Estudo revela como a densidade de plantas e a adubação interferem no cultivo do milho

As melhores densidades estão entre 60 e 80 mil plantas por hectare, segundo o pesquisador Milton Cardoso, da Embrapa Meio-Norte (Teresina, PI)

21.12.2021 | 13:02 (UTC -3)
Fernando Sinimbu

Pesquisas revelam que um dos fatores de sucesso nos sistemas de produção de milho (Zea mays) para grãos secos, em nível de agronegócio, é o equilíbrio da densidade das plantas. As melhores densidades estão entre 60 e 80 mil plantas por hectare, segundo o pesquisador Milton Cardoso, da Embrapa Meio-Norte (Teresina, PI), membro do projeto Manejo do sistema solo-água-planta para o milho na região Meio-Norte do Brasil. 

O trabalho dele revelou também que para a agricultura familiar, o “melhor arranjo” varia na “faixa de 45 a 55 mil plantas por hectare”. Já na produção de espigas verdes, segundo o estudo do cientista, a “melhor faixa” está entre 40 a 50 mil plantas por hectare. Encontrar o ponto de equilíbrio na densidade é difícil, já que o arranjo das plantas “é influenciado pelo genótipo, ambiente, sistema de produção, época de semeadura e outros fatores”, explica Cardoso.

Para chegar aos resultados com grãos secos, o pesquisador trabalhou em dois experimentos, em Teresina e no município de Magalhães de Almeida, no leste do Maranhão, no período de 2017 a 2019. Foram avaliadas as densidades de 4, 6, 8  e 10 plantas por metro quadrado, com três cultivares de milho da Embrapa, a variedade BRS 473, e quatro híbridos. 

Para a variedade BRS 473, os melhores resultados obtidos em produtividade de grãos secos foram de cinco a seis toneladas por hectare. Para o híbrido duplo BRS 2020, o alcance foi de 5,5 a sete toneladas por hectare. Já para os híbridos triplo BRS 3046 e o simples BRS 1060, a produtividade alcançada foi de 6,5 a nove toneladas por hectare.

Com a produção de espigas verdes, no experimento conduzido em Teresina, no ano de 2018, foram observadas as densidades de plantio de 2, 4, 6, 8 e 10 plantas por metro quadrado. Neste experimento foi usado o híbrido triplo de milho BRS 3046, também da Embrapa. Aqui, com a densidade de seis plantas por metro quadrado, a resposta foi se “ajustou aos padrões comerciais” com 57.813 espigas por hectare. “Os resultados mostram que é possível ajustar a densidade de plantas à sustentabilidade do sistema de produção com milho nas regiões estudadas”, ressaltou Cardoso.

Grande densidade versus doenças

As primeiras conclusões do projeto comprovam também que o desequilíbrio na densidade de plantas da cultura do milho “aumentam as doenças foliares”, como a mancha-branca, a mancha de bipolares e a mancha de cercóspora. No estudo do pesquisador Cândido Athayde Sobrinho, no município de Magalhães de Almeida, ficou comprovado que as doenças surgem favorecidas pela “intensidade das chuvas, altas umidade relativa do ar e temperatura e o efeito das grandes densidades de plantas”. 

O trabalho do pesquisador revelou ainda a resposta da diferença dos genótipos “à severidade das doenças foliares”. Segundo ele, a variedade BRS Assum Preto usada no experimento mostrou ser “bem mais susceptível às doenças” que os híbridos. O hibrido duplo BRS 2020, de acordo com o estudo, é o “genótipo mais resistente”.

Adubação no passo certo

Como já é de domínio no meio agrícola e na pesquisa, a adubação correta é fator determinante para o aumento da produtividade. Em dois experimentos, conduzidos também no município de Magalhães de Almeida, com a variedade de milho BRS Catingueiro e o híbrido simples transgênico PIONER30F53VYHR, ambos em 2019, o pesquisador Francisco Brito pôde comprovar a eficiência do potássio e do nitrogênio através da calibração com doses crescentes de cada um desses nutrientes.

Os resultados dos experimentos foram animadores. Vejamos: com o híbrido simples transgênico, as doses de nitrogênio de 145 e 104 quilos, respectivamente, por hectare, foram alcançados os maiores rendimentos de grãos, tanto para a produtividade técnica (sem considerar o custo do adubo), que chegou a 8,3 toneladas por hectare, como para a produtividade econômica (que considera os custos com adubação), que atingiram 8,1 toneladas por hectare. 

Com a variedade BRS Catingueiro, o pesquisador observou que as doses de 117 e 54 quilos por hectare, foram respectivamente, as que alcançaram os maiores rendimentos de grãos, tanto para a produtividade técnica, como para a produtividade econômica. Os resultados também foram expressivos: na produtividade técnica foram alcançadas 3,9 toneladas por hectare; e na produtividade econômica chegou-se a 2,8 toneladas por hectare.

Usando doses de potássio, de 69 e 50 quilos por hectare, o experimento atingiu uma produtividade técnica de 3,4 toneladas por hectare e uma produtividade econômica de grãos secos de 2,9 toneladas por hectare.

O estudo revelou ainda que, no caso do hibrido simples, para cada um quilo de nitrogênio aplicado, houve uma produção de 57 quilos de grãos secos de milho, para produtividade técnica, e 77 quilos de grãos secos do cereal para a produtividade econômica de grãos, o que corresponde, respectivamente, a 66% e 61% de aumentos, quando comparado às produtividades sem o uso do nitrogênio.

Indígenas deram a largada

Celebrado no poema Oração do milho, da poetisa Cora Coralina (Goiás, 1889-1985), em 1965, o milho tem origem no México e na Guatemala, há mais de sete mil anos, segundo a literatura especializada, e surgiu a partir da gramínea Teosinto, através de processos de seleção e domesticação.

No Brasil, o cereal já era plantado e consumido pelos índios, principalmente os guaranís,”antes mesmo da chegada dos portugueses”. Com a instalação dos europeus no País, tanto o plantio como o consumo do milho ganharam força. O cereal é rico em proteínas, gorduras, carboidratos, fibras, vitaminas e sais minerais, como potássio, fósforo, magnésio, cálcio e zinco.

Dados do Caderno Setorial do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE), do Banco do Nordeste, de agosto deste ano, aponta para a safra 2020/21, no Brasil, uma produção de 96,3 milhões de toneladas de grãos de milho. O Centro-Oeste está na frente da produção com 51,6 milhões de toneladas, seguido pelo Sul com 20,8 milhões de toneladas. 

Os maiores produtores brasileiros são os estados do Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Estados Unidos, China e Brasil, juntos, estão ofertando ao mercado 1,12 bilhão de toneladas. Os três países respondem por mais de 60% da produção mundial de milho.
Mesmo sendo usado na culinária nacional o ano inteiro, o forte mesmo da produção de milho tem como maior demanda a indústria de ração para animais: 53%. O cereal também é produzido para o setor de biocombustíveis, tanto no Brasil (o País tem hoje 18 usinas que produzem etanol a partir do milho) como em outros países, com destaque para os Estados Unidos e Alemanha. 

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