Recuo de 4,32% no volume de carne bovina exportada
América Latina e Caribe enfrentam um risco ambiental e sócio-econômico, conseqüência das mudanças climáticas e da degradação dos recursos naturais associada a o avanço dos sistemas pecuários e agrícolas não sustentáveis, alertou a FAO. Frente a essa realidade, a FAO apóia e promove uma série de pesquisas que permitem produzir mais afetando menos o meio ambiente. “O desenvolvimento sustentável é um imperativo”, afirmou o Oficial Principal de Terras e Águas da FAO na América Latina e Caribe, Jan Van Wambeke.
Para alimentar uma população que, segundo as projeções atuais, chegará a nove bilhões de pessoas em 2050, o mundo tem o desafio de aumentar sua produção de alimentos em 50%. Considerando as mudanças climáticas que já afetam diversas partes do mundo, esse incremente deve ser ambientalmente sustentável.
“A atividade agrícola é a segunda maior fonte de emissão de gases de efeito estufa. Ela é responsável por 10% a 12% do total mundial, atrás apenas dos combustíveis fósseis”, alertou o cientista chileno Sergio González, integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) e Prêmio Nobel da Paz, em Santiago. A porcentagem das emissões de gases de efeito estufa geradas pela agricultura varia de pais em pais: na Nova Zelândia ela responde por 45%; no Chile, por entre 15% e 20%.
“O desafio da inteligência humana é harmonizar forças aparentemente opostas e aumentar a produção de alimentos com tecnologias que, ao mesmo tempo, permitam a redução na emissão de gases de efeito estufa”, destacou González.
Para atingir a meta, a FAO apóia ações como a utilização de variedades de sementes mais resistentes à secas e as Boas Práticas Agrícolas, que permitem um melhor aproveitamento das terras e águas e uma maior eficiência no uso dos insumos agrícolas.
Estudos prospectivos indicam que o consumo de carne se duplicará nos próximos 20 anos. É preciso agir para evitar que essa situação pressione o avanço da fronteira agrícola-pecuária em zonas de vulnerabilidade ambiental, o que poderia aumentar o desmatamento, a degradação dos solos, a perda da biodiversidade e afetar a disponibilidade de água.
Hoje, 70% das áreas de pasto da região encontram-se em um processo de degradação. Entre as áreas mais suscetíveis à ampliação da fronteira agrícola-pecuária estão a Amazônia no Brasil, o chaco americano na Argentina, Paraguai e Bolívia, e as zonas áridas e semi-áridas da Argentina e Chile.
Segundo o IPCC, a pecuária responde por cerca de 40% das emissões geradas pela agricultura. Apesar de existirem tecnologias sustentáveis disponíveis, existem debilidades estruturais que limitam o acesso de pequenos e médios produtores a essas tecnologias.
“É preciso aumentar o investimento público e privado em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, harmonizar as políticas agropecuárias e ambientais e buscar mecanismos viáveis para o pagamento por serviços ambientais a pecuaristas e agricultores que implementem sistemas produtivos ambientalmente amigáveis e que contribuam com a redução e adaptação à mudança climática”, disse Tito Díaz, Oficial Principal de Produção e Saúde Animal da FAO.
Díaz também destacou que práticas como o plantio direto de cultivos em pastos degradados e a implementação de sistemas integrados agrícolas-pecuários-florestais são alternativas viáveis para recuperar áreas degradadas, desenvolver uma pecuária sustentável e promover a intensificação sustentável da produção.
O setor florestal é outro importante emissor de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, um dos maiores afetados pelo aquecimento global. Estima-se que a mudança climática poderá transformar em savanas zonas de bosques tropicais como a Amazônia oriental e o México, além de aumentar a freqüência dos incêndios florestais na América do Sul.
“Existe a necessidade de reduzir drasticamente o desmatamento e a degradação das florestas nos países em desenvolvimento e, consequentemente, as emissões de gases do efeito estufa. A maneira de fazer isso é dar um maior valor econômico às florestas, incentivando a conservação dos ecossistemas através do manejo florestal sustentável e o pagamento por serviços ambientais”, destacou Carlos Carneiro, Oficial Principal de Florestas da FAO.
Como parte do seu esforço para apoiar o desenvolvimento sustentável, o Escritório Regional da FAO para América Latina e Caribe implementará um projeto para fortalecer as capacidades dos países do Cone Sul de monitorar e avaliar o progresso alcançado com o manejo florestal sustentável, através do desenvolvimento, uso e implementação de critérios e indicadores de sustentabilidade.
Segundo estudos da FAO, a perda anual dos bosques na Região durante o período 2000-2005 foi de 4,7 milhões de hectares, valor que corresponde a 65 % das perdas mundiais.
O IPCC estima que os combustíveis fósseis respondam por entre 75% e 90% das emissões mundiais de gases do efeito estufa, sendo que a maior parte da emissão é causada pelo transporte. Por isso, a produção de biocombustíveis é uma alternativa para reduzir os efeitos negativos da mudança climática. No entanto, sua produção nem sempre traz benefícios ambientais.
“O impacto da produção de biocombustíveis na redução das emissões dos gases de efeito estufa varia muito de cultivo em cultivo, ainda que sua produção respeite as áreas protegidas e as florestas”, disse o Coordenador do Grupo de Bioenergía da FAO na América Latina e Caribe, Guilherme Schuetz.
Como exemplo, a FAO estima que a produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil reduza a emissão de gases de efeito estufa entre 80% a90%, enquanto o etanol produzido a partir do milho nos Estados Unidos atinja uma redução de apenas 10% a 30%.
De acordo com a publicação da FAO, “O Estado da Agricultura e da Alimentação 2008”, América Latina e África são as duas regiões do mundo com maior potencial para a expansão dos biocombustíveis. O documento destaca ainda que os subsídios à produção de biocombustíveis entregue, principalmente, pos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE), cerca de US$ 10 bilhões em 2006, torna difícil que países pobres e em desenvolvimento possam aproveitar as oportunidades relacionadas a esse novo mercado.
Mais informação:
Bioenergia – Escritório Regional da FAO: http://www.rlc.fao.org/pr/prioridades/bioenergia/
Florestas - Escritório Regional da FAO para América Latina e Caribe: http://www.rlc.fao.org/es/bosques/
Boas Práticas Agrícolas – Escritório Regional da FAO para América Latina e Caribe: http://www.rlc.fao.org/pr/agricultura/bpa/
Mudança Climática - Escritório Regional da FAO: http://www.rlc.fao.org/pr/prioridades/recursos/
Pecuária – Escritório Regional da FAO: http://www.rlc.fao.org/pr/ganaderia/
Documento “O Estado da Agricultura e da Alimentação 2008” (em espanhol): http://www.fao.org/docrep/011/i0100s/i0100s00.htm
Fonte: Escritório da FAO - (61) 3038 2270 / www.fao.org
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