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A traça do tubérculo da batata ou traça-da-batata (Phthorimaea operculella) é uma praga de infestação cruzada, por ser encontrada tanto no campo como nos armazéns, danificando folhagens e tubérculos. O inseto está entre os principais problemas da cultura da batata na maioria dos países produtores, em regiões de clima tropical e subtropical quente, ou seja, nas áreas em que podem ter períodos quentes e secos durante o ciclo da cultura.
Esta praga é um problema durante todo o ciclo da cultura, devendo ser monitorada constantemente, inclusive no período de armazenamento. Estudos revelam que as perdas de produtividade podem ser superiores a 70%.
A traça é um lepidóptero oligófago pertencente à família Gelechiidae. Por ser holometábolo (metamorfose completa), seu ciclo de vida completo compreende quatro estádios de desenvolvimento: ovo, larva, pupa e adulto.
Os adultos são pequenas mariposas com comprimento de 10mm a 12mm e de coloração cinza/amarelada com pequenas e irregulares manchas negras.
Durante o dia, as fêmeas ficam abrigadas nas folhas da batata e na vegetação ao redor para se proteger da luz. As mariposas voam no período da noite, realizando a oviposição em restos vegetais, no solo, nas folhas, em tubérculos expostos e até mesmo junto às gemas do tubérculo. Para isso, podem entrar nas cavidades do solo para realizar a postura. Cada fêmea pode colocar cerca de 300 ovos com período de incubação de cinco a dez dias. Os ovos são pequenos (0,5mm), de formato oval-achatado e coloração clara.
Após a eclosão, as larvas passam por quatro instares antes da fase de pupa. É na fase de larva que ocorrem os danos, pois as lagartas instalam-se nas folhas, nos caules e nos tubérculos pelo período de dez dias a 20 dias. Nesse período, as lagartas mais novas alimentam-se das folhas realizando perfuração do parênquima, minam internamente os talos, causam perda de tecido foliar e morte dos pontos de crescimento da planta. Após, as lagartas abandonam as folhas e começam a se alimentar de caules e tubérculos. Nos caules, podem perfurar as axilas foliares e os meristemas apicais.
Nos tubérculos, as lagartas fazem galerias ou túneis de tamanho, forma e profundidade irregulares. Penetram no órgão vegetal através desses locais, que servem de porta de entrada para patógenos, principalmente bactérias e fungos oportunistas. Para identificar a presença da praga, basta verificar a presença de excrementos sobre o tubérculo, uma espécie de pó de serragem grudado em finos fios.
Passando o período larval, as lagartas deixam a planta e se instalam no solo, em restos vegetais, caixas, paredes e pisos de armazéns com a finalidade de encontrar abrigo para entrar no próximo estágio de seu ciclo de vida: a pupa. As pupas medem cerca de 8mm, têm coloração caramelo e estrutura lisa. Esse estádio pode variar de cinco dias a dez dias, dependendo das condições de temperatura. Nesse estágio de pupa, onde ocorre a metamorfose, a lagarta se transforma em adulto: a mariposa. Assim, um novo ciclo está prestes a começar.
Portanto, o tempo necessário para o inseto completar um ciclo de vida é de 20 dias a 40 dias, uma vez que as condições climáticas influenciam muito na velocidade dessas fases de desenvolvimento, pois quanto mais quente, maior e mais rápido é o seu desenvolvimento, podendo ter mais de um ciclo do inseto durante o ciclo da cultura.
São insetos capazes de causar danos diretos e indiretos.
São causados pelas larvas ao se alimentarem das folhas, que provocam redução da área fotossinteticamente ativa (isso diminui a eficiência fotossintética), além de se alimentarem de raízes e estolões, reduzindo a capacidade produtiva da planta. E ao se alimentarem dos tubérculos, os danos causam a redução qualitativa e quantitativa da produção.
São causados pela transmissão e infecção de vírus, bactérias e fungos. A incidência de doenças compromete a lavoura, ou seja, aumenta o nível de danos.
Podem sobreviver de uma safra para a outra, alimentando-se de diversas plantas do mesmo gênero ou família. No caso das solanáceas, as traças também atacam tomate, pimentão, tabaco e berinjela.
A sobrevivência desse inseto lepidóptero é facilitada em condições de clima seco, com temperaturas em torno de 25ºC, se alimentando de restos culturais, por isso, no momento da colheita todos os tubérculos não aptos para a comercialização devem ser descartados, para evitar a proliferação.
No inverno, a sobrevivência ocorre na forma de hibernação, permanecendo no estágio de pupa, no campo, armazém ou em qualquer local favorável até a chegada da condição que permita o seu desenvolvimento, iniciando novo ciclo de reprodução.
Por causar danos significativos na cultura da batata, diversas medidas devem ser adotadas, a fim de reduzir os danos e até impedir o desenvolvimento da traça. Várias técnicas de manejo podem ser utilizadas, como práticas culturais, controles químico e biológico, uso de feromônios e inimigos naturais.
