Ferrugem asiática compromete até 20% da receita anual das lavouras

Grande preocupação é a perda de eficiência dos principais mecanismos de ação utilizados no manejo, destaca consultor da Faeg.

29.05.2017 | 20:59 (UTC -3)
Comunicação FAEG

Identificada pela primeira vez no Brasil em meados de 2001, a ferrugem asiática da soja é uma das principais dores de cabeça do agricultor brasileiro. O clima tropical faz com que o país seja um terreno fértil para o desenvolvimento de mutações do fungo causador da doença, tornando-o resistente aos fungicidas. “A ferrugem é sem dúvida um dos principais problemas sanitários nas lavouras de soja, exigindo intensos investimentos em controle todos os anos. A grande preocupação é a perda de eficiência dos principais mecanismos de ação utilizados no manejo, o que reforça a necessidade de otimização das medidas fitossanitárias, como o vazio sanitário da soja”, destaca o consultor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Cristiano Palavro.

Para Ricardo Balardin, PhD em fitopatologia e pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a cada safra, o aumento da resistência da ferrugem gera um gasto adicional de 20% da receita anual dos produtores. “Seria necessário que o produtor elevasse sua produtividade na mesma proporção para não levar prejuízo”, destacou o especialista. “Em termos reais, esse percentual corresponderia a 11 milhões de hectares em uma área total de 34 mi/ha", acrescentou.

Com base nos dados da Embrapa, ele estima que o Brasil já tenha gasto mais de US$ 23,4 bilhões em pesquisas e ações no controle do fungo, mas nenhuma ainda se mostrou efetiva. “Infelizmente o clima prejudica a ação dos defensivos biológicos no controle da ferrugem, que seriam uma alternativa viável e sustentável. Só nos resta então o controle químico, que em excesso é nocivo à saúde humana e ao meio ambiente”, aponta.

O clima aliás, também é citado por Balardin como o principal gargalo para aumentar a produtividade agrícola do País. “Temos todas as condições para produzir mais de 60 sacas por hectares, com tecnologia, técnicos e produtores qualificados. O problema é que as condições climáticas prejudicam qualquer planejamento . Se não chove, a lavoura não se desenvolve; se chove demais, acontece a proliferação da ferrugem. Nos EUA e em outros países isso não acontece e, praticamente, não há tantos problemas com doenças”.

Próximas safras em xeque

Recentemente a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou a sua projeção para a safra brasileira 2016/17. De acordo com a entidade, o país colherá 232 milhões de toneladas de grãos, alta de 24,3% em relação à temporada anterior.

Embora os números sejam animadores, Balardin destaca que esse resultado não deve se repetir por um longo período de tempo. “Os produtores devem aproveitar ao máximo a colheita desse ano. A resistência a fungicidas, pragas, doenças e até mesmo a conjuntura econômica do país devem impactar as próximas safras e devemos passar por anos turbulentos”, prevê.

O especialista acredita que a situação seria outra caso o país tivesse maior diversidade de culturas. “Infelizmente a agricultura no Brasil se tornou quase que exclusiva de soja. Deveríamos estimular outras cadeias para termos planos B e C. Assim, quando a soja não estiver bem teriamos feijão, trigo e arroz, por exemplo”.

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