CNA apresenta propostas do Plano Safra para a Frente Parlamentar da Agropecuária
Pontos prioritários do documento são a redução da taxa de juros, ampliar as fontes de financiamento para o setor e avançar nas políticas de gestão de riscos
Um estudo inédito conduzido pela Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop-MT) fez um raio X dos plantios comerciais de castanheiras em Mato Grosso e comprovou que o setor precisa de maior aporte tecnológico para viabilizar o cultivo como atividade econômica na região. Apesar de o estado ocupar o quarto lugar na produção nacional de castanha-do-brasil (conhecida também como castanha-do-pará), quase a totalidade da produção comercial vem da atividade extrativista. A pequena produção comercial é usada no consumo das próprias famílias, ou na venda local.
De acordo com a coordenadora do estudo e pesquisadora da Embrapa Agrossilvipastoril, Aisy Baldoni Tardin, esse levantamento é importante para entender como são os plantios de castanheira-do-brasil em Mato Grosso, qual o nível de tecnologia aplicado no cultivo, quais as práticas de manejo realizadas e quais as dificuldades encontradas. As informações servirão de subsídio para a pesquisa em busca de soluções que possam permitir o crescimento da atividade, além de auxiliarem no processo de regularização dos plantios.
O estudo, que contou com o apoio das secretarias municipais de agricultura, ONGs, Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), produtores de mudas, e produtores rurais, mapeou as fazendas com plantios comerciais, fazendo uma análise mais profunda em dez delas.
De maneira geral, os cultivos mato-grossenses são jovens, com menos de 30 anos, e foram feitos sem interesse comercial. Conforme os pesquisadores, o aspecto sentimental e a busca pela preservação da espécie foram os principais incentivadores dos plantios. Essa motivação resultou na falta de tratos culturais adequados, o que se reflete na baixa produção. O relatório mostrou que poucas propriedades mensuram o quanto produzem e que, em geral, as castanhas são destinadas ao consumo da própria família ou à venda local.
“Como são poucos os plantios, e muitos deles foram realizados sem o objetivo de exploração comercial das castanhas, para se ter uma representatividade econômica, a meu ver, muito ainda precisa ser feito. Novos cultivos precisam ser estimulados, e para isso o produtor precisa de informações técnicas, além de respaldo legal para o uso da madeira, caso seja de seu interesse. Precisamos também entender o ciclo de produção de castanheiras plantadas, o que só conseguiremos com o tempo”, explica a pesquisadora.
A pesquisa mostrou que devido à falta de informações disponíveis sobre o plantio e cultivo de castanheira, as propriedades avaliadas fizeram testes com diferentes espaçamentos entre plantas. O espaçamento 5m x 5m, utilizado pelo plantio comercial mais antigo, com 38 anos, não foi uma boa escolha, pois gerou árvores altas e com pequena área de copa.
O espaçamento 10m x 10m foi utilizado em 30% dos plantios e tem se mostrado o mais eficaz em monocultivos.
Entretanto, a pesquisa mostrou que em 60% dos plantios, a castanheira foi utilizada em sistemas consorciados. Em dois terços deles, o consórcio se deu com outras espécies frutíferas, em sistemas agroflorestais. Já em um terço, as árvores estão em sistemas silvipastoris, consorciados com pastagem para a pecuária.
Em relação à área, os plantios avaliados pelos pesquisadores variam de menos de 1 hectare, até áreas de 190 hectares. Da mesma forma, o perfil das propriedades engloba desde pequenas chácaras a grandes fazendas com milhares de hectares. A pecuária é a principal atividade econômica de 50% das propriedades estudadas.
Como o objetivo não era o de obter renda com a comercialização da castanha-do-brasil, os plantios de castanheiras não receberam os devidos cuidados de manejo de um cultivo comercial. Apenas 30% deles receberam adubação com fontes de nitrogênio, fósforo e potássio. No caso dos cultivos em consórcio, foram realizados manejos como retirada de cipós, coroamento, capina, entre outros. Embora o manejo tenha sido feito visando o benefício das outras espécies consorciadas, as castanheiras se beneficiaram.
Apenas 40% das propriedades utilizaram a técnica da enxertia. Desse montante, 60% fizeram em todas as árvores. Fatores como falta de mão de obra especializada, custo e a baixa taxa de pegamento são apontados como motivos para não utilizar a técnica.
De acordo com a pesquisadora, a enxertia antecipa a produção de frutos e ainda faz com que as árvores fiquem mais baixas, característica desejável em um plantio comercial. Propriedades que fizeram a enxertia começaram a ter produção no sexto ano, enquanto aquelas sem a técnica, tiveram os primeiros frutos entre oito e dez anos.
A pesquisa mostrou ainda que o cultivo mais antigo registrou a primeira produção, de cinco ouriços, com oito anos. A produção comercial começou aos 15 anos e aos 25 anos alcançou a carga plena. Como comparação, na mata, relatos indicam o início da produção entre 73 e 93 anos, atingindo sua máxima por volta dos 240 anos de idade.
Em Mato Grosso, trabalhos de pesquisa conduzidos pela Embrapa Agrossilvipastoril estão focados na propagação e na obtenção de materiais de qualidade genética. Para isso, um jardim clonal foi plantado na área experimental. Trata-se de um plantio onde as mudas foram enxertadas com materiais genéticos de plantas selecionadas em maciços nativos em diferentes regiões do estado. A seleção se deu com base em pesquisa prévia que mapeou aspectos como produtividade, tamanho e qualidade de sementes, precocidade, porte das árvores, entre outros.
Além de servir como referência para estudos, esse jardim clonal poderá servir de fonte de material genético para produção de enxertos.
Mesmo sem ter o foco econômico na produção de castanha-do-brasil, apenas um dos dez produtores demonstrou arrependimento no plantio das castanheiras. Oito deles pretendem manter as árvores como estão e um planeja ampliar a área cultivada.
De acordo com Aisy Tardin, para que o plantio comercial de castanheira-do-brasil cresça, é preciso obter mais informações sobre a cadeia. Muito conhecimento tem sido gerado por uma rede de pesquisa formada pelos centros de pesquisa da Embrapa da região Amazônica.
“Diversas pesquisas têm sido realizadas há décadas com a espécie, tanto na parte de conservação dos maciços nativos, no apoio ao extrativista, nas boas práticas de coleta para castanhas com qualidade fitossanitária, quanto na propagação da espécie, manejo, diversidade genética etc. Todas essas ações contribuem para o conhecimento da espécie e quanto mais se sabe, mais segura é a tomada de decisão e investimento na cadeia”, ressalta.
A enxertia de castanheira é feita normalmente pelo método de borbulhia em placa, realizado em porta-enxertos previamente plantados no local definitivo. Apesar de o índice de pegamento ser considerado baixo, essa técnica tem sido a mais eficaz.
Uma publicação da Embrapa Agrossilvipastoril orienta sobre como fazer a enxertia por borbulhia em castanheira.
Entretanto, a Embrapa Amazônia Oriental (PA) desenvolveu um protocolo de enxertia por garfagem ainda em viveiro. Essa técnica vem sendo testada em Mato Grosso pela Embrapa Agrossilvipastoril e ainda precisa passar por adaptações para se tornar viável.
“É preciso ainda muita cautela para uso da enxertia em grande número de mudas. São muitos os fatores envolvidos que impedem o sucesso da técnica e muitos estudos ainda precisam ser realizados”, explica Tardin.
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