ESALQ: Roberto Rodrigues ministrou palestra

22.04.2010 | 20:59 (UTC -3)

Uma disciplina inédita e pioneira entre os 150 cursos de Engenharia Agronômica no País, tem permeado as primeiras aulas dos alunos que ingressam no curso de Ciências Econômicas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ).

Criada em 2008, pelo PET - Programa de Educação Tutorial em Gerenciamento e Administração de Empresa Agrícola, em convênio com a Secretaria de Educação Superior (Sesu) do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e Pró-reitoria de Graduação da USP, a disciplina Introdução à Administração que reúne características de administração científica e humanista, agregou atividades extra-curriculares.

“Nós sentimos ao longo do tempo que o aluno ingressante em Engenharia Agronômica começa aprendendo fundamentos muito fortes da escola de administração científica como Cálculo, Química, Genética, Física e Zoologia, porém não existia nada no primeiro semestre que desse a ele uma visão na área de gestão e administração”, comenta Evaristo Marzabal Neves, do departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) e tutor do PET.

Assim, como complemento à disciplina, o grupo idealizou ciclos de palestras voltados à gestão e administração da natureza e do ambiente social; da informação e da comunicação; e de recursos humanos. Vários palestrantes, tanto da Escola quanto profissionais ligados a essas áreas, já participaram desse ciclo que, por escolha conjunta ficou batizado como “Nos embalos de segunda-feira à noite”, carregando o ‘sobrenome’ de “Balada dos amigos fanáticos por administração”.

No princípio, o deputado federal Antonio Carlos de Mendes Thame proferiu palestra sobre aquecimento global, abrindo o ciclo de palestras de 2008. Neste ano, para abrir o ciclo de cinco ou seis palestras que são ministradas durante o primeiro semestre de cada ano, o convidado foi o ex-Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, hoje coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e da e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp palestra, que falou sobre “Tendências e perspectivas profissionais”, no último dia 19, às 19h30, no Anfiteatro do Pavilhão de Engenharia.

Em linhas gerais, Rodrigues mostrou todas as potencialidades do agronegócio, desde o produtor, o consumidor, até o mercado. Ele frisou que já existem políticas definidas que levam à sustentabilidade sócio-econômica-ambiental, ao mesmo tempo em que sinalizou que a falta de governança provocam entraves. Os indicativos fornecidos por ele sobre o ambiente das ciências agrárias, sociais aplicadas e ambientais projetaram como será o mercado de trabalho desses alunos daqui a 5 anos e, conseqüentemente, suas tendências e perspectivas.

“Tentei demonstrar, fundamentalmente, que as grandes organizações que regem a governança planetária estão perdendo um pouco de eficiência protagônica nos processos de desenvolvimento porque os países estão cada vez mais isolados. Há 20 anos, não tínhamos celular, fax, Internet e a comunicação era muito mais coletiva”. Hoje, continua o palestrante, “com todos esses meios de comunicação, as pessoas se isolaram mais, ficaram mais individualistas e isso se transmite para os governantes de todos os países do mundo, o que acaba, de alguma forma, percolando para as grandes organizações multilaterais”.

Rodrigues lamentou a perda de governança e de visão estratégica das coisas da terra. “É nela que as gerações futuras terão que viver. A perda de governança acaba dando origem a instituições nem sempre ligadas a áreas governamentais, às ONGs e academias que se preocupam em cunhar uma questão central para o planeta que é a questão da sustentabilidade envolvendo as três vertes: econômico, social e ambiental. Com isso, quero demonstrar que é preciso criar um processo de desenvolvimento tecnológico para o País onde possamos competir a longo prazo”.

O palestrante esteve, em dezembro, num congresso que a FAO realizou em Roma. De lá, trouxe índices que demonstram porque devemos competir à longo prazo. “A FAO apontou que com o crescimento da população e da renda nos próximos anos, a demanda por alimentos crescerá 70% e a população atingirá 3 bilhões de pessoas a mais. Assim saltaremos de 6 bilhões para 9 milhões em 2050, o que significa que teremos 50% a mais de gente e uma demanda 70% maior por alimentos. Isso porque a riqueza aumentou também e a própria FAO ao fazer uma análise prospectiva de quem é que vai suprir esses alimentos para o mundo imagina duas coisas: a primeira é que 80% desse crescimento virá de aumento de produtividade, tecnologias modernas, outros 20% virão de terras novas, particularmente pastos que se transformarão em áreas de cultivo alimentar”.

“Essa é a primeira conclusão da FAO, continua Rodrigues, e a segunda é que só existem duas áreas do mundo nas quais serão possíveis a utilização da terra – a África Subssariana e a América do Sul, só que na África Subssariana ainda existe regime tribal, não há uma definição sequer sobre modelos de desenvolvimento articulado, integrado, democracia consolidada, uma segurança institucional jurídica. Por outro lado, não há dinheiro para tecnologia, há um vácuo de todas as coisas que nos coloca muito a frente da Subssariana. A região do planeta que tem uma resposta pronta pra essa temática toda é a América do Sul e nela, nenhum país possui tecnologia tropical e disponibilidade de terra como nós temos e, sobretudo, um agricultor preparado tecnicamente. Então nós temos condições de responder às demandas globais num futuro de médio a longo prazo, de tal forma que a humanidade será abastecida por alimentos, fibras, energia. Nós temos uma condição extraordinária de conquistar o mercado e servir a humanidade. Ganhar dinheiro gerando riqueza, emprego e renda para o nosso país honestamente, corretamente. No entanto, falta-nos uma estratégia: isso se soma com a falta de governança global e aí eu fecho o círculo do raciocínio – não tem governança global, tem uma demanda muito clara mas nós não temos estratégia para atender essa demanda e compete aos profissionais de Ciências Agrárias, o desenho da estratégia. Os pontos fundamentais consistem numa política de renda, estrutura logística, uma política de tecnologia, uma política de comércio e uma reforma institucional. Com esses cinco temas nós estaremos prontos para enfrentar o mundo inteiro nos próximos cem anos”, finalizou Rodrigues.

Alicia Nascimento Aguiar

Esalq

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