A rotação de culturas é o manejo indispensável, por desempenhar papel fundamental no controle de insetos-pragas, pois a maioria é polífaga (se alimenta de diferentes hospedeiros) e se instala em inúmeras plantas, desde as cultivadas até as invasoras. Deve-se evitar o plantio em áreas de pousio e não utilizar a sucessão de plantas da mesma família. No caso das solanáceas, alguns estudos recomendam que a batata não deve ser cultivada na mesma área por um intervalo de até sete anos.
Sementes sadias devem ser utilizadas para garantir maior vigor de plantas, capazes de resistir ao ataque de pragas, potencialmente mais produtivas, formando tubérculos em maior tamanho e quantidade, reduzindo o dano percentual. No entanto, a traça-da-batata é um grande problema de armazenamento, por infestar e se multiplicar dentro dos armazéns. Por isso, sementes de má procedência levarão ao plantio de tubérculos infestados, gerando um grande foco de disseminação para a lavoura, causando danos irremediáveis.
O preparo do solo é uma prática cultural que deve ser realizada, pois evita a formação de torrões, impedindo o abrigo da traça na fase adulta, além de permitir o plantio na profundidade adequada. O plantio muito profundo causa o atraso na emergência do broto, prolongando o ciclo da cultura, ficando suscetível por mais tempo ao ataque da traça. No entanto, o plantio muito raso também é um problema, pois facilita o acesso das larvas e de adultos aos tubérculos, principalmente no final do ciclo da cultura, quando os tubérculos ficam mais expostos.
Realizar a prática adequada da amontoa é uma estratégia de manejo imprescindível, uma vez que a amontoa bem realizada torna-se uma barreira física, impedindo que a lagarta atinja o tubérculo, principalmente próximo do colo da planta, por onde as fêmeas e as larvas atingem os tubérculos mais profundos.
A irrigação, além de ser um manejo importante para o desenvolvimento da batata acaba se tornando um método de controle, pois mantém o solo úmido com maior adesão de partículas, evitando a formação de fendas e rachaduras, o que impede a entrada das fêmeas e lagartas. Além disso, as lagartas não toleram condição de umidade prolongada.
No período de colheita é interessante adiantar esse processo, pois a traça-da-batata, ao final do ciclo, pela ausência de folhas, migra para o solo ou se abriga em plantas hospedeiras próximas à área, restos culturais, plantas voluntárias e tubérculos não colhidos. A fêmea, como instinto de sobrevivência, busca tubérculos expostos e mais superficiais para realizar a postura, mantendo a população da praga na área entre uma safra e outra.
O armazenamento é uma etapa importante no manejo da praga. No momento da lavagem e classificação, os tubérculos infestados devem ser eliminados, a limpeza e a desinfestação com pulverizações e expurgo devem ser realizadas nos armazéns e caixarias para evitar que a traça encontre abrigo, continue se multiplicando e infestando os tubérculos sementes para a próxima safra. O uso de telas após a desinfestação evita que as traças que sobreviveram encontrem os tubérculos para realizar a postura novamente.
O armazenamento em câmaras frias evita a infestação, pois a traça tem seu ciclo de vida interrompido em temperaturas abaixo de 10ºC. Pesquisas utilizando armadilhas luminosas com luz negra UV nos armazéns têm sido eficientes para atrair e eliminar as traças adultas. Outras práticas alternativas podem ser empregadas, como o uso de feromônio sexual e o controle biológico.
A traça-da-batata possui alguns parasitoides e predadores naturais, como os micro-himenópteros Copidosoma koehleri e Apanteles subandinus, que contribuem para a redução da praga na área. Alguns produtos biológicos presentes no mercado para controle de lepidópteros estão fundamentados no uso de Bacillus thurigiensis e Baculovirus phthorimeae. Apesar dos diversos e eficientes métodos de controle existentes, o controle químico ainda é o manejo mais utilizado para a traça-da-batata. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), existem 82 produtos recomendados para o controle de Phthorimaea operculella na cultura da batata, princípios ativos dos grupos químicos piretroides, carbamatos, fosforados, espinosina, avermectina, benzoilureia, entre outros. Estes produtos podem ser de contato e/ou ingestão e devem ser posicionados de acordo com a recomendação, seguindo os princípios de optar pelos produtos menos tóxicos, realizar rotação de grupo químico para evitar a seleção de insetos resistentes, além de observar o período de carência e sempre realizar o monitoramento da praga para entrar com o controle no momento certo. É importante consultar um engenheiro agrônomo para verificar os produtos liberados em cada região (há diferenças entre os estados) e procurar planejar o melhor manejo da praga.
O próprio hábito do inseto de se alimentar nas folhas baixeiras e se esconder em galerias dificulta que o inseticida atinja com eficiência o alvo. Por isso, o emprego do manejo integrado de pragas com uso de diversas técnicas de manejo torna o controle mais eficiente, produzindo com qualidade e reduzindo os custos. A cultura da batata exige muito cuidado em todo o ciclo de cultivo, por isso, novas tecnologias sempre são importantes para aprimorar e agregar no manejo e na produtividade.
Jessica Caroline Miri e Janaina Marek, Unicentro
A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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