Lideranças em agricultura discutem no ESALQSHOW como será o futuro do setor para a sociedade

Representantes da academia, agência de pesquisa, setor produtivo, governo e entidades representativas se reuniram para discutir o tema central do ESALQSHOW

10.10.2018 | 20:59 (UTC -3)
Mariele Previdi

No primeiro dia do ESALQSHOW 2018 – Fórum de Inovação para o Agronegócio Sustentável, que se realiza no campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba (SP), lideranças da academia, agências de pesquisa, setor produtivo, governo e entidades representativas se reuniram para discutir o futuro da agricultura tropical para a sociedade, tema central desta edição do evento.

O fórum foi moderado pelo jornalista e publicitário, José Luiz Tejon e contou com a participação do Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco Ferreira Sergio Jardim; o jornalista Humberto Pereira, ex-editor chefe do Globo Rural e um dos criadores da campanha da Globo “Agro: a indústria riqueza do Brasil”; Cleber Oliveira Soares, diretor-executivo de Inovação e Tecnologia da Embrapa; João Dornellas, presidente-executivo da ABIA – Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação; Jacyr Costa Filho, presidente do Cosage e diretor Grupo Tereos; Luiz Gustavo Nussio, diretor da Esalq/Usp e Roberto Rodrigues, presidente do Conselho ESALQSHOW e catedrático “Luiz de Queiroz”.

Ao avaliar o papel da academia na agricultura do futuro, o diretor da Esalq/USP, Luiz Gustavo Nussio, salientou que atualmente avalia-se que a validade do conhecimento é de 10 anos. “Estimando que se tenha uma vida útil profissional de 65 anos, o aluno precisa se reinventar pelo menos sete vezes na vida. O desafio é atrair esse aluno de volta para a academia para que possa atualizar seus conhecimentos. A realização de um evento como o ESALQSHOW, que busca aproximar os alunos egressos do que a universidade vem fazendo é um dos caminhos”, ressaltou Nussio, que destacou o crescimento de parcerias das universidades com o setor privado como um dos caminhos para garantir o avanço das pesquisas e a capacitação das pessoas. “Não basta o Brasil ter recursos naturais e clima favorável. É preciso pensar nas pessoas, capacitá-las para serem gestores, que saibam integrar sistemas, tomar decisões com base em informações, trabalhando a integração do conhecimento”.

Para o Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco Ferreira Sergio Jardim, o setor se vê diante de grandes desafios para alimentar a crescente população mundial, que passam pelo aumento da produtividade com um maior uso de tecnologias, produzir mais com menos de forma sustentável e, especificamente no Brasil, na sua avaliação o setor tem o desafio de enfrentar questões referentes à segurança jurídica da terra.

Jacyr Costa Filho, presidente do Cosag – Conselho Superior do Agronegócio da FIESP e diretor Grupo Tereos fez uma apresentação sobre como a agroenergia está mitigando os efeitos das mudanças climáticas. Entre 1950 e 2017 houve um aumento de 1ºC na temperatura média global e a produção de etanol se apresenta como uma alternativa para minimizar esses efeitos. “Além do benefício ambiental, o etanol possui diversas vantagens, como por exemplo, o fato de ser uma cultura de ciclo curto de produção, sua relevância econômica e a possibilidade de ajudar a equilibrar a balança comercial, já que o Brasil importa cerca de 12 bilhões de dólares com combustíveis fósseis. O maior uso do etanol ajudaria a economizar emissão de 570 milhões de toneladas de CO² até 2030 no Brasil, o que segundo cálculos de um professor da USP, evitaria aproximadamente 7 mil mortes, decorrentes especialmente de problemas respiratórios”, explica Filho. O executivo enalteceu a importância do RenovaBio como política de Estado para traçar uma estratégia conjunta a fim de reconhecer o papel estratégico de todos os tipos de biocombustíveis na matriz energética brasileira, tanto para a segurança energética quanto para mitigação de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa, estimulando uma busca por maior eficiência.

O presidente-executivo da ABIA – Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, João Dornellas, deu a visão da indústria de alimentos no Brasil, que responde por cerca de 10% do PIB brasileiro e é a responsável por processar 58% da produção agropecuária. Ele comentou alguns pontos dos resultados da pesquisa “A Mesa dos Brasileiros – Transformações, Confirmações e Contradições”, que ouviu 3 mil pessoas em 12 regiões metropolitanas do País sobre seus hábitos de consumo alimentares para analisar como tanto o setor agropecuário como da indústria devem estar atentos a essas mudanças para pautar sua atuação agora e no futuro.

O diretor-executivo de Inovação e Tecnologia da Embrapa, Cleber Oliveira Soares, deu a visão da agência de pesquisa sobre o futuro. “Aspectos como rastreabilidade, sustentabilidade, adoção de critérios ambientais e sociais, agroeconomia, sistemas integrados de produção, bem-estar animal e produtos de baixo carbono e carbono neutro estão cada vez mais presentes no direcionamento das pesquisas e inovação”, garantiu o pesquisador.

O jornalista Humberto Pereira, ex-editor chefe do Globo Rural e um dos criadores da campanha da Globo “Agro: a indústria riqueza do Brasil” analisou como é feita a comunicação do setor, destacando alguns aspectos que precisam ser melhorados para que o agronegócio seja reconhecido especialmente pelo público urbano. “Existe uma capacidade enorme de comunicação dentro do agro nas mais variadas instâncias, mas uma grande dificuldade da porteira para fora não só para o público brasileiro, mas para os nossos clientes lá fora. O agro tem que se preparar consistentemente para essa nova situação de ser líder de mercado. Tem que se antecipar, de blindar, ter consciência dos pontos frágeis e se preparar. Sabemos que o mercado internacional vai usar qualquer ‘pelo em ovo’ como barreira comercial. Seria interessante fazer uma pesquisa para detectar quais as grandes críticas que o mundo tem em relação aos produtos agro brasileiros”, analisa o jornalista. Segundo ele, o agro vive atualmente seu ciclo de produção mais consistente, com uma sucessão de recordes. “É preciso reconhecer que estamos diante não só de um novo agro, mas de um novo agricultor. Sustentabilidade não pode mais ser algo discutível, não dá para produzir sem ser sustentável e a pessoa mais credenciada a cuidar da natureza no Brasil é o agricultor”, atesta. “Não podemos ter medo de discutir questões sérias e polêmicas, como a dos agroquímicos. O agro tem o compromisso de se posicionar na linha de frente da sociedade. Temos um desafio de comunicação muito grande, mas, ao mesmo tempo, uma base muito boa, que é a sinceridade, a lisura e a paixão do agricultor brasileiro. Toda essa tecnologia que está chegando não vai tirar a maravilhosa cultura e as tradições do agricultor brasileiro”, acredita.

Para o moderador do fórum, José Luiz Tejon Megido, a comunicação do setor deve ser considerada como uma grande luta. “Não basta mostrar e nem encantar: precisamos comover as pessoas, oferecer experiências que não se esvanecem com o tempo”.

O presidente do Conselho Consultivo do ESALQSHOW, Roberto Rodrigues, finalizou o encontro com uma reflexão sobre o que dá sentido à vida das pessoas. “Para mim é ensinar e aprender e hoje aprendi muito nesse rico debate que tivemos com craques do agronegócio. Continuo motivado a fazer do Brasil um protagonista e campeão mundial da paz ao fornecer alimentos de qualidade para as pessoas”, concluiu o ex-Ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da FGV.


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