Nutrien anuncia perspectivas para 2023

Empresa registrou um lucro líquido de US$ 7,7 bilhões; hoje foram apresentadas informações detalhadas sobre o que esperar para este ano

24.02.2023 | 17:42 (UTC -3)
Cultivar, com informações Nutrien

Dias após anunciar os resultados financeiros do ano de 2022, a Nutrien apresentou hoje (24/2) os relatórios para investidores relativos àquele ano. Também os registrou junto às autoridades reguladoras dos mercados dos Estados Unidos e Canadá. A empresa presidia por Ken Seitz (na foto) registrou um lucro líquido de US$ 7,7 bilhões e um ajustado EBITDA recorde de US$ 12,2 bilhões, além de um retorno sobre o capital investido de 26%.

As perspectivas da Nutrien para 2023 trazem diversas informações interessantes. De acordo com o comunicado da empresa, os fundamentos agrícolas continuam fortes e são apoiados pela menor relação global de estoques de grãos em mais de 25 anos. A produção e as exportações de culturas na Ucrânia devem continuar limitadas pelo impacto da guerra com a Rússia, e a empresa estima que será necessário mais de uma safra para aliviar o risco de oferta do mercado.

Os preços à vista do milho, soja e trigo estão cerca de 25% a 50% mais altos em comparação à média de 10 anos, o que deve apoiar o retorno dos produtores e incentivá-los a aumentar a produção em 2023. A Nutrien prevê que a área plantada das principais culturas nos EUA aumentará cerca de 4% em 2023, assumindo uma janela de plantio mais normal em comparação à primavera de 2022. As plantações de milho devem aumentar de aproximadamente 89 milhões de acres em 2022 para entre 91 a 93 milhões de acres em 2023.

No Brasil, os números são positivos. A economia dos produtores de soja e milho brasileiros está forte, o que deve apoiar mais um ano de crescimento acima da tendência nesse mercado. Os produtores australianos se beneficiaram de vários anos de rendimentos acima da média e preços de culturas historicamente altos, o que os posiciona muito bem financeiramente para 2023, e a empresa espera outro ano de forte produção, desde que as condições climáticas sejam favoráveis.

A Nutrien projeta forte demanda por insumos agrícolas em todos os mercados que atende em 2023. No entanto, salientou que as margens brutas para nutrientes e proteção de culturas podem ser menores em 2023 em comparação com os níveis recordes alcançados em 2022.

Por sua vez, a demanda por potássio para a agricultura tem melhorado no início de 2023, mas os compradores continuam cautelosos em relação à gestão de estoques, o que pode levar a um período de embarque mais concentrado à medida que se aproximam as principais épocas de aplicação.

Essa é a perspectiva de mercado apresentada por uma empresa fornecedora de nutrientes agrícolas em relação ao setor de potássio. Segundo a empresa, os estoques de potássio no Brasil e nos Estados Unidos foram reduzidos após uma queda histórica no ritmo de embarques no segundo semestre de 2022. A estimativa de embarques globais de potássio para 2023 é de 63 a 67 milhões de toneladas, ainda abaixo da demanda histórica estimada em cerca de 70 milhões de toneladas.

Além disso, as exportações de potássio de Belarus e Rússia devem diminuir em 2023 em relação a 2021. As projeções indicam uma redução de 40 a 60 por cento nas exportações de Belarus e de 15 a 30 por cento nas exportações russas. Essa redução no fornecimento será mais aparente no primeiro trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período em 2022, já que as exportações tanto de Belarus quanto da Rússia foram fortemente concentradas no início de 2022, antes da imposição de sanções e restrições de exportação.

Avançando para o setor de nitrogênio, a perspectiva apontada para 2023 é de declínio global nos preços nos primeiros dois meses do ano devido à baixa nos preços do gás natural na Europa e postergação por parte dos compradores. Espera-se que os preços do gás natural europeu sejam voláteis ao longo do ano devido a uma capacidade de nitrogênio offline de cerca de 30% na região no início de 2023. Já na América do Norte, os preços do gás permanecem altamente competitivos em comparação com a Europa e a Ásia e espera-se que os preços do Henry Hub variem entre US$ 2,50 e US$ 4,50 por MMBtu em 2023.

A restrição de oferta de nitrogênio, incluindo a redução nas exportações de amônia russa, as reduzidas taxas de operação na Europa e as restrições de exportação de ureia chinesa, deve persistir em 2023, impactando a volatilidade de preços em períodos de alta demanda sazonal. Espera-se um aperto no equilíbrio entre oferta e demanda nos Estados Unidos antes da temporada de primavera, devido ao aumento na área plantada com milho e ao aumento das exportações de nitrogênio nos últimos seis meses.

O crescimento econômico global é um risco potencial para a demanda industrial em 2023. As pressões macroeconômicas afetaram os mercados asiáticos ao longo de 2022 e há potencial de que a reabertura da economia chinesa tenha um impacto positivo no crescimento econômico da região mais tarde em 2023, dependendo dos impactos da COVID-19 e de decisões políticas relacionadas.

A expectativa de vendas de toneladas de nitrogênio da Nutrien para 2023 é de 10,8 a 11,4 milhões de toneladas e assume taxas de operação mais elevadas em suas plantas na América do Norte e a continuação dos cortes de gás em Trinidad em 2023. A expectativa de vendas de toneladas de nitrogênio inclui 300 a 350 mil toneladas de vendas projetadas do produto ESN, que antes de 2023 estavam incluídas na categoria de outros produtos.

Por último, no segmento de fosfato, as perspectivas para 2023 são influenciadas por diversas variáveis. A expectativa é de que as restrições às exportações chinesas de fosfato permaneçam em vigor até, pelo menos, abril de 2023.

No entanto, é previsto um aumento na demanda por fosfato na América do Norte e no Brasil, além da continuidade de uma forte demanda na Índia. As margens de produtos de fosfato deverão ser apoiadas pela redução dos preços de enxofre, matérias-primas utilizadas em sua produção, devido à redução das taxas de operação e demanda na China.

Essas perspectivas podem indicar um cenário de oportunidades para os produtores e fornecedores de fertilizantes e nutrientes agrícolas, especialmente em países como Brasil, que estão entre os maiores produtores de commodities agrícolas. No entanto, é importante acompanhar de perto as movimentações do mercado e as políticas dos principais players, como a China, para melhor entender o cenário global e suas possíveis implicações no setor agrícola.

Riscos para o futuro

A Nutrien identificou diversos fatores que capazes, em tese, impactar seu negócio e sua estratégia no futuro. Entre eles, destacam-se: (a) mudança nas condições macroeconômicas globais, incluindo tarifas comerciais e outras restrições; (b) volatilidade nos mercados globais; (c) restrições na cadeia de suprimentos; (d) maior competição de preços; (e) mudanças significativas nas tendências de produção ou consumo agrícolas. Esses fatores poderiam levar a um ambiente de baixos preços das safras e reduzir a demanda por seus produtos ou aumentar os preços ou diminuir a disponibilidade de matérias-primas usadas na fabricação de seus produtos.

Outros fatores que poderiam afetar a estratégia e o desempenho financeiro da empresa são: (a) mudanças nas tendências e na produtividade da agricultura; (c) mudanças nas preferências dos consumidores; (d) o aumento do foco na sustentabilidade na agricultura, incluindo a saúde do solo, a disponibilidade de terras aráveis, a diminuição da biodiversidade e a gestão da água; (e) bem como a inovação tecnológica e os modelos de negócios digitais.

As mudanças climáticas também foram fator considerado, pois pode causar eventos climáticos mais frequentes e graves, impactar as estações de crescimento ou os rendimentos das safras e afetar a disponibilidade de água doce. Riscos físicos e de transição da mudança climática também podem resultar em interrupções nas operações ou na cadeia de suprimentos, dependendo da natureza do evento.

Além disso, mudanças nas leis, regulamentações e políticas governamentais, incluindo aquelas relacionadas ao meio ambiente e às mudanças climáticas, bem como à saúde e segurança, impostos e royalties, poderiam afetar a capacidade da empresa de produzir ou vender certos produtos, reduzir sua eficiência e vantagem competitiva, aumentar seus custos de matérias-primas, energia, transporte e conformidade, ou exigir que a empresa faça melhorias de capital em suas operações.

Outros desafios que a empresa deve enfrentar incluem ameaças de segurança cibernética, instabilidade política, econômica e social, dificuldades em atrair, desenvolver e reter funcionários talentosos, falta de apoio dos stakeholders, problemas de realocação de capital e riscos relacionados à segurança, saúde e meio ambiente.

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