Milho: investimento em tecnologia é saída para driblar preços baixos, dizem pesquisadores

13.05.2010 | 20:59 (UTC -3)

Uma das novidades tecnológicas para a próxima safra brasileira de grãos será a comercialização das cultivares de milho com tolerância a herbicidas ou o milho RR, de Roundup Ready.

Do mesmo modo como na soja, a tecnologia RR permite que a cultura continue seu desenvolvimento mesmo com a aplicação de herbicidas com efeito de pós-emergência que contenham o glifosato como ingrediente ativo para controle de plantas daninhas de folhas largas e gramíneas.

Em uso desde 1996, quando foi aprovada a soja Roundup Ready na Argentina e nos Estados Unidos, as lavouras transgênicas atingiram uma área de 125 milhões de hectares em 2008, segundo dados da multinacional Du Pont. Em relação ao milho com tolerância a herbicidas, 15 cultivares foram registradas no Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos para a safra 2009/10.

Segundo os pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo José Carlos Cruz e Israel Alexandre Pereira Filho, da área de Fitotecnia, e João Carlos Garcia, da área de Economia Agrícola, para os milhos RR as regras de coexistência são as mesmas para todos os demais tipos de milhos transgênicos. Segundo a Resolução Normativa Nº 4 da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), para permitir a coexistência, a distância entre o milho geneticamente modificado e a lavoura convencional vizinha deve ser mantida em uma distância igual ou superior a 100 metros.

A resolução indica ainda que essa distância pode ser reduzida para 20 metros, se 10 fileiras de plantas de milho convencional de porte e ciclo vegetativo similar ao milho geneticamente modificado for plantado na bordadura da lavoura. A regra vale também para áreas separadas por estradas ou rodovias e, nos dois casos, os grãos colhidos na área plantada com milho convencional são considerados como milho transgênico.

Os pesquisadores alertam, no entanto, para alguns cuidados adicionais que deverão ser tomados com estas cultivares transgênicas. Segundo eles, aumentará a probabilidade de seleção de plantas daninhas resistentes ao glifosato. “O manejo de resistência de plantas daninhas é fundamental nessa situação, principalmente considerando que já foram identificadas plantas daninhas resistentes ao glifosato em vários países, inclusive no Brasil”, afirmam.

Para eles, mesmo que o agricultor decida pelo cultivo de milho e/ou soja com a tecnologia RR, recomenda-se que também sejam utilizados herbicidas de modo de ação diferentes. “O objetivo é evitar o aparecimento de espécies resistentes”, reforçam.

DIAGNÓSTICO – Segundo os pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, a principal característica da safra de milho 2009/10 foi a utilização de sementes transgênicas. “Em 2009, o Brasil plantou cinco milhões de hectares de milho Bt em ambas as safras, a de verão e a de inverno, de acordo com dados do CIB, o Conselho de Informações sobre Biotecnologia”, relatam.

A área de milho Bt cresceu 3,7 milhões de hectares, o equivalente a aproximadamente 400% sobre a área plantada com milho geneticamente modificado em 2008. “Foi de longe o maior aumento. O índice de adoção também foi muito expressivo, chegando a 30,7%”, analisam. De acordo com José Carlos, Israel Filho e João Carlos Garcia, 35,6% de todas as sementes vendidas na safra de verão foram transgênicas.

“Se considerarmos apenas as sementes de híbridos simples vendidas, as cultivares transgênicas ultrapassaram a marca dos 54%. Outro dado interessante, segundo informações da APPS de março deste ano, é que 60,8% das sementes vendidas para a safra de verão são voltadas para sistemas de produção de alto nível tecnológico”, dizem os pesquisadores. A APPS é a Associação Paulista dos Produtores de Sementes e Mudas. “Dentre as sementes mais vendidas predominaram os híbridos simples – modificados ou não – chegando a 61,13%. Os híbridos triplos representaram 14,89% das sementes; os híbridos duplos, 22,44%; e as variedades, um percentual de 1,53% das sementes vendidas.

Tanto investimento em tecnologia – por parte de um grupo seleto de agricultores – tem resultado em maior produtividade nos balanços de safra e, consequentemente, em menor custo por saco de milho produzido. “Apesar dos baixos estímulos relacionados ao volume de produto no mercado e preços abaixo do esperado, percebe-se que os produtores de milho têm optado por aumentar sua eficiência produtiva. Desta forma, o aumento de produtividade tem compensado a queda na área plantada na safra de verão”, concluem os pesquisadores.

Guilherme Viana

Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)

/ (31) 3027-1223

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