Alerta fitossanitário de "gafanhoto gigante" foi divulgado na Argentina
Alerta foi realizado por meio da Resolução Senasa 568/2020, após detectar o aumento populacional da espécie e seu deslocamento para novas áreas
Segundo Viégas, 1962, a septoriose ou a mancha de septoria foi relatada pela primeira vez ocorrendo em tomateiro em Boca del Riachuelo, na Argentina, em 1882, por Spegazzin, e sua patogenicidade foi confirmada apenas em 1916, por Levin, nos EUA, após a conclusão dos postulados de Koch. Atualmente, trata-se de uma doença fúngica bastante frequente e importante para a cultura, ocorrendo em todos os lugares do mundo onde é cultivada. Em geral, é mais severa sob condições climáticas de alta umidade relativa e temperaturas moderadas que possibilitam que as folhas permaneçam molhadas por períodos mais longos após as chuvas ou irrigações. Os principais prejuízos causados pela doença são a queda de vigor, a desfolha generalizada das plantas e a queima dos frutos - devido à exposição direta desses ao sol.
A doença pode ocorrer em qualquer estágio de desenvolvimento das plantas. Os sintomas manifestam-se inicialmente na parte de baixo das folhas mais velhas, através de pequenas e numerosas lesões encharcadas, de formato circular a elíptico, medindo de 1mm a 3mm de diâmetro. Com o progresso da doença, as lesões tornam-se marrons acinzentadas no centro, com bordos marrom-escuros, podendo ou não ser circundadas por um halo amarelado e atingindo mais de 5mm de diâmetro. Em condições de alta umidade, observam-se no centro das lesões os picnídios do fungo (pontos negros), onde os conídios (esporos) são formados. Com o tempo, a doença evolui de forma ascendente nas plantas, atingindo as partes mais novas. Em ataques severos, ocorre coalescência das lesões, causando amarelecimento, seguida de seca e queda das folhas. A desfolha reduz visivelmente o vigor e o potencial produtivo das plantas, além de expor os frutos a queimaduras de sol. Sintomas semelhantes aos observados em folhas também podem ser vistos no caule, nos pecíolos e nas sépalas, porém, as lesões são menores e tendem a ser mais escuras e numerosas. Os frutos raramente são afetados. De modo geral, as plantas tendem a ser mais suscetíveis à septoriose após o início da frutificação, momento em que a demanda por nutrientes é maior para a formação e o crescimento dos frutos.
O fungo Septoria lycopersici Speg. 1881 produz conídios hialinos, longos, finos, com três a nove septos, medindo 60-120x2-4µm em conidióforos curtos, que se formam no interior de estruturas denominadas picnídios, globosos, ostiolados e escuros. A massa conidial desse fungo apresenta coloração rosada, salmão ou marrom-escura. O micélio é hialino, ramificado e septado.
As temperaturas consideradas propícias para a infecção e a evolução da doença variam de 16°C a 28°C (ideal de 25°C). Os conídios são liberados dos picnídios em condições de alta umidade, formando cirros, aglutinados entre si por uma substância mucilaginosa que é dissolvida quando em contato com água, dispersando assim os conídios que passam a ser disseminados pelo impacto das gotas de água da chuva ou da irrigação.
Para que os conídios germinem e o fungo possa infectar as plantas, é necessária elevada umidade relativa (100%) por um período mínimo de 48 horas a 72 horas. Nessas condições, os primeiros sintomas da doença podem ser observados entre seis dias e 7 dias após o contato entre os conídios e o hospedeiro. A disseminação na lavoura também pode se dar durante a realização dos tratos culturais - pelo trânsito de trabalhadores e implementos agrícolas, além de insetos e pássaros.
Mesmo não sendo considerado como um fungo de solo, a principal via de sobrevivência de S. lycopersici de um cultivo para o outro são os restos culturais. Pode também infectar outras solanáceas de importância econômica, como a petúnia (Petunia sp.), a berinjela (Solanum melongena), o jiló (Solanum aethiopicum), o pimentão (Capsicu mannuum) e algumas invasoras como a maria pretinha (Solanum americanum L.), a figueira do inferno (Daturas tramonium L.) e a fisális (Physalis sp).
Apesar das várias tentativas de descobrir fontes de resistência ao patógeno, ainda não existem no mercado cultivares ou híbridos de tomate resistentes à septoriose. Portanto, outros métodos de controle devem ser adotados para que o desenvolvimento de graves epidemias seja evitado.
