Espécies de abelhas-sem-ferrão são identificadas em refúgio biológico no Paraná

Elas são nativas do Paraná, de outras regiões do Brasil e de países da América do Sul. Também conhecidas como meliponíneos e abelhas nativas, possuem papel fundamental na manutenção dos ecossistemas, pois fazem a polinização das plantas

12.03.2024 | 09:33 (UTC -3)
Manuela Bergamim, edição Revista Cultivar

Levantamento conjunto entre a Embrapa Florestas, a Itaipu Binacional, o Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e a Universidade Federal da Integração Latino-Americana identificou oito espécies de abelhas-sem-ferrão no Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), da Itaipu Binacional, sendo uma delas inédita no Brasil (Lestrimelitta chacoana).

Elas são nativas do Paraná, de outras regiões do Brasil e de países da América do Sul. Também conhecidas como meliponíneos e abelhas nativas, possuem papel fundamental na manutenção dos ecossistemas, pois fazem a polinização das plantas. Esses dados contribuem para a conservação da biodiversidade local, uma vez que apontam as espécies mais adaptadas à região, além de apoiar políticas públicas para a criação de abelhas nativas no estado.

O levantamento foi desenvolvido entre 2021 e 2023, dentro do projeto “Diagnóstico e conservação da fauna de Hymenoptera em áreas naturais da Itaipu Binacional, com ênfase em espécies da tribo Meliponini”. O supervisor da iniciativa pela Itaipu, Edson Zanlorensi, explica que as equipes estabeleceram protocolos de avaliação, identificação e registro de todas as espécies de abelhas inventariadas em campo na área do Refúgio.

“Amostras de todas as espécies encontradas nos ninhos naturais, nas colônias capturadas, nas iscas artificiais e nas colônias instaladas em caixas térmicas foram coletadas, organizadas e identificadas conforme a taxonomia”, diz.

Segundo Guilherme Schühli, pesquisador da Embrapa Florestas, responsável pelo projeto e sua composição, esse estudo pode permitir também que sejam feitas considerações sobre a área, e como repercutem as iniciativas de conservação para a região. “Além disso, o Paraná tem iniciativas pioneiras de políticas públicas para a criação de abelhas nativas e esse diagnóstico contribui com o direcionamento adequado dos esforços de conservação, em especial para o oeste do estado”, ressalta.

A analista ambiental do PTI Flavia Rodriguez destaca a sinergia entre as instituições envolvidas e lembra que esse tipo de iniciativa contribui com a consolidação da missão do Parque, que busca “transformar conhecimento e inovação em bem-estar social e, nesse caso, contribuir com o entendimento das espécies que compõem uma parte do território e seus serviços ecossistêmicos”.

Dados sobre o levantamento

Para dar início ao levantamento, conforme explica o pesquisador da Embrapa Florestas, foi necessário, primeiramente, realizar um diagnóstico das espécies de abelhas-sem-ferrão presentes. A área estudada compreende cerca de 2 hectares, e é onde se encontra a Itaipu Binacional e o Refúgio Biológico Bela Vista. Essa região, localizada no oeste do Paraná, apresenta vegetações naturais e áreas de intervenção humana, como, por exemplo, de reflorestamento implantadas pela Embrapa Florestas, há 30 anos, onde também foram amostrados meliponíneos.

“Para a amostragem, foram desenhadas linhas, chamadas de transectos, onde coletamos insetos, em todas as estações do ano, buscando compreender todas as formações vegetais presentes na área de Itaipu e do RBV. Para garantir que estávamos abrangendo toda a diversidade de abelhas, houve coletas também fora dos transectos, quando se verificavam movimentos dos insetos, plantas em floração ou até mesmo relatos de funcionários sobre a presença delas”, conta Schühli. Redes de mão e iscas-ninho contendo uma mistura de cera de abelhas como atrativo foram usadas para atrair e capturar as abelhas na área desenhada da amostragem.

Além das coletas, os pesquisadores buscaram registros sobre abelhas-sem-ferrão em fontes bibliográficas internacionais e em coleções de insetos. “Fizemos um levantamento do histórico das abelhas que já foram coletadas na região, em outras iniciativas. No geral, coleções biológicas fazem o tombamento (registro de exemplares) de informações, o que possibilita verificar o que foi coletado de fato e que foi identificado por um especialista”, explica.

“O cuidado no desenho do protocolo levou a um levantamento amplo das espécies de abelhas na região oeste do Paraná, ainda pouco estudada, diferentemente da região metropolitana de Curitiba, que é referência no estudo das abelhas-sem-ferrão”, complementa.

Resultados do trabalho

Com esse trabalho de pesquisa, duas coleções de abelhas-sem-ferrão foram formadas. A coleção viva, com os insetos criados em caixas racionais, está localizada no Refúgio Biológico Bela Vista. Já a coleção de referência, com amostras do que foi coletado e identificado, contendo as abelhas conservadas, está armazenada na coleção entomológica Danúncia Urban, da Unila, situada dentro do Parque Tecnológico de Itaipu.

O professor pesquisador da Unila Fernando Zanella ressalta que a pesquisa viabiliza o inventário da diversidade de abelhas-sem-ferrão e sua distribuição no espaço do RBV, possibilitando reconhecer o valor da área como abrigo para essas abelhas. “O esforço de amostragem, especialmente de ninhos, permitiu ampliar o plantel do meliponário de Itaipu, que tem por finalidade a educação ambiental e o turismo, e serve de referência para a amostragem em outras áreas da região”, comenta Zanella.

Outro aspecto importante destacado pelo pesquisador da Embrapa Florestas é a possibilidade de estudos moleculares futuros. “Essa pesquisa é uma fotografia muito boa, para depois verificarmos a progressão das abelhas-sem-ferrão na região. Além disso, as abelhas depositadas na coleção contêm outras informações biológicas importantes, como os grãos de pólen que carregam no corpo quando capturadas. Isso fica registrado, possibilitando o levantamento de quais árvores oferecem esse alimento, e de onde se pode estimar o número de indivíduos naquele período”, explica Schühli. Isso é possível porque parte dos animais fica conservada em coleção úmida, em álcool 70%, o que permite a realização de futuras análises moleculares, com extração de DNA das abelhas.

Espécies de abelhas identificadas

  • Abelha Limão (Lestrimelitta chacoana - registrada pela primeira vez no Brasil)
  • Arapuá (Trigona spinipes)
  • Borá (Tetragona clavipes)
  • Canudo (Scaptotrigona depilis)
  • Guiruçu (Schwarziana quadripunctata)
  • Jataí (Tetragonisca fiebrigi)
  • Mirim Droryana (Plebia droryana)
  • Mirim Nigriceps (Plebeia nigriceps)

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