Especialistas da Embrapa falam sobre controle de pragas e doenças na Agrobrasília 2017
Pesquisador Charles de Oliveira fez palestra sobre enfezamentos do milho na manhã do último dia da feira
Identificada pela primeira vez no Brasil em meados de 2001, a ferrugem asiática da soja é uma das principais dores de cabeça do agricultor brasileiro. O clima tropical faz com que o país seja um terreno fértil para o desenvolvimento de mutações do fungo causador da doença, tornando-o resistente aos fungicidas. “A ferrugem é sem dúvida um dos principais problemas sanitários nas lavouras de soja, exigindo intensos investimentos em controle todos os anos. A grande preocupação é a perda de eficiência dos principais mecanismos de ação utilizados no manejo, o que reforça a necessidade de otimização das medidas fitossanitárias, como o vazio sanitário da soja”, destaca o consultor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Cristiano Palavro.
Para Ricardo Balardin, PhD em fitopatologia e pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a cada safra, o aumento da resistência da ferrugem gera um gasto adicional de 20% da receita anual dos produtores. “Seria necessário que o produtor elevasse sua produtividade na mesma proporção para não levar prejuízo”, destacou o especialista. “Em termos reais, esse percentual corresponderia a 11 milhões de hectares em uma área total de 34 mi/ha", acrescentou.
Com base nos dados da Embrapa, ele estima que o Brasil já tenha gasto mais de US$ 23,4 bilhões em pesquisas e ações no controle do fungo, mas nenhuma ainda se mostrou efetiva. “Infelizmente o clima prejudica a ação dos defensivos biológicos no controle da ferrugem, que seriam uma alternativa viável e sustentável. Só nos resta então o controle químico, que em excesso é nocivo à saúde humana e ao meio ambiente”, aponta.
O clima aliás, também é citado por Balardin como o principal gargalo para aumentar a produtividade agrícola do País. “Temos todas as condições para produzir mais de 60 sacas por hectares, com tecnologia, técnicos e produtores qualificados. O problema é que as condições climáticas prejudicam qualquer planejamento . Se não chove, a lavoura não se desenvolve; se chove demais, acontece a proliferação da ferrugem. Nos EUA e em outros países isso não acontece e, praticamente, não há tantos problemas com doenças”.
Próximas safras em xeque
Recentemente a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou a sua projeção para a safra brasileira 2016/17. De acordo com a entidade, o país colherá 232 milhões de toneladas de grãos, alta de 24,3% em relação à temporada anterior.
Embora os números sejam animadores, Balardin destaca que esse resultado não deve se repetir por um longo período de tempo. “Os produtores devem aproveitar ao máximo a colheita desse ano. A resistência a fungicidas, pragas, doenças e até mesmo a conjuntura econômica do país devem impactar as próximas safras e devemos passar por anos turbulentos”, prevê.
O especialista acredita que a situação seria outra caso o país tivesse maior diversidade de culturas. “Infelizmente a agricultura no Brasil se tornou quase que exclusiva de soja. Deveríamos estimular outras cadeias para termos planos B e C. Assim, quando a soja não estiver bem teriamos feijão, trigo e arroz, por exemplo”.
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