Na escolha do local de plantio, dar preferência a áreas ensolaradas, sem acúmulo de umidade, bem ventiladas e distantes de plantios em final de ciclo.
As principais fontes de inóculo inicial do fungo são as sementes, as mudas, as soqueiras, os restos de cultura e outras espécies de solanáceas. Portanto, é recomendável a utilização de sementes e mudas sadias; evitar o plantio sucessivo de solanáceas (recomenda-se a rotação de culturas por intervalos de três anos a quatro anos); e a eliminação de restos culturais, de possíveis espécies hospedeiras e também de plantas daninhas em geral, que podem concorrer por espaço, luz, água e nutrientes e dificultar a dissipação da umidade na folhagem.
A adoção de espaçamentos mais amplos e da condução vertical pode reduzir a ocorrência da doença, graças a maior circulação de ar e menor da umidade entre as plantas.
Devido à grande importância da umidade no desenvolvimento da doença, recomenda-se minimizar o tempo e reduzir a frequência das irrigações em campos afetados, evitando, também, realizá-las nos finais de tarde. A adoção de irrigação localizada pode ser um aliado importante no manejo da septoriose, uma vez que reduz de forma significativa a disseminação do patógeno.
O controle químico é o principal método utilizado no manejo da septoriose. É realizado através da aplicação preventiva de fungicidas protetores e sistêmicos na parte aérea da planta. Os fungicidas protetores ou de contato, como produtos à base de cobre, captana, clorotalonil e mancozebe, caracterizam-se por formar uma película protetora na superfície da planta, que impede a penetração do patógeno. Os fungicidas sistêmicos, como os pertencentes aos grupos dos triazóis, benzimidazóis, fenilpiridinilamina, carboxamida e estrobilurinas, são aqueles que podem se movimentar na planta através de vasos condutores, conseguindo atingir locais distantes do depositado. Para evitar o desenvolvimento de casos de resistência, recomenda-se a utilização de produtos de diferentes grupos no mesmo ciclo produtivo, evitando-se o uso repetitivo de fungicidas com o mesmo mecanismo de ação e aplicações curativas em situações de alta pressão de doença. Para sistemas orgânicos de cultivo, as caldas bordalesa e sulfocálcica se destacam como as opções com melhores resultados no controle da septoriose nessa modalidade de produção. A calda bordalesa pode ser fitotóxica ao tomateiro, portanto as pulverizações devem ser iniciadas com concentrações mais baixas do que a recomendada (por exemplo: 0,5%) e gradativamente alcançar 1%. A calda sulfocálcica também possui capacidade de causar fitotoxicidade, quando aplicada em dias quentes.
A tecnologia de aplicação de fungicidas contribui diretamente para que haja sucesso no controle da septoriose. A má qualidade na aplicação dos produtos pode comprometer e limitar seriamente a sua eficácia, principalmente em relação aos fungicidas protetores. Fatores como tipo de bicos, volume de aplicação, pressão, altura de barra e velocidade do trator devem ser sempre considerados, com o objetivo de proporcionar a melhor cobertura possível da cultura. O uso de fungicidas deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto a dose, volume, intervalos, número de aplicações, utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI), intervalo de segurança, armazenamento de produtos e descarte de embalagens. As informações sobre fungicidas registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a septoriose na cultura do tomateiro podem ser obtidas no endereço eletrônico http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons.
O tomateiro (Solanumly copersicum) é uma espécie olerícola originária das Américas Central e do Sul que se tornou conhecida após a sua introdução na Europa, pelos espanhóis no século 16. Representa uma das mais importantes culturas no cenário agrícola mundial. Ampla adaptabilidade, elevado potencial produtivo e versatilidade culinária tornam essa solanácea apta a ser consumida in natura ou industrializada nas mais diversas formas. O fato de possuir baixas calorias, quantidades consideráveis de vitaminas A, C e complexo B, sais minerais e licopeno tornam o tomate um alimento reconhecido também por suas propriedades antioxidantes e anticancerígenas.
A tomaticultura brasileira encontra-se disseminada em todo o território nacional, porém, os principais centros de produção encontram-se no Sudeste e Centro-Oeste. Hoje, a cadeia produtiva do tomate apresenta grande importância econômica e social e assume características empresariais bem definidas, com avanços tecnológicos constantes, mudança fundiária e gerenciamento avançado do processo produtivo.
Ricardo José Domingues, Jesus G. Töfoli e Josiane Takassaki Ferrari, Apta - Instituto Biológico
A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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