O Fundecitrus, em parceria com a Universidade da Califórnia (UCDavis) e a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), identificou feromônio que atrai o psilídeo Diaphorina citri, inseto transmissor do greening (huanglongbing/HLB), pior doença da citricultura mundial.
Os feromônios são compostos sintéticos idênticos aos produtos naturais, não poluentes e geralmente não tóxicos que podem ser usados de muitas maneiras, como para monitorar, atrair, matar ou causar confusão sexual em insetos. No caso do psilídeo, a molécula identificada causa sua atração e, no futuro, poderá ser utilizada em armadilhas adesivas, principal método de monitoramento do inseto, o que proporcionará aumento da captura do psilídeo.
De acordo o gerente geral do Fundecitrus Juliano Ayres, a detecção deste feromônio é um avanço nas pesquisas que têm como objetivo principal o controle do greening. “Essa descoberta pode revolucionar o monitoramento do psilídeo, que atualmente é dificultado por conta da migração do inseto e por voar longas distâncias. As armadilhas são uma ferramenta eficiente em seu manejo, mas o acréscimo do feromônio e a consequente maior captura irão contribuir com a realização de um controle mais assertivo e com a redução da disseminação do greening”, afirma Ayres.
Investimento
O Fundecitrus investiu R$ 1,5 milhão na busca da identificação do feromônio, valor utilizado nas pesquisas feitas pela própria instituição e UCDavis e Esalq/USP. O estudo também contou com o apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Os testes foram realizados no laboratório de Ecologia Química e Comportamento de Insetos do Fundecitrus, inaugurado em 2010, onde os estudos são voltados para a identificação de compostos voláteis atraentes ou repelentes ao psilídeo, e também nas universidades parceiras. Depois, eles foram levados para o campo e foi confirmada a eficácia na atração do inseto.
De acordo com o pesquisador Walter Leal (UCDavis), com 30 anos de experiência na identificação de feromônios, este foi o mais complexo de sua carreira. “O comportamento do psilídeo é muito instável e difícil de compreender, por conta disso muitas vezes pensamos que não conseguiríamos chegar nesse resultado. Sem dúvidas, é uma grande conquista para a ciência e para a citricultura”, afirma.
O pesquisador José Maurício Simões Bento, do departamento de Entomologia da Esalq/USP, destaca a importância da parceria para a identificação do feromônio. “O resultado é fruto do esforço e da união dessas instituições para avançar na pesquisa. A fase mais difícil e complexa foi alcançada”, diz Bento.
Os próximos passos do estudo são detectar a formulação ideal do feromônio para ser disponibilizado nas armadilhas e analisar se há outros compostos que podem agir de forma semelhante. O pesquisador do Fundecitrus Haroldo Xavier Linhares Volpe, um dos responsáveis pelo estudo, destaca que essas avaliações são necessárias para transformar o composto em um produto. “A identificação do feromônio é um passo importante na pesquisa, mas novos estudos devem ser realizados para torná-lo comercializável em armadilhas”, diz Volpe.
Bicho furão: um caso de sucesso
A parceria entre Fundecitrus, Esalq/USP e o pesquisador Walter Leal alcançou um feito de sucesso também no início dos anos 2000, quando passaram a estudar os hábitos do bicho furão e seu ciclo de reprodução. As informações levaram à sintetização do feromônio sexual do inseto, além do estabelecimento de estratégias para a sua utilização no campo. Em novembro de 2001, a armadilha com o feromônio sintético passou a ser comercializada pela Coopercitrus. O uso das armadilhas com isca de feromônio para o monitoramento do bicho furão evitou perdas da ordem de até US$ 1,32 bilhão, desde a sua disponibilização no mercado até 2013, de acordo com pesquisa da Esalq/USP.