Complexidade da Soja Louca II exige intensificação das pesquisas
“Todos os pesquisadores estão de olho nas pastagens degradadas do Brasil”, afirmou Nilton Tadeu Junqueira, pesquisador da Embrapa Cerrados, em palestra na manhã desta quarta-feira, 11 de agosto, sobre Espécies alternativas potenciais para produção de biodiesel. A palestra integra o Simpósio Estadual de Agroenergia, que prossegue até amanhã, quinta-feira, dia 12, no auditório da Faem/UFPel, em Pelotas, em paralelo à 3ª Reunião Técnica de Agroenergia, 10ª Reunião Técnica da Mandioca e 2ª Reunião Técnica da Batata-Doce.
Hoje, o Brasil possui 180 milhões de hectares de pastagens, sendo 60% consideradas em degradação e com baixa produtividade. “É inadmissível colher de duas a três toneladas de feijão por hectare/ano, enquanto nas áreas de pastagens a produtividade é de 170 quilos de alimento/ha/ano”, salienta Junqueira, ao defender a introdução de florestas agroenergéticas, promovendo a integração com a pecuária.
A integração agricultura, pecuária e florestas foi defendida pelo também pesquisador Antônio Francisco Bellote, da Embrapa Florestas. “A integração agrega valor, melhora o uso da terra e modifica a paisagem. Penso que seria interessante até mesmo para o RS”, disse Bellote, que palestrou sobre Situação atual e perspectivas das florestas agroenergéticas no Brasil.
Hoje, a área plantada com eucalipto é de 4.515 milhões de hectares. “Para até 2020, a estimativa é chegar a 13 milhões de hectares cultivados com florestas energéticas”, anunciou Bellote. Ele também apresentou os números cultivados com cana-de-açúcar (mais de oito milhões de hectares), de soja (20.640 milhões de hectares) e de áreas degradadas (de 150 a 180 milhões de hectares), “que poderiam estar melhor envolvidos nos processos produtivos”, comparou.
O Programa de Florestas Energéticas tem, como desafios, a expansão da produção de biomassa inclusive em áreas não tradicionais; a prospecção de impactos econômicos, sociais e ambientais até mesmo na captura de crédito de carbono em todas as cadeias produtivas; e os investimentos em tecnologias mais eficientes e sustentáveis para garantir melhor qualidade à madeira, a compactação de resíduos, a geração de energia elétrica e a produção de carvão vegetal.
“Atualmente cerca de 20 milhões de pessoas usam a madeira para fazer a cocção, o cozimento de alimentos, com prejuízos à saúde, especialmente pela combustão e emissão de gases”, observou Bellote, ao anunciar que a Embrapa Florestas está desenvolvendo um protótipo de uma usina de carvão vegetal para o pequeno produtor, “ambientalmente mais adequado e socialmente justo”.
Inajá, muru-muru e tucum, espécies de palmeiras com potencial pouco conhecido do Cerrado, estão sendo incentivadas para a produção de biodiesel, seguindo a tendência de que, hoje, 40% da energia consumida no Brasil vêm de fontes renováveis, “gerando emprego e renda no campo”, observa Junqueira, ao comparar que, para produção de biodiesel, 77% vêm da soja, 21% de gordura animal, e 2% do biodiesel provêm de culturas como algodão, canola, girassol, amendoim, mamona e dendê.
“Nosso desafio é pesquisar espécies silvestres, sem provocar o deslocamento de áreas para produção de alimentos”, destacou. Junqueira cita o pinhão-manso, o pequi e a macaúba como culturas em pesquisa, mas interessantes pelo potencial energético.
O pinhão-manso é a espécie mais falada e de excelente qualidade para a produção de biodiesel. Hoje, a pesquisa de seus usos demanda 70% de pessoal e 65% dos recursos financeiros do projeto. Entre as vantagens de sua disseminação como cultura alternativa para a produção de biodiesel está na boa produtividade, com rendimento de 30 a 35% de óleo. Já entre as dificuldades, Junqueira cita a colheita manual, a indisponibilidade de máquinas, a frutificação desuniforme, não produz bem em locais com déficit hídrico e frio e a alta incidência de pragas e doenças.
Variedades de pinhão-manso começam a ser plantadas a partir de 2025. Cultivares melhoradas de pequi também serão lançadas pela Embrapa até 2015. Pesquisas também estão sendo realizadas na produção da macaúba, uma espécie de palmeira, cuja ocorrência é possível em todo o território nacional. A macaúba apresenta possibilidade de integração com pecuária e outras culturas alimentícias. Resiste a fogo e a geadas leves. Sua produtividade é elevada e o balanço energético é superior ao do dendê. Como problemas, Junqueira cita a falta de tecnologia pós-colheita, a propagação por sementes e a necessidade de um banco de produção dessas sementes. As plantas também são altas e espinhosas.
Pela diversidade de alternativas que podem ser implantadas e cuja produção pode ser incentivada no Brasil, Junqueira destaca que “tudo está sendo estudado, desde o balanço de carbono, a ecologia, a fenologia e os impactos ambientais e sociais de cada cultura, pois precisamos garantir o desenvolvimento do biodiesel e da agroenergia com sustentabilidade”.
O Simpósio Estadual de Agroenergia é uma realização da Embrapa Clima Temperado, Emater/RS-Ascar, Fepagro e Afubra.
Christiane Rodrigues Congro
Embrapa Clima Temperado
(53) 3275-8113
Adriane Bertoglio Rodrigues
Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar
Gislaine Freitas-
Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária
Luciana Jost
Afubra
Departamento de Comunicação
MTb/RS 13.507
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