Citricultores mineiros têm até o dia 15 de janeiro para enviar ao IMA relatório sobre HLB (greening)
Procedimento contribui para prevenção da doença que acomete laranja, limão, mexerica e outras frutas cítricas
A safra de grãos no Brasil do período 2019/20 encerrou-se com o registro histórico de 257,8 milhões de toneladas, volume 4,5% ou 11 milhões de toneladas superior ao da safra passada, tendo à frente a soja, o milho e o algodão. Essa evolução do recorde deve-se ao aumento de 4,2% na área plantada, aliado ao ganho de 0,3% na produtividade. No estado de Mato Grosso, na safra 19/20, foi obtida a maior produtividade média de soja da história, 3.489 quilos por hectare, um acréscimo de 4,3% (Conab, 2020). Esse potencial de rendimento deve-se ao uso intensivo da terra, que pode ser afetado por diversos fatores, entre os quais, destacam-se a fertilidade do solo, a oferta hídrica, a população de plantas, a época de semeadura, o potencial produtivo da cultivar e o ataque de agentes nocivos como plantas daninhas, pragas e doenças, dentre esses os nematoides (Casa & Reis, 2004).
Os fitonematoides são parasitas obrigatórios de plantas. Consequentemente, não se alimentam nem se reproduzem na ausência de plantas vivas. Por outro lado, atingem densidades populacionais elevadas em áreas cultivadas. Portanto, a sequência de culturas tem grande influência sobre a densidade populacional desses fitopatógenos. A adequada escolha pela sucessão ou rotação de culturas com plantas não hospedeiras é um componente essencial para o manejo dos fitonematoides.
No Brasil, as espécies que causam os maiores danos às grandes culturas como soja, algodão, cana-de-açúcar e milho são Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis. Uma das principais preocupações do sojicultor no cerrado brasileiro é com relação ao nematoide de cisto da soja (H. glycines) e Meloidogyne spp. Porém, o nematoide das lesões radiculares (P. brachyurus) é o que está mais distribuído (Figura 1). Em levantamento realizado pela Aprosmat na safra 2019/2020 a frequência de ocorrência desse nematoide no estado de Mato Grosso foi de 88% e no caso do nematoide do cisto da soja (NCS) a ocorrência foi de 35%.
Com relação ao NCS, no total 11 raças já foram detectadas no Brasil (1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+). A raça 3 já foi a mais disseminada entre os estados produtores de soja, porém com o uso contínuo de cultivares resistentes, essa raça deixou de ser prevalente, com grande tendência ao aumento de outras raças como a 2, a 4 e a 14 (Figura 2).
A maioria das cultivares resistentes disponíveis no Brasil é recomendada apenas para as raças 1 e 3. Entretanto, algumas empresas já estão comercializando variedades com resistência a mais de uma raça. Mesmo com a oferta de materiais com resistência ampla a várias raças do nematoide de cisto da soja, é importante conhecer a raça que ocorre na lavoura para a melhor escolha das variedades. Porém, mesmo diante dos prejuízos causados por esse nematoide, atualmente no estado de Mato Grosso as cultivares sem resistência compõem uma grande parte do cenário agrícola atual. Mas é importante que o produtor esteja ciente de que o nematoide sobrevive por muito tempo na área e, com o sucessivo cultivo de variedades suscetíveis, as populações irão aumentar e os prejuízos virão.
Para manejar o NCS deve-se considerar o sistema de produção, portanto é essencial manter o pH na faixa de 4,5 a 5,5 (ou então a saturação de bases (V%) na faixa de 35% a 50%) para que haja maior atividade dos fungos sobre os cistos de H. glycines. Outro efeito benéfico do pH na faixa de 4,5 a 5,5 no manejo desse nematoide é o aumento da oferta dos elementos manganês (Mn) e ferro (Fe), uma vez que plantas de soja, quando infectadas pelo nematoide, apresentam deficiência destes dois micronutrientes. Outro ponto importante é a rotação de culturas, pois além da estruturação e ciclagem de nutrientes, a rotação de culturas fornece atributos importantes no manejo do nematoide do cisto, pois a quantidade de matéria orgânica e, consequentemente, o aporte de palha, favorece o desenvolvimento de micro-organismos que, além de serem benéficos às plantas, são capazes de parasitar os ovos e os cistos do nematoide no solo. Por isso, em solos leves, de textura arenosa, a agressividade dessa espécie de nematoide é maior e facilmente visualizada devido à dificuldade em formar palhada nesses solos.
