11º Prêmio Massey Ferguson de Jornalismo premia os melhores trabalhos do agronegócio brasileiro e sulamericano
A semeadura do milho começou em agosto no Rio Grande do Sul, mas muitas lavouras do cedo precisaram ser semeadas novamente, em função da falta de umidade para a germinação das sementes e das intempéries dos últimos dias. A concentração da semeadura deve acontecer agora, principalmente com o aumento das precipitações no Estado, e se estender até meados de outubro. A previsão de chuva no verão traz boas perspectivas para a safra que está começando.
Em 2011, a área cultivada com milho no Brasil foi de 13,36 milhões de hectares, distribuídos no PR (18%), MT (14%), MG (8,8%) e RS (8,2%). A cultura do milho tem significativa importância sócio-econômica no RS, historicamente ocupando 28% do total das áreas semeadas com cultivos de primavera-verão, especialmente em pequenas propriedades de agricultura familiar (Conab). Contudo, nesta safra há perspectiva de redução da área de milho, que deverá ceder lugar para a soja em função da alta cotação da oleaginosa, o que preocupa os pesquisadores que têm mostrado as vantagens do milho na rotação de culturas e sua posição estratégica nos sistemas de produção da Região Sul. De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, João Leonardo Pires, existem várias razões para semear milho: rotação de culturas com a soja, reduzindo a incidência de pragas e doenças; fornecimento de grande quantidade de palha para o sistema plantio direto; consumo próprio na pequena propriedade associado a cadeias produtivas animais (especialmente suínos e aves); ciclagem de nutrientes e contribuição na redução da erosão devido a sua relação C/N (carbono e nitrogênio) elevada que garante a permanência de palha na superfície do solo por mais tempo.
Em trabalhos desenvolvidos pela Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS e em Guarapuava, PR, foi verificado o efeito benéfico da rotação com milho para o rendimento de grãos da soja. Nesses dois locais e em vários experimentos de longa duração, o cultivo de soja por um, dois ou três anos consecutivos intercalando com o milho, apresentou rendimento de grãos mais elevado do que a monocultura dessa leguminosa. Por meio da alternância de culturas com o milho, também é possível controlar pragas, como, por exemplo, o tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus), uma praga importante da cultura que não ataca gramíneas.
O zoneamento agrícola que orienta a semeadura do milho no RS é amplo, iniciando em agosto até a semeadura mais tardia em janeiro. Contudo, a época de maior expressão do potencial de rendimento dos híbridos vai da segunda quinzena de setembro à primeira quinzena de outubro. Neste período o pré-florescimento e o enchimento de grãos coincidem com a radiação solar mais alta e dias mais longos (entre meados de novembro a fevereiro), favorecendo o desenvolvimento da planta e o potencial de rendimento da lavoura.
Para evitar que o florescimento ocorra justamente nos períodos de maior probabilidade de ocorrência de deficiência hídrica, muitos produtores têm antecipado a semeadura, com algumas lavouras semeadas ainda no mês de julho. Segundo a pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, Jane Machado, a prática se justifica em duas ocasiões: quando há risco iminente de déficit hídrico, principalmente com o florescimento em dezembro e o enchimento de grãos em janeiro e fevereiro, que são as fases mais críticas da cultura; e quando existe um bom planejamento para manejo do solo evitando que fique descoberto na entressafra. Em anos de previsão de chuvas na primavera-verão, a semeadura antecipada pode não expressar o potencial de rendimento de grãos que os híbridos poderiam atingir. “A temperatura noturna abaixo dos 15ºC reduz o desenvolvimento do milho, da mesma forma que a radiação solar também é menor, podendo alongar o ciclo da cultivar. Assim, o florescimento mais cedo nem sempre vai resultar em secagem mais cedo. Ainda, para tirar o milho cedo da lavoura, o produtor tem optado por cultivares superprecoces, que nem sempre são as mais produtivas”, esclarece a pesquisadora. A antecipação de semeadura também pode expor a cultura ao risco de geadas, que podem prejudicar o crescimento e até mesmo causar a perda da lavoura. A situação foi verificada nesta safra que iniciou com geadas no mês de setembro, comprometendo lavouras semeadas mais cedo.
Atualmente, existem 479 cultivares de milho no mercado, onde 263 são convencionais e 216 são transgênicas. No RS, cerca de 80% dos cultivos são com milho transgênico.
As cultivares de milho indicadas para o RS podem apresentar ciclo superprecoce, precoce ou normal. A maior diferença de ciclo entre elas ocorre no período da emergência ao florescimento e da maturação fisiológica à colheita. Para a semeadura na primavera podem ser utilizadas cultivares com ciclo precoce que vão garantir cobertura do solo com palha até o estabelecimento dos cultivos de inverno. “Cultivares muito precoces aproveitam menos tempo de luz e calor, que são fontes de nutrientes para enchimento de grãos”, alerta a pesquisadora Jane Machado, da Embrapa Milho e Sorgo, lembrando que quando o solo fica descoberto de janeiro (colheita do milho do cedo) até maio/junho (primeiras semeaduras de inverno) acaba mais suscetível às intempéries climáticas e, portanto, sujeito à degradação e ao desenvolvimento de plantas daninhas.
Enfim, a escolha da cultivar deve considerar fatores como época de semeadura, diferenças regionais de clima e solo, histórico da incidência de pragas e doenças, culturas antecessoras e sucessoras ao milho, e prognósticos climáticos para o período. “O que o produtor fez na lavoura no ano passado pode não funcionar neste ano. Não existe receita pronta para o estabelecimento de uma lavoura, é preciso planejar cada ano pensando em uma nova lavoura dentro de um sistema de produção a longo prazo”, conclui a pesquisadora.
Embrapa Trigo
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