explicou.
O representante do MCT também explicou o funcionamento do ciclo do MDL para emissão de crédito. Segundo ele, as reduções de emissões promovidas por esses projetos devem ser certificadas por entidades operacionais designadas pelo órgão de controle da ONU para o MDL, o Conselho Executivo. “Existem regras claras e rígidas para aprovação desses projetos, que devem utilizar metodologias aprovadas, serem validados e verificados minuciosamente. Os projetos devem ter caráter voluntário, as reduções precisam ser reais, de longo prazo e mensuráveis, além de serem adicionais às que ocorreriam na ausência do projeto”, completou.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MLD), incluído no Protocolo de Quioto, é um importante subsídio na busca do desenvolvimento sustentável ao promover eficiência e energias renováveis e projetos de reflorestamento, entre outras ações. Baseia-se nas disposições do artigo 12 do Protocolo de Quioto, possibilitando a redução de emissões de gases de efeito estufa por meio da cooperação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
O evento é uma realização do Consórcio Pesquisa Café, com organização da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Universidade Federal de Lavras (Ufla), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Embrapa Café.
Acesse o conteúdo total das palestras no site:
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