Outro nematoide muito importante é o causador de lesões radiculares, P. brachyurus, que se tornou um dos principais patógenos da cultura da soja, estando amplamente disseminado nas áreas de cultivo e causando grandes perdas em produtividade, principalmente em áreas com solos mais arenosos (Inomoto; Silva, 2013). A incidência de P. brachyurus é cada vez maior, sendo que mais de 80% das lavouras localizadas na macrorregião sojícola 4 já apresentam níveis considerados potenciais de causar perdas. Embora os solos médio-arenosos sejam mais favoráveis, esse nematoide pode ocorrer em solos com diferentes texturas, sendo que as maiores perdas registradas foram em solos com menos de 15% de argila (Dias, 2009). Em trabalho desenvolvido por Antônio et al. (2012), os autores afirmaram que os fatores ambientais são tão importantes quanto a densidade populacional de P. brachyurus e que populações de 1.200 indivíduos por grama de raiz ocasionaram, naquelas condições, perdas que variaram de 8% (4,8 sc/ha) a 41% (24,3 sc/ha).
O nematoide reniforme, R. reniformis, vem se tornando cada vez mais importante, principalmente nos estados em que se cultivam soja e algodão em sucessão. No estado de Mato Grosso essa espécie ainda é pouco distribuída, porém sua frequência vem aumentando conforme levantamentos realizados por Silva et al. (2003) e Galbieri et al. (2014). Os sintomas provocados por esse nematoide são difíceis de ser visualizados, pois o que se observam são apenas acúmulos de argila aderidos às raízes, onde ficam as fêmeas (Figura 3).
Essa espécie, apesar de ser considerada mais daninha à cultura do algodoeiro, tem sido bastante frequente em soja, principalmente nas áreas onde essas culturas são utilizadas em sucessão. Em avaliações recentes, observou-se que a maioria das cultivares de soja é boa multiplicadoras desse nematoide. Nas áreas com histórico de mais de três safras com cultivares sem resistência não são observados danos à soja, sendo que o maior problema observado é o aumento populacional que a cultura da soja promove para o algodoeiro.
Identificar os nematoides presentes na área é o primeiro passo para o manejo. A diagnose correta vai depender primeiramente de uma correta amostragem de solo e raízes, para determinar quais nematoides (espécies e raças) estão presentes na área e os níveis populacionais desses fitopatógenos. As amostras devem ser coletadas de preferência no ciclo anterior a um novo plantio, procurando ser a mais representativa possível da área, levando em consideração as plantas que mostram sintomas moderados, evitando-se aquelas fortemente sintomáticas. Nas reboleiras, amostrar as plantas da região limítrofe evitando o centro. Para a soja, recomenda-se que seja da metade até ¾ do ciclo da cultura (do início da floração até antes da colheita). Na ocasião da coleta, o solo deverá estar com umidade natural, evitando-se condições de encharcamento ou de ressecamento excessivo. Na hora da amostragem deve-se atentar para a profundidade da coleta de solo e raízes, que preferencialmente deve ser de zero a 25cm ou 30cm, e priorizar as radicelas da planta (Santos, 2019). Após as coletas das amostras, o envio para o laboratório deverá ocorrer o mais breve possível. Durante o transporte, deve-se evitar a exposição das amostras a altas temperaturas, exposição direta ao sol por períodos prolongados, bem como condições que favoreçam perda de umidade (Santos, 2019).
Diante deste cenário do mundo moderno e mais tecnológico, a informação baseada em dados técnico-científicos é de extrema importância, pois o cenário da agricultura muda a cada ano safra, e com isso o conhecimento é fundamental para soluções precisas e tomadas de decisões assertivas.
Tania F. Silveira dos Santos, Aprosmat; Rosangela Aparecida Silva, Fundação Mato Grosso; Adriana Figueiredo, Bayer Crop Science
A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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