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Grande produtora de óleos, a macaúba pode se inserir de diversas formas no mercado de bioenergia. A primeira que vem à mente é o biodiesel, mas os frutos dessa palmeira nativa do Brasil também pode dar origem a bioquerosene de aviação, carvão vegetal e carvão ativado, por exemplo.
Em julho deste ano, a macaúba foi tema, pela primeira vez, de um curso na tradicional Semana do Fazendeiro da Universidade Federal de Viçosa (UFV), que está em sua 83ª edição. O treinamento foi ministrado pelo professor da UFV Sérgio Motoike, um dos pioneiros na pesquisa com a palmeira oleaginosa no Brasil. A pesquisadora da Embrapa Agroenergia Simone Fávaro ministrou palestra no curso sobre as potencialidades do óleo de macaúba e o aproveitamento de coprodutos. Cerca de 2.500 produtores rurais participaram da Semana, na qual foram oferecidos dezenas de outros cursos gratuitos.
Simone explica que a macaúba produz dois óleos. Um deles é extraído da polpa e tem características favoráveis tanto para a alimentação humana quanto para a produção de biodiesel. O alto teor de ácido oleico do produto (chega a 60%) e sua resistência à armazenagem favorecem a fabricação do biocombustível. A produtividade desse óleo na planta também é alta. “Mesmo sem melhoramento genético, consegue-se produzir cerca de 4.000 quilos de óleo por hectare”, diz a pesquisadora. A produtividade da soja, principal matéria-prima para biodiesel hoje, é de 500 kg de óleo/ha.
O segundo óleo da macaúba é extraído da amêndoa e tem características bem diferentes do outro. Trata-se de um produto altamente saturado com maior teor de ácido láurico. Tem sido empregado principalmente na indústria cosmética, mas já se identificou um novo mercado em que o produto pode ser introduzido justamente por seu teor elevado de ácido láurico: o de biocombustíveis para aviação. A produtividade desse óleo é menor: cerca de 1.000 kg/ha. O valor de mercado, no entanto, pode chegar a R$ 3.500,00 / ton – mais do que o dobro do preço do óleo da polpa.
Atualmente, contudo, essas potencialidades estão subaproveitadas no Brasil pela carência de tecnologias. A exploração ainda é basicamente extrativista. Na maioria dos casos, os frutos são recolhidos depois de cair no chão, o que já compromete a qualidade. Além disso, muitas indústrias moem o fruto todo, misturando os dois óleos. “Desenvolver tecnologias para separar a polpa e a castanha é um dos desafios para o avanço da cultura dessa palmácea”, destaca a pesquisadora da Embrapa Agroenergia.
Além do óleo para a produção de biocombustíveis e outros produtos, a macaúba possui coprodutos que podem agregar valor à cadeia produtivo. Um que vem ganhando destaque é o endocarpo – a parte que protege a amêndoa. Ele tem um poder calorífico maior do que o do eucalipto e, por isso, pode ser usado como carvão vegetal. Por suas características estruturais, também tem sido usado como matéria-prima para carvão ativado. “Esse é um excelente produto para purificação, que pode vir a ser empregado tanto em filtros de água domésticos quanto em sistemas para refino de petróleo”, comenta Simone. A pesquisadora conta que já há quem esteja produzindo macaúba pensando na venda do endocarpo, que tem alto valor de mercado. A tonelada desse produto está sendo comercializada por R$ 1.500,00, em média. É possível obter até seis toneladas por hectare cultivado com a planta. Mas aqui há, novamente, desafios tecnológicos para utilização desse coproduto: obter o endocarpo separado da amêndoa sem nenhuma contaminação. “Esse é um dos pontos-chave para viabilizar a cadeia produtiva”, ressalta Simone.
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