Mudanças climáticas ampliam risco de brusone do trigo e ameaçam a produção global

Doença fúngica pode reduzir a produção mundial de trigo em 13% até 2050, afetando principalmente regiões da América do Sul, África e Ásia

10.09.2024 | 08:53 (UTC -3)
Revista Cultivar
Perda potencial de rendimento de trigo devido à brusone do trigo simulada para cenários de mudanças climáticas para 2040–2070
Perda potencial de rendimento de trigo devido à brusone do trigo simulada para cenários de mudanças climáticas para 2040–2070

A brusone do trigo representa uma ameaça crescente à produção global do cereal. Causada pelo fungo Magnaporthe oryzae patótipo Triticum (MoT), a doença tem se espalhado desde que surgiu no Brasil nos anos 1980. Com o aumento das temperaturas e a elevação da umidade devido às mudanças climáticas, as áreas suscetíveis à infecção devem crescer, especialmente no Hemisfério Sul. Estudo recente aponta que essa expansão pode levar a uma redução de 13% na produção global de trigo até meados do século.

A pesquisa combinou um modelo de simulação da cultura de trigo com um modelo específico da brusone, estimando os impactos tanto no cenário climático atual quanto em cenários futuros. Hoje, cerca de 6,4 milhões de hectares estão vulneráveis à doença. Até 2050, esse número pode aumentar para 13,5 milhões de hectares. As regiões mais afetadas serão América do Sul, África e Ásia do Sul. Projeções indicam que, apenas na América do Sul, até 75% das áreas de trigo podem se tornar vulneráveis.

Os impactos das mudanças climáticas já são visíveis. Um exemplo é o surto de brusone em Bangladesh em 2016, o primeiro fora da América do Sul. A doença também foi identificada em Zâmbia em 2018, e estudos indicam que regiões da África, como Etiópia, Quênia e Congo, também podem ser afetadas nos próximos anos. O estudo prevê que países atualmente não afetados, como Japão, Itália e Nova Zelândia, podem sofrer perdas significativas na produção de trigo no futuro.

Embora as regiões tropicais sejam as mais vulneráveis à ferrugem do trigo, áreas no hemisfério norte podem enfrentar novos desafios climáticos. O aquecimento global pode alterar a distribuição de pragas e doenças em latitudes mais altas, como na Europa e no Mediterrâneo. Regiões do sudeste da China e do Japão também são apontadas como potenciais áreas de risco devido ao aumento das temperaturas.

Além das condições climáticas, o estudo alerta que o patógeno da brusone do trigo pode evoluir rapidamente. Isso pode agravar o problema ao tornar a doença mais resistente a fungicidas e superar a resistência de cultivares de trigo. A capacidade do fungo de se adaptar a novas condições ambientais é uma preocupação, pois pode resultar em perdas de produtividade maiores que as previstas, exacerbando a insegurança alimentar.

O manejo eficaz da doença do trigo exige medidas urgentes. Entre as estratégias sugeridas estão o desenvolvimento de variedades de trigo resistentes, a rotação de culturas e o ajuste das datas de plantio para evitar condições propícias ao desenvolvimento do fungo. O estudo sugere, por exemplo, que o plantio tardio em Bangladesh e o plantio antecipado no Brasil podem reduzir o risco de infecção, uma vez que evitam períodos de alta umidade e temperatura.

A crescente ameaça da brusone do trigo destaca a necessidade de ação coordenada em escala global. Com as mudanças climáticas intensificando as condições favoráveis para o fungo, a produção mundial de trigo corre o risco de enfrentar quedas severas, impactando a segurança alimentar, especialmente em regiões mais vulneráveis como América Latina e África.

A pesquisa foi realizada por Diego N. L. Pequeno, Thiago B. Ferreira, José M. C. Fernandes, Pawan K. Singh, Willingthon Pavan, Kai Sonder, Richard Robertson, Timothy J. Krupnik, Olaf Erenstein e Senthold Asseng.

Artigo descrevendo o estudo pode ser lido em doi.org/10.1038/s41558-023-01902-2

As simulações usaram dados históricos de 1980–2010 ou a produção de cinco GCMs do Representative Concentration Pathway 8.5 (RCP8.5) para 2040–2070
As simulações usaram dados históricos de 1980–2010 ou a produção de cinco GCMs do Representative Concentration Pathway 8.5 (RCP8.5) para 2040–2